Representantes do setor empresarial afirmaram nesta quinta-feira que há preconceito contra o uso de agrotóxicos no País. Em reunião com a subcomissão especial que analisa o tema, associações de fabricantes relataram que há uma preocupação excessiva sobre os efeitos desses produtos e ressaltaram que o uso de químicos sustenta a produção de alimentos e garante a segurança alimentar do Brasil.
“Hoje trabalhamos com o conceito de remédio para as plantas, você precisa de um receituário agronômico e, se a soja começa a ter fungos, é preciso aplicar fungicida”, explicou Eduardo Daher, diretor-executivo da Associação Nacional de Defesa Vegetal e representante do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Defesa Agrícola (Sindag).
A mesma avaliação foi feita pelo representante da Associação Nacional de Defensivos (Aenda), Michael Haradom. Para ele, o próprio uso da palavra “agrotóxico” denota o preconceito brasileiro com o tema. Segundo ele, apenas no Brasil esses produtos são comparados com venenos e chamados de tóxicos, outros países usam termos como defensivo agrícola ou produtos fitossanitários.
Haradom disse que há uma avaliação de risco e que os produtos são usados com orientação, da mesma forma que os medicamentos humanos que podem matar.
Orgânicos
Em relação aos produtos orgânicos ou de pequenos produtores, Michael Haradom afirmou que eles ainda não são viáveis economicamente para sustentar a necessidade de alimentos do Brasil e do mundo. “É uma deturpação falar que o Brasil é o campeão em uso de tóxicos, porque a Anvisa identificou 308 mil intoxicações por medicamentos no último ano, e não queremos proibir os medicamentos”, disse.
Segundo ele, os defensivos estão em quarto lugar entre as causas de intoxicação, atrás de remédios, produtos de limpeza e animais peçonhentos.
O relator da subcomissão sobre o uso de agrotóxicos, deputado Padre João (PT-MG), explicou que os deputados estão ouvindo todos os participantes no setor, mas ressaltou que há mau uso dos produtos e que os pequenos agricultores não recebem orientação. Além disso, segundo o deputado, o Estado não consegue estar presente para dar assistência adequada. “Onde tem um agrônomo nos nossos municípios? Não temos nem técnicos, e precisamos rever como a indústria faz a capacitação e o controle”, avaliou.
Legislação rígida
Para o vice-presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina, Biotecnologia e suas Especialidades (Abifina), Tarciso Bonachela, o Brasil tem uma das legislações mais rígidas do mundo quanto à qualidade dos produtos utilizados como defensivos.
Ele lembrou que cada produto precisa de licenças da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do Ministério da Agricultura e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Ele informou que mais de 700 produtos aguardam registro atualmente, o que atrasa o uso de novas tecnologias.
Do ponto de vista da responsabilidade das empresas, Tarciso Bonachela explicou que o Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (Impev), criado pela indústria, já destinou adequadamente, desde 2002, 168,6 mil toneladas de embalagens vazias de defensivos agrícolas.
Criada pela Comissão de Seguridade Social e Família, a subcomissão estuda aumentar a segurança do uso desses produtos. Na próxima quinta-feira (22), os deputados vão discutir com especialistas os sistemas de pulverização de defensivos. O presidente da subcomissão, deputado Osmar Terra (PMDB-RS), ressaltou que os cuidados com a utilização de defensivos estão sendo estudados e que as sugestões podem estar prontas em até 40 dias.
(Por Marcello Larcher, com edição de Pierre Triboli, Agência Câmara, 15/09/2011)