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eucalipto passivos da silvicultura passivos da siderurgia
2011-10-04 | Rodrigo

Destruição do solo, retração da produção de alimentos e trabalho precário são os efeitos do monocultivo nessa região do Maranhão

Estima-se que no Brasil há 6 milhões de hectares plantados de eucaliptos e a projeção feita pelo Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) é que em 2020 estejam plantados 9 milhões de hectares. Segundo o MAPA, isso representa o plantio de 300 mil hectares de novas áreas por ano.

Toda essa demanda por eucalipto no Brasil seria, sobretudo, para atender os polos guseiros (produtores de ferro-gusa), como os de Açailândia (MA) e Marabá (PA) por carvão vegetal. Além disso, conforme o MAPA, pela capacidade produtiva esses polos, teria a necessidade de mais 1 milhão de hectares com eucalipto para a produção de ferro-gusa e celulose.

Para o professor do Departamento de Sociologia e Antropologia da UniversidadeFederal do Maranhão (UFMA), Marcelo Sampaio Carneiro, esse crescimento da plantação do monocultivo do eucalipto na região ganha força a partir da segunda metade dos anos de 1990. “Tivemos o boom dos investimentos feitos pelas empresas guseiras e agora temos a implantação da unidade do grupo Suzano”, afirma.

Como tem sido prioridade governamental ao longo dos últimos 20 anos, esse setor tem recebido recursos públicos. “Os empreendimentos vêm contando com recursos do BNDES, como é caso da antiga empresa Celmar e agora da Suzano. Além de recursos de outros agentes financeiros”, alerta.

No entanto, os dados sobre a plantação de eucalipto na região ainda são imprecisos e desencontrados, principalmente pelos órgãos competentes ou autoridades locais. Exemplo disso é a resposta bizarra do Secretário Municipal de Meio Ambiente de Açailândia, Benedito Galvão, que afirma: “eu não tenho dúvida que a plantação de eucalipto já ultrapassou a plantação de alimentos no município”.

E acrescenta: “meu caro, outro dia eu percorri 112 km para ir a uma cidade vizinha e foi todo o percurso com plantação de eucalipto dos dois lados, não tem jeito”.

O vice prefeito de Açailândia, Antonio Erismar (PT-MA), segue o mesmo raciocínio do secretário. “O que estamos vendo é que antes onde se plantava o arroz, o feijão, o alimento, hoje foi tomado pelo eucalipto, está difícil”.

O mesmo raciocínio é feito pelo senhor Willian Pereira de Melo, representante da associação de moradores do Piquiá de Baixo. “Antes 70% viviam da agricultura no bairro, mas, plantar onde o eucalipto já tomou todo o espaço de nosso plantio? Para o nosso povo sobrou o serviço braçal pesado e o salário de miséria nas siderúrgicas”, constata.

Piquiá de Baixo é um bairro de Açailândia onde moram 300 famílias, das quais 65,2% das pessoas sofrem com problemas respiratórios em função das atividades das siderúrgicas e carvoarias, conforme denunciou a reportagem do Brasil de Fato (Em Açailândia, moradores padecem com mineradoras).

Conforme estudo do professor Marcelo Sampaio Carneiro, “os dois agentes econômicos do agronegócio - a pecuária e o eucalipto - na cidade vizinha de Açailândia, Imperatriz, se expandiram de tal forma causando a retração da principal atividade econômica da agricultura familiar na região: a lavoura temporária”.

Efeitos danosos
No assentamento Califórnia, comunidade de 268 famílias organizado pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), cercado por plantações de eucaliptos, as terras ainda não foram tomadas pelas siderúrgicas ou pela Vale. Mas, segundo foi constatado pela Federação Internacional dos Direitos Humanos (FIDH), além do problema da poluição atmosférica, há queixa dos assentados em relação ao veneno utilizado no monocultivo.

O vento traz parte do volume de pesticidas borrifados por tratores. “O solo já não é mais propício para nossa colheita, pelos efeitos da plantação do eucalipto”, reclama a assentada Joana Pereira da Silva.

O eucalipto é um dos vegetais que mais consome água, entre 10 e 20 mil mililitros/ano.O cientista capixaba Augusto Ruschi, professor titular de Botânica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), explica que não encontrada quantidade suficientemente de água no solo, depositada geralmente pelas chuvas ou mesmo infiltração de cursos d’água próximos, o vegetal aprofunda a cada dia suas raízes para o encontro de águas.

“Com o passar dos anos, as raízes vão penetrar no lençol freático para a busca da água. Após esta penetração, depois de absorvida toda a água existente no lençol, acaba por esvaziar a reserva líquida da região”, observa Ruschi.

Assim, o solo estaria fadado a sua não mais recuperação pela lógica lucrativa das empresas, “pois as árvores tendem a morrer e o local se transformar num deserto. Para voltar ao antigo estágio terá que ser gasta uma quantia exorbitante, muito maior que a obtida em seus lucros na produção de celulose. É melhor dizer: o solo será irrecuperável”, conclui o professor.

(Por Marcio Zonta, Brasil de Fato, 03/10/2011)


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