Pesquisa revela que 40% das multinacionais estão estudando dispensar fornecedores que não possuem ações para reduzir a liberação de gases do efeito estufa e que metade delas levam em conta as emissões agregadas antes de fechar uma parceria
Recentemente, o Greenpeace divulgou um relatório no qual acusa multinacionais como Adidas, Nike, Puma, Calvin Klein e Lacoste de utilizarem fornecedores chineses que poluem os rios com produtos químicos banidos na Europa e em outros lugares por serem tóxicos. Apesar das empresas se defenderem ou anunciarem que não trabalhariam mais com esses fornecedores, o estrago para a imagem das companhias foi grande.
Este é um dos novos cenários do mundo global dos negócios, onde a preocupação ambiental e climática vai além das ações diretas das empresas, buscando fiscalizar toda a cadeia de produção, incluindo fornecedores.
Assim, não surpreende os números apresentados por uma pesquisa com 100 multinacionais feita pelo Carbon Trust Advisory, que apontou que 40% delas pensa em substituir fornecedores antigos por empresas que apresentem uma melhor pegada de carbono. Assim, pelo menos 29% dos atuais fornecedores correm o risco de perder espaço se não realizarem ações de mitigação em breve.
Além disso, metade das corporações estão levando em conta o nível de emissão das possíveis parceiras antes de fechar um negócio e quase 58% delas devem pagar bônus para os fornecedores que sugerirem alterações na cadeia de produção que reduzam a pegada de carbono.
“As recompensas para as empresas que cortarem emissões nas suas cadeias de produção são várias, como redução de riscos, custos e aumento em eficiência e ganhos. Mas não é uma tarefa fácil e demanda comprometimento. Das companhias que já estão fazendo isso, apenas 43% possuem uma estratégia definida e 60% apresentam metas. Esses dois passos são cruciais para organizações planejarem e capitalizarem as oportunidades de crescimento verde nos próximos 12 meses”, afirmou Hugh Jones, diretor do Carbon Trust Advisory.
As emissões geradas pelos fornecedores no desenvolvimento dos produtos e serviços são responsáveis por boa parte da pegada de carbono empresarial. O relatório mostra que lidar com elas é o próximo passo lógico das multinacionais, uma vez que 93% das corporações afirmam já possuir ações para reduzir suas próprias emissões.
Mas das 100 entrevistadas, apenas 40% estão lidando com as emissões indiretas da cadeia de produção. O lado positivo é que 42% das empresas que não estão observando as emissões indiretas começarão a fazê-lo nos próximos 12 meses.
“Trabalhamos com cerca de 16700 fornecedores ao redor do mundo, gastando mais de US$ 18 bilhões por ano com eles. Garantir a qualidade ambiental desses parceiros nos permitirá passar um maior valor agregado de sustentabilidade para os nossos clientes”, afirmou Niall Dunne, diretor de sustentabilidade da BT.
Apesar da vontade demonstrada pelas companhias entrevistadas, ainda existem muitos obstáculos que prejudicam ações para diminuir as emissões dos fornecedores. Entre os mais citados aparece a dificuldade em demonstrar as vantagens econômicas (34%), o aumento de custos (32%) e problemas em forçar os fornecedores a agir (29%).
Para facilitar esse processo, o GHG Protocol, uma coalização liderada pelo World Resources Institute (WRI) e pelo World Business Council for Sustainable Development, deve divulgar em outubro dois novos padrões: o Corporate Value Chain (scope 3) Standard e o Product Lifecycle Standard.
Os padrões devem ajudar empresas a monitorar e reportar as emissões das suas cadeias de produção e do ciclo de vida dos produtos.
“Ao adotarem abordagens sistemáticas para lidar com as emissões de fornecedores, as companhias poderão estimular novas oportunidades de negócios e parcerias estratégicas. As empresas que tiverem conhecimento completo de suas emissões serão as que mais facilmente irão administrá-las e, assim, assumirão uma posição de vanguarda no mercado e se tonarão mais eficientes e competitivas”, resumiu Pankaj Bhatia, diretor do GHG Protocol.
(Por Fabiano Ávila, Instituto CarbonoBrasil, com informações da Carbon Trust Advisory, 26/09/2011)