Combustível produzido a partir de celulose encontrada no bagaço e na palha da cana pode estar disponível em 2012. Embrapa estima que há potencial para produzir entre 30% e 40% mais etanol do bagaço da cana sem expandir área
Até há pouco tempo visto como produto do futuro, o etanol de segunda geração está mais perto de se tornar realidade. Uma das tecnologias estudadas pode estar disponível já a partir de 2012. O etanol de segunda geração é o combustível produzido a partir de celulose, que pode ser encontrada no bagaço e na palha da cana, entre outros resíduos agrícolas.
Apesar de os subprodutos do processamento da cana hoje serem usados para cogeração de energia elétrica, essa não é a forma mais eficiente de aproveitar a energia contida nesses resíduos. A cana é a matéria-prima mais eficiente para produzir etanol. Ainda assim, apenas um terço de seu potencial energético é aproveitado.
Com o uso dos subprodutos, seria possível dobrar a produção do combustível em uma mesma área agrícola, segundo Alfred Szwarc, consultor da Unica (União da Indústria da Cana-de-açúcar).
José Manuel Cabral, da Embrapa Agroenergia, tem previsão mais conservadora. Diz que há potencial para produzir entre 30% e 40% mais etanol a partir do bagaço da cana, sem expansão de área.
Não há consenso em torno dos números, mas otimistas e conservadores concordam que o potencial é grande. Por isso, há anos teve início uma corrida mundial no campo das pesquisas para a obtenção de uma fórmula eficiente e viável economicamente para a produção do etanol de segunda geração.
Enzimas
No Brasil, o foco das pesquisas é a cana-de-açúcar. E um dos processos estudados, o de hidrólis e enzimática, já se aproxima da viabilidade econômica. Em linhas gerais, o processo consiste em desestruturar o tecido vegetal e adicionar enzimas que transformam a celulose em açúcares usados para produzir o etanol.
A Novozymes, empresa dinamarquesa que investe no desenvolvimento dessas enzimas há 11 anos, promete apresentar ao mercado em 2012 uma nova enzima a custos viáveis. A companhia trabalha em parceria com o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), Petrobras e com a fabricante de equipamentos Dedini para colocar disponível todo o processo de produção -a usina que optar pela nova tecnologia precisará de adaptações.
Os dinamarqueses não são os únicos em busca de uma enzima economicamente viável. Pesquisadores da Embrapa, da Coppe/UFRJ e de outras universidades apoiadas pela Fapesp também se dedicam a pesquisas sobre o processo de hidrólise.
Já o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) testa produzir gás a partir da queima da biomassa, submetida a alta temperatura e baixo teor de oxigênio. O gás produzido a partir da combustão pode ser usado diretamente em turbinas ou transformado em combustíveis, como o etanol, após passar por um novo processo químico.
Especialista diz que técnica não resolve problema
Apesar de estudos apontarem que é possível até dobrar a produção de álcool em uma mesma área com o uso do bagaço e da palha da cana, especialistas dizem que o etanol de segunda geração não vai acabar com o deficit atual na oferta no Brasil. O problema deve continuar sendo a falta de competitividade do biocombustível em relação à gasolina, que tem os preços administrados no país pela Petrobras.
"Não é a primeira geração que vai resolver o problema. Não há dúvidas de que o etanol de segunda geração vai ser mais caro. E se o etanol, hoje, já está perdendo mercado para a gasolina por causa do preço, o que dirá do etanol de segunda geração", afirma Roberto Schaeffer, diretor de planejamento estratégico da Coppe/UFRJ.
Para Alfred Szwarc, consultor de emissões e tecnologia da Unica, o etanol de segunda geração pode ampliar a oferta do produto, mas apenas no futuro. "As novas tecnologias poderiam ajudar muito, mas não resolvem o problema atual. Não há unidades prontas comercialmente", diz. A expectativa é que as primeiras fábricas comecem a operar entre dois e quatro anos.
(Por Tatiana Freitas, Folha de S. Paulo, 04/10/2011)