País é dependente de usinas atômicas; tema deve pautar eleições em 2012 após acidente no Japão.
A explosão de um forno na central nuclear de Marcoule, na França, nesta segunda-feira, relança o debate sobre o uso da energia nuclear no país. Uma pessoa morreu e quatro ficaram feridas no acidente.
Com 58 reatores em atividade em 19 centrais, a França possui o segundo maior parque nuclear do mundo, responsável pela produção de mais de 80% da energia elétrica do país.
A explosão desta segunda-feira, cuja causa ainda não é conhecida, ocorreu em um forno utilizado para derreter resíduos radioativos metálicos com baixo nível de atividade, segundo a Agência de Segurança Nuclear da França.
O forno é operado pela empresa Socodei, filial da estatal de energia elétrica EDF. A secretária-nacional do Partido Verde pediu ao governo 'transparência sobre a situação e as consequências ambientais e sanitárias' do acidente ocorrido em Marcoule.
O Comissariado de Energia Atômica do país afirmou nesta tarde que não houve contaminação radioativa fora do prédio nem dos trabalhadores e declarou que o incidente "já terminou".
Lixo radioativo
A central, que possui diversas instalações, funciona sobretudo como um centro de tratamento e estocagem de lixo radioativo e desmantelamento de centrais nucleares. Em março passado, um outro acidente, classificado como de nível 2 (numa escala até 7) já havia ocorrido em Marcoule.
"Este novo incidente ressalta os problemas de controle do risco nuclear na França", afirma a federação de ONGs ambientais França Natureza Meio Ambiente, que reúne 3 mil associações.
"Isso demonstra mais uma vez que a França não aprendeu as lições de Fukushima", afirma Yannick Rosselet, da ONG Greenpeace, referindo-se à catástrofe ocorrida em março no Japão.
Acidentes
Boa parte do parque nuclear francês foi construída no final dos anos 1970 e nos anos 1980 e é considerada antiga, o que suscita polêmicas sobre os sistemas de segurança dessas instalações.
Em abril, militantes ecologistas chegaram a fazer greve de fome para pedir o fechamento da central nuclear de Fesseinhein, no leste, a mais antiga do país, em funcionamento desde 1978.
Segundo um estudo da Agência de Segurança Nuclear (ASN), o número de pequenos incidentes e anomalias nas centrais francesas dobrou nos últimos dez anos. A ASN informou que em 2010 ocorreram mais de mil incidentes, a grande maioria sem importância. Apenas três foram classificados como de nível 2, que não representa riscos à população.
Após a catástrofe de Fukushima, no Japão, em março passado, o primeiro-ministro francês, François Fillon, pediu a realização de uma auditoria das 19 centrais nucleares do país. Uma pesquisa divulgada em junho passado revelou que 62% dos franceses são favoráveis ao abandono progressivo da energia nuclear no país.
O assunto deverá ser um dos temas da eleição presidencial do próximo ano. Em um artigo no jornal Libération desta segunda-feira, Martine Aubry, secretária-geral do Partido Socialista e candidata às primárias do partido para a eleição presidencial, propõe 'uma saída progressiva, mas efetiva, da França' de seu programa nuclear.
(BBC / G1, 12/09/2011)