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rio irrawaddy hidrelétricas na ásia política energética da china
2011-09-30 | Rodrigo

A enorme represa em construção neste canto remoto de Mianmar está gerando uma série de preocupações comuns a tais projetos: quanto aos riscos de mexer com a natureza, quanto aos danos à vida silvestre, quanto ao deslocamento da população.

Mas para muitas pessoas em Mianmar, antes conhecido como Burma, os temores em torno da represa de Myitsone vão muito mais fundo. Será a primeira represa no rio Irrawaddy, o rio mítico e icônico que deu vida a séculos da civilização birmanesa.

As discussões são apaixonadas. Um ministro do governo começou a chorar em uma conferência com a imprensa no mês passado, quando lhe perguntaram sobre a represa. As autoridades estão fortemente divididas sobre a sabedoria do projeto.

E em um país autoritário que começou a experimentar com controles mais relaxados sobre a mídia, a questão gerou a perspectiva de algo altamente incomum: uma revolta pública que poderá forçar o governo a reconsiderar.

A represa, que ainda precisa de anos para ser terminada, vai alagar uma área quatro vezes o tamanho de Manhattan.

Autoridades a favor do projeto dizem que será uma fonte sem preço de eletricidade e dinheiro, um marco no desenvolvimento do país. Os críticos dizem que causará danos irreparáveis ao Irrawaddy, fonte de vida de milhões de pessoas em Mianmar.

“As pessoas estão exigindo a suspensão do projeto”, disse U Ludu Sein Win, autor dissidente que é um dos críticos mais ferozes do projeto. “Se as demandas forem ignoradas e continuarem com o projeto, as pessoas vão defender o Irrawaddy com os meios que tiverem ao seu alcance”, escreveu no jornal popular de Yangon “Weekly Eleven”.

Alguns meses atrás, seria impensável ouvir críticas tão ferozes a um projeto do governo na mídia doméstica. Elas refletem tanto as paixões em torno da represa quanto a flexibilização de algumas restrições de expressão pelo novo governo de Mianmar, nominalmente civil, que assumiu em março após décadas de ditadura militar declarada.

As críticas se espalharam pelo Facebook, blogs e até jornais locais, sugerindo que o próprio governo pode estar dividido na questão. No mês passado, a mais famosa dissidente do país, Daw Aung San Suu Kyi, que recebeu o prêmio Nobel da Paz e tem sido cuidadosa com suas críticas ao governo desde que foi liberada da prisão domiciliar em novembro último, escreveu uma carta aberta pedindo a reavaliação do projeto.

A represa, que está sendo construída e financiada por uma empresa chinesa, também se tornou um para-raio de críticas sobre o poder da China e sua influência sobre Mianmar. No local da represa, trabalhadores chineses de capacete cor de laranja vêm cavando, explodindo e cimentando as margens do rio.

O local fica alguns poucos quilômetros a jusante do que é considerado o “nascimento” do Irrawaddy –a confluência de dois pequenos rios- um local de valor místico para o grupo étnico kachin que ocupa as montanhas do Norte de Mianmar. (Os kachin têm um exército substancial que combateu as tropas do governo nos últimos meses, apontando para a instabilidade da região.)

Os críticos da represa estão revoltados que uma decisão tão importante tenha sido feita sem consultar o público. Eles também se ressentem do papel da China, que planeja importar 90% da eletricidade que o projeto gerar, sob condições financeiras que não foram plenamente explicadas ao público.

“A China colonizou Mianmar sem dar um tiro e sugou a vida do povo birmanês com a ajuda do regime de Mianmar e seus capangas. Agora, também estão matando o rio Irrawaddy”, escreveu U Aung Din, defensor da democracia que hoje mora no exílio, nos EUA.

Em abril, ocorreram quatro pequenas explosões no campo dormitório dos trabalhadores chineses. Ninguém foi seriamente ferido. Mas talvez a maior preocupação seja que a represa vai degradar ainda mais um rio que teve um papel crucial na história de Mianmar.

O Irrawaddy nasce de águas glaciais da extremidade leste do Himalaia. Ao viajar para o Sul, leva nutrientes à região central árida de Mianmar e, por fim, se espalha pelo delta do Irrawaddy, uma região de campos de arroz tão fértil que alimentou grande parte do império britânico na Ásia. Como o Mekong e o Mississippi, o rio carrega enorme simbolismo.

“É o acidente geográfico mais significativo de nosso país”, escreveu Aung San Suu Kyi em sua carta. O Irrawaddy é “uma grande avenida natural, fonte prolífica de alimento, lar de flora e fauna aquática, patrocinador de modos tradicionais de vida, musa que inspirou inúmeras obras de prosa e verso.”

Pouco acostumado a tamanho dilúvio de críticas, o governo está na defensiva. O ministro da informação, U Kyaw Hsan, chorou quando questionado sobre o projeto em uma conferência com a imprensa em agosto.

“Amamos o Irrawaddy. Vamos proteger o Irrawaddy como qualquer outro cidadão faria”, disse Kyaw Hsan, que é general da reserva.

O membro do governo responsável pela represa, U Zaw Min, foi taxativo quando disse em uma reunião neste mês que a obra seria terminada. Mas sua forte defesa somente gerou mais tensões públicas.

A empresa estatal chinesa China Power Investment assinou o contrato em 2007 com o governo de Mianmar para construir sete represas no Norte de Mianmar, inclusive a de Myitsone.

A empresa contratou cientistas da China e de Mianmar para avaliar os efeitos ambientais da represa. O relatório, divulgado em 2009, pareceu questionar as próprias premissas da represa.

“Se Mianmar e a China estivessem de fato preocupados com questões ambientais e buscassem o desenvolvimento sustentável do país, não haveria a necessidade de uma represa tão grande”, concluiu o estudo.

O relatório sugere que se construam duas represas menores mais abaixo no rio. Ele adverte que o local de Myitsone fica “a menos de 100 quilômetros da falha de Sagaing, propensa a terremotos”.

Ele também prevê “perdas substanciais” nas populações de peixes e diz que mais tempo é necessário para se compreender como a vida silvestre na região será afetada.

O relatório também recomenda maiores estudos sobre os efeitos potenciais em outros habitantes da região: as pessoas. Milhares de pessoas já foram retiradas de seus campos de arroz e aldeias de pesca e reassentadas em casas pré-fabricadas. Elas receberam, entre outras compensações, televisores de 21 polegadas.

“Não podemos ganhar a vida em nossa nova localização”, disse Aung San Myint, pai de três que hoje garimpa os rios em busca de ouro. “Não tem nada lá para nós”.

(The New York Times / UOL, com tradução de Deborah Weinberg, 30/09/2011)


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