Relatório do Ecosystem Marketplace aponta que projetos de carbono florestal comercializaram em 2010 US$ 178 milhões, o equivalente a cerca de 30 milhões de toneladas de carbono equivalente, mas ainda há um longo caminho pela frente.
Enquanto as discussões globais sobre o futuro do Protocolo de Quioto continuam estacionadas, outras opções parecem surgir como uma luz no fim do túnel para a conservação das florestas. Na última semana, a organização Forest Trends lançou um relatório que revela que o mercado de carbono florestal bateu recordes no ano passado, chegando a comercializar US$ 178 milhões.
O documento, intitulado State of the Forest Carbon Markets 2011: From Canopy to Currency (Estado dos mercados de carbono florestal 2011: da cobertura florestal à moeda corrente) e publicado pelo projeto Ecosystem Marketplace, da organização Forest Trends, monitora, relata e analisa as tendências das transações globais de reduções de emissões geradas por projetos de carbono florestal.
Segundo Ellysar Baroudy, que administra o Fundo BioCarbon do Banco Mundial, “essa fonte excelente de informação sobre as transações de mercado da esfera florestal é uma parte vital da nossa visão de longo prazo para apoiar projetos de uso da terra a reduzir emissões de gases do efeito estufa e combater as mudanças climáticas de uma forma ambiental e socialmente responsável”.
“O mercado de carbono florestal está ganhando força e é importante parar uma vez por ano, fazer um balanço das realizações atuais, bem como dos desafios, e usar esses dados para se preparar para o futuro”, acrescentou.
A análise mostra que o ano de 2010 gerou recordes para os mercados de carbono florestal, recordes que já haviam sido atingidos em 2008 e 2009. De acordo com o relatório, no último ano, foram contratadas 30,1 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (MtCO2e) nos mercados de carbono florestal primários e secundários, e essas transações chegaram a um valor de US$ 178 milhões.
“Contratos para compensações de carbono florestal mais do que dobraram nos últimos dois anos, provavelmente devido às discussões políticas internacionais, e ao aumento da preocupação com o papel essencial que florestas têm no sequestro de carbono”, explicou Katherine Hamilton, diretora do Ecosystem Marketplace e autora do relatório, em um comunicado à imprensa.
A extensão histórica dos mercados de carbono florestal subiu para 75 MtCO2e, avaliada em cerca de US$ 432 milhões, e os projetos neste setor atingiram mais de 7,9 milhões de hectares de florestas em 49 países do mundo. O preço médio das compensações entre os mercados primários de carbono florestal aumentaram de US$ 3,8/tCO2e em 2008 para US$ 4,5/tCO2e em 2009, chegando a US$ 5,5/tCO2 em 2010.
Além destas informações, o documento indica que o crescimento do mercado de carbono florestal em 2010 foi alavancado por um grande aumento no número de projetos que protegem florestas ameaçadas, e também na quantidade de projetos para promover o manejo florestal.
Os projetos sob o programa de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal (REDD) foram os que mais contribuíram para este crescimento, fornecendo 19,5 de um total de 29 MtCO2e, o equivalente a 70% do total contratado no mercado primário.
Cresceu ainda o fluxo de desenvolvedores, investidores e intermediários de projetos do setor privado. Nos anos anteriores, ao contrário, a maioria dos projetos era desenvolvida por organizações de conservação sem fins lucrativos.
“O cenário que surge de uma análise mais profunda da tendência das toneladas contratadas em 2009 e 2010 é fundamentalmente a de um quadro pequeno – mas crescente – de compradores prospectivos e investidores que fazem grandes apostas no futuro dos mercados de carbono florestal”, declara o relatório.
“O influxo do investimento do setor privado é uma indicação positiva de que algumas das maiores firmas financeiras têm confiança – ainda que apoiada por um estágio inicial de risco de mercado – de que os projetos de carbono florestal terão um papel significativo no futuro dos mercados de carbono e na redução das emissões de gases do efeito estufa”, concordou Steve Baczko, diretor de comercialização para o Ecosystem Restoration Associates Inc. (ERA).
Mas o documento aponta também que o número de projetos para desenvolver o plantio de árvores diminuiu. “Os únicos obstáculos para financiar e comercializar projetos de florestamento e/ou reflorestamento continuam a persistir e reprimir a habilidade dos mercados de carbono de incentivar uma das mais antigas estratégias para melhorar e restaurar a saúde ambiental – plantar árvores”, afirma a análise do Ecosystem Marketplace.
No balanço geral, o relatório admite que apesar dos bons indicadores, o mercado de carbono florestal ainda não é seguro.“Enquanto o mercado se fixou o suficiente para atrair novos desenvolvedores e investidores para participar, muitos observadores ainda se mantêm cautelosos em meio às incertezas significativas”.
“Apesar da crescente confiança acerca de muitas políticas e dos mercados que surgiram, a forma, o tamanho e o alcance futuros do mercado global de carbono florestal se mantêm muito incertos”.
David Diaz, coautor do documento, confirmou essa visão de incerteza, e finalizou dizendo que ainda há um longo caminho a ser trilhado. “Esses mercados têm mostrado grandes inovações e crescimento, mas ainda temos um longo caminho para canalizar uma quantidade suficiente de fundos para controlar a perda florestal global, que é uma fonte importante de emissões de gases do efeito estufa”.
(Por Jéssica Lipinski, Instituto CarbonoBrasil, com informações de agências internacionais, 03/10/2011)