Em teleconferência do Departamento de Estado para jornalistas brasileiros, capitão Dan Daly diz que muitos socorristas tiveram doença
Em teleconferência para o Brasil, transmitida à imprensa no Consulado dos Estados Unidos no Rio, o bombeiro aposentado de Nova York Dan Daly afirmou que muitos bombeiros e voluntários que atuaram no socorro das vítimas do ataque terrorista do 11 de Setembro de 2001 têm câncer e outras doenças pulmonares, como fruto do trabalho.
Daly criticou o fato de o governo americano não reconhecer a relação entre a atuação e a doença. A teleconferência fez parte da homenagem do consulado às vítimas dos ataques.
“Quando chegamos, ainda havia gases saindo, muita fumaça. Disseram que só tinha poeira, mas que o ar era salubre. Depois soubemos que a atmosfera tinha amianto, mercúrio, todo tipo de compostos tóxicos. Muitos bombeiros ficaram doentes, tiveram câncer. Eu tive o que se chamou de ‘tosse do Marco Zero’. Dizem que o período de incubação desse câncer pode ser de dez anos. Um estudo que saiu mostra que um número enorme de pessoas com câncer e doenças pulmonares têm relação com o trabalho no Marco Zero”, afirmou Daly, referindo-se ao local onde ficavam as Torres Gêmeas do World Trade Center e lamentando que o governo não reconheça esse “elo” entre a doença e o trabalho no local.
O estudo a que Daly se refere foi publicado neste mês na revista médica britânica Lancet e revela que os bombeiros de Nova York que atuaram nos resgates correm um risco 19% maior de contrair câncer que colegas ausentes da ação. O trabalho incluiu cerca de 10 mil bombeiros da cidade, boa parte exposta à poeira cáustica e fumaça da queda das torres.
Bombeiro por 24 anos e um dos 100 condecorados pela cidade de Nova York com a “medalha da liberdade”, Daly é patrocinado pelo Departamento de Estado dos EUA para falar pelo mundo sobre o 11 de Setembro. Desde então, já falou em mais de 200 lugares.
As afirmações de Daly ecoam um movimento de membros do Congresso dos EUA e de socorristas que trabalharam na ocasião dos atentados. Eles exigem que o câncer seja incluído na lista de doenças vinculadas aos ataques e, portanto, passível de indenização.
Segundo a FealFood Foundation, grupo de apoio aos socorristas do 11 de Setembro, 345 bombeiros e 45 policiais morreram de câncer desde os atentados – número superior ao de 343 bombeiros e 23 policiais que perderam a vida no dia dos ataques.
Questionado por um jornalista sobre o apoio dado pelo governo dos EUA aos trabalhadores, o bombeiro aposentado afirmou que a resposta das autoridades do país existiu, mas “não foi suficiente”, principalmente para os voluntários e trabalhadores civis.
“Temos aconselhamento psicológico, há uma linha direta, no ‘Projeto Liberdade’, e temos plano de saúde para doenças crônicas. Mas os voluntários civis e metalúrgicos, que trabalhavam 12h por dia naquele local, não têm acesso a esses programas. O governo diz que não financiará porque não há um elo comprovado entre o trabalho lá e a doença. A responsabilidade do governo não foi suficiente, foi menos do que poderia ser”, afirmou.
O cônsul-geral dos EUA no Rio, Dennis Hearne, não comentou as afirmações de Daly.
Daly disse se lembrar intensamente do “cheiro de morte” do local dos atentados e a atmosfera deprimente do local de resgate. Ele também citou que as manifestações de apoio de nova-iorquinos e de pessoas de todo o mundo emocionaram e deram forças extras aos bombeiros e policiais que atuaram no socorro das vítimas.
(Por Raphael Gomide, iG, com informações de agências internacionais, 09/09/2011)