No caso do petróleo, alta deve ser menor, de 43,1%. Alta de preços de combustíveis deve limitar crescimento do PIB mundial
Os preços do petróleo e do etanol no mundo devem registrar, até o final da década, altas de 43,1% e 125,9%, segundo estudo divulgado nesta quarta-feira (21) pela Ernst & Young e pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). No Brasil, no entanto, a previsão é que as altas médias sejam menores, alcançando 18,7% e 7% até 2020.
A elevação de preços, resultado do desequilíbrio entre o crescimento da demanda e incorporação de novas reservas, vai limitar o crescimento econômico mundial na década, até 2020. Segundo a pesquisa, a economia mundial vai deixar de crescer 0,52 ponto percentual ao ano por conta do aumento no preço dessas fontes de energia.
“O petróleo, no longo prazo, vai ter uma trajetória ascendente no preço, de 35% a 60% (no mundo) até 2020. A época do petróleo barato acabou”, afirma Fernando Blumenschein, integrante da FGV Projetos. “A principal variável que pode afetar o petróleo no longo prazo é o crescimento do PIB mundial. À medida que a economia mundial cresce, pode se esperar uma pressão sobre o preço do petróleo”, complementa.
Com relação ao etanol, Blumenschein destacou que a oferta não deve mudar muito, nesta década, ao passo que a demanda vai crescer. Sobre o gás natural, o especialista da FGV acredita que, até 2020, o Brasil deve se tornar autosuficiente. “O país, talvez, até se torne um exportador de gás natural”, acrescenta Blumenschein.
Gasolina pode chegar a R$ 3,53
De acordo com o estudo, em 2020, o preço médio do etanol vai ficar entre R$ 1,37 e R$ 2,03 por litro, representando desde uma queda de 13% a um aumento de 29% em relação ao seu valor atual.
“O cenário de deslocamento entre as cotações nacional e internacional tornará o mercado consumidor brasileiro cada vez menos interessante para o produtor local, que vai priorizar as exportações”, analisa Elizabeth Ramos, sócia para o setor de petróleo e gás da Ernst & Young.
“A política de subsídios à produção de etanol tem influência direta na produção brasileira, na medida em que vai definir a possibilidade de exportação, ou não, do produto”, acrescenta Blumenschein.
“O estudo mostra que o fato de a Petrobras exercer um controle sobre os preços da gasolina e do etanol praticados diretamente ao consumidor faz com que o Brasil usufrua de uma condição privilegiada em relação ao resto do mundo, no que diz respeito ao impacto do setor de combustível sobre o desempenho do PIB nacional e no controle de preços”, avalia Elizabeth.
No entanto, a pesquisa afirma que será necessária uma transição para um regime no qual os preços no Brasil acompanhem mais de perto o mercado internacional. Caso isso ocorra, em 2020, segundo o estudo, o preço médio da gasolina no Brasil pode alcançar R$ 3,53 por litro, um acréscimo de até 41% em relação ao valor cobrado atualmente.
Alta do barril de petróleo
A pesquisa mostra que, nesta década, a tendência é a eletrificação da frota de veículos, além do desenvolvimento de novas tecnologias de produção de biocombustíveis. Mas, apesar de o petróleo estar sendo substituído por combustíveis alternativos, como o etanol, a estrutura produtiva mundial não está preparada para atender ao crescimento da demanda.
O estudo afirma que “o impacto da introdução do chamado etanol de segunda geração só passará a ser sentido no final da década”. Exatamente por isso, segundo a pesquisa, a tendência é que o preço do petróleo suba: o preço médio real do barril de óleo equivalente (boe), no mundo, deve subir, até 2020, entre 99% e 154%, alcançando de US$ 292 a US$ 374.
Desafios
Segundo a pesquisa, existe uma deficiência na formação de engenheiros no Brasil. “Há um déficit de capital humano, o que não é novidade. A questão é que o pré-sal é uma fronteira tecnológica muito nova, e ainda em estudo, e são necessários engenheiros para isso”, afirma Elizabeth. “Vão vir profissionais estrangeiros para cá”, prevê Blumenschein. O estudo aponta que as universidades vão ter que formar mais engenheiros de petróleo, navais e de perfuração.
Outro ponto abordado pela pesquisa é a necessidade de se gerenciar de forma eficaz e sem desperdícios a atividade de exploração e produção de óleo. “Hoje, a média de custo diário de exploração de petróleo pode ir de US$ 250 mil a US$ 1 milhão, dependendo da localização do poço. Então, é desnecessário dizer a importância do gerenciamento do custo de uma empresa nesse ramo de atividade”, finaliza Elizabeth.
(Por Bernardo Tabak, G1, 21/09/2011)