Mesmo depois dos acidentes em Fukushima, no Japão, o governo faz uma aposta na expansão do programa nuclear brasileiro, prevendo "projetar e viabilizar" quatro usinas para a geração de energia atômica até 2015, mas não há menção, no plano plurianual, sobre a localização das usinas.
O documento fala ainda sobre uma reorganização institucional do setor, com a criação da Agência Reguladora Nuclear, além da formação de 164 profissionais voltados aos segmentos de pesquisa avançada, desenvolvimento tecnológico e indústria nuclear.
Governadores de pelo menos quatro Estados do Nordeste - Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe - vinham travando uma disputa de bastidores para receber duas das quatro usinas. As outras duas estavam previstas inicialmente para o Sudeste.
No entanto, as explosões em Fukushima congelaram as discussões e criaram incertezas sobre a continuidade dos planos, após a conclusão de Angra 3, programada para dezembro de 2015. Agora, o Plano Plurianual - PPA aparentemente dissipa as dúvidas sobre a disposição do governo de continuar apostando na geração de energia atômica como complemento à matriz.
Para resolver um dos problemas mais questionados pelos ambientalistas, o da destinação definitiva do lixo nuclear, o governo se compromete a "atingir 45% do cronograma físico de implantação" do depósito de rejeitos de baixa e média radioatividade, em 2015. Segundo a Eletronuclear, o início das obras está previsto para 2014 e a operação começará em 2018.
Há outras duas metas consideradas essenciais pelo setor. Uma é a construção do reator multipropósito brasileiro, que deverá estar com 50% das obras concluídas até 2015, para permitir a produção nacional de radiofármacos e "ampliar o acesso à medicina nuclear" no Sistema Único de Saúde (SUS).
Outra é terminar a construção de um reator experimental para a produção de energia elétrica, com tecnologia nacional e 11 megawatts de potência, que servirá como protótipo em terra do sistema de propulsão naval usado no futuro submarino nuclear, considerado estratégico pela Marinha. É o que os militares têm chamado de Labgene - sigla para Laboratório de Geração de Energia Nucleoelétrica.
Além da energia atômica, o governo mantém a aposta nos grandes empreendimentos hidrelétricos na Amazônia. A próxima ficha está na usina de São Luiz do Tapajós, no Pará, cujos estudos de viabilidade estão sendo feitos por um consórcio entre Camargo Corrêa, EDF e Eletronorte.
(Por Daniel Rittner e João Villaverde, Valor Econômico / IHU On-Line, 21/09/2011)