Cerca de 500 arrendamentos da administração Bush de petróleo e gás no Ártico foram reiniciados nesta semana pela administração Obama. Conhecido como Arrendamento Chukchi 193, os vários arrendamentos foram suspensos no tribunal após grupos ambientais e indígenas os terem processado, alegando uma falta significante de informação básica sobre o ecossistema do Mar de Chukchi.
A administração Obama diz agora que muitas lacunas sobre o ecossistema não precisam ser preenchidas, mas os indígenas do Ártico e os grupos ambientais discordam.
“A decisão de confirmar a venda dos arrendamentos – em vez de exigir que essa importante informação científica seja recolhida e que os métodos comprovados de limpeza do derramamento de petróleo no Ártico sejam desenvolvidos antes da abertura do Mar de Chukchi para as companhias de petróleo e gás – mostra que a administração Obama recuou em seu compromisso declarado de tomar decisões ‘baseadas em ciência prudente e no interesse público, e não em interesses especiais’”, registrou uma declaração das 16 ONGs e comunidades.
Críticos da perfuração no Ártico argumentam que dadas as condições meteorológicas extremas, as águas geladas, e a distância dos poços de petróleo, atualmente seria impossível limpar um vazamento de petróleo adequadamente. Além disso, esforços de limpeza teriam quase que certamente parar durante o longo inverno ártico.
Ainda assim, a alemã Royal Shell, que comprou uma série de arrendamentos e seria a primeira a perfurar, diz que está confiante em seus planos. “Acreditamos que o Plano Chukchi que submetemos em maio deste ano é tecnicamente e cientificamente prudente, e estamos ansiosos para explorar essa parte crítica do Alaska em 2012”, afirmou Curtis Smith, da Shell Alaska.
Em agosto, a Shell teve o maior vazamento de petróleo do Reino Unido em uma década, e neste ano a gigante do petróleo também aceitou a responsabilidade por dois vazamentos massivos de petróleo na Nigéria em 2008, totalizando 11 milhões de galões de petróleo bruto. Um relatório minucioso do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) encontrou uma poluição generalizada e devastadora atingindo o povo e o ecossistema nigerianos.
Caroline Cannon, chefe da vila de Point Hope, declarou: “[Com essa decisão] o presidente Obama diz ao povo Inupiat da costa ártica do Alaska que nossa cultura é descartável. Porque sem informação adequada sobre as formas de limpar um vazamento de petróleo neste ambiente coberto de gelo, a perfuração de petróleo em nossas águas árticas significará um desastre para a nossa sobrevivência como povo”.
A Shell recentemente recebeu uma autorização da administração Obama para perfurar no Mar Ártico de Beaufort no próximo ano, embora grupos ambientalistas estejam lutando contra isso no tribunal.
Ambientalistas têm ficado cada vez mais frustrados com a administração Obama após uma série de decisões que apoiaram a grande indústria em detrimento das proteções ambientais, incluindo a derrubada de novos padrões de ar limpo e do estabelecimento de uma relação supostamente acolhedora com a indústria canadense de areias de alcatrão a respeito de uma decisão para permitir que um novo oleoduto cruze os EUA.
Novas regiões do Ártico estão se abrindo para interesses industriais como os do petróleo e do gás, já que as mudanças climáticas estão derretendo o gelo marinho de verão da região ainda mais rápido do que o esperado.
Muitos ambientalistas avisam que o derretimento do gelo deve ser visto como uma mensagem indiscutível para lidar com a dependência global em combustíveis fósseis, e não como uma oportunidade para queimar mais, agravando o aquecimento global.
(Por Jeremy Hance, com tradução de Jéssica Lipinski, Mongabay* / Instituto CarbonoBrasil, 06/10/2011)