Um estudo de economistas e estatísticos, publicado na Suíça neste verão, dá a conhecer as interligações entre as multinacionais mundiais. E revela que um pequeno grupo de atores econômicos – sociedades financeiras ou grupos industriais – domina a grande maioria do capital de dezenas de milhares de empresas no mundo.
O seu estudo, na fronteira da economia, da finança, das matemáticas e da estatística, é arrepiante. Três jovens investigadores do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique [1] examinaram as interações financeiras entre multinacionais do mundo inteiro.
O seu trabalho - “The network of global corporate control” (“a rede de controle global das transnacionais”) - examina um painel de 43 mil empresas transnacionais (“transnacional corporations”) selecionadas na lista da OCDE.
Eles dão a conhecer as interligações financeiras complexas entre estas “entidades” econômicas: parte do capital detido, inclusive nas filiais ou nas holdings, participação cruzada, participação indirecta no capital...
Resultado: 80% do valor do conjunto das 43 mil multinacionais estudadas é controlado por 737 “entidades”: bancos, companhias de seguros ou grandes grupos industriais. O monopólio da posse capital não fica por aí. “Por uma rede complexa de participações”, 147 multinacionais, controlando-se entre si, possuem 40% do valor econômico e financeiro de todas as multinacionais do mundo inteiro.
Uma super entidade de 50 grandes detentores de capitais
Por fim, neste grupo de 147 multinacionais, 50 grandes detentores de capital formam o que os autores chamam uma “super entidade”. Nela encontram-se principalmente bancos: o britânico Barclays à cabeça, assim como as “stars” de Wall Street (JP Morgan, Merrill Lynch, Goldman Sachs, Morgan Stanley...).
Mas também seguradoras e grupos bancários franceses: Axa, Natixis, Société générale, o grupo Banque populaire-Caisse d'épargne ou BNP-Paribas. Os principais clientes dos hedge funds e outras carteiras de investimentos geridos por estas instituições são por conseguinte, mecanicamente, os donos do mundo.
Esta concentração levanta questões sérias. Para os autores, “uma rede financeira densamente ligada torna-se muito sensível ao risco sistêmico”. Alguns recuam perante esta “super entidade”, e é o mundo que treme, como o provou a crise do subprime.
Por outro lado, os autores levantam o problema das graves consequências decorrentes de tal concentração. Que um punhado de fundos de investimento e de detentores de capital, situados no coração destas interligações, decidam, por via das assembleias gerais de acionistas ou pela sua presença nos conselhos de administração, impor reestruturações nas empresas que eles controlam... e os efeitos poderão ser devastadores.
Por fim, que influência poderão exercer sobre os Estados e as políticas públicas se adotarem uma estratégia comum? A resposta encontra-se provavelmente nos actuais planos de austeridade.
O estudo em inglês pode ser descarregado aqui.
(Por Ivan du Roy, com tradução de Carlos Santos, Basta! / Esquerda.net / Revista Fórum, 26/09/2011)
[1] O italiano Stefano Battiston, que passou pelo laboratório de física estatística da École normale supérieure, o suíço James B. Glattfelder, especialista em redes complexas, e a economista italiana Stefania Vitali.