Para os cientistas especializados em furacões, o Irene, que avançou sobre a Costa Leste dos EUA no final de agosto, lançou uma desconfortável luz sobre a sua profissão. Eles admitem que, embora estejam aptos a indicarem a rota que um furacão seguirá, são menos eficientes em preverem a intensidade de uma tempestade.
O Centro Nacional de Furacões previu com precisão que o Irene atingiria a Carolina do Norte e então avançaria pela costa até Nova York. Mas os meteorologistas achavam que a tempestade ganharia força ao passar pelas Bahamas; ao invés disso, ela se enfraqueceu. Ao chegar à Carolina do Norte, dois dias depois, seus ventos eram cerca de 10% mais suaves do que o previsto.
"Com relação à intensidade, simplesmente não saímos da estaca zero", disse Frank Marks, diretor da divisão de pesquisa de furacões da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA), em Miami.
Prever a força de uma tempestade exige conhecer detalhes da sua estrutura - sua organização interna e seu movimento, o que afeta o ganho ou perda de energia - e ter um modelo informatizado preciso no qual inserir os dados.
Os cientistas costumam superestimar a intensidade das tempestades, o que pode motivar queixas sobre excessos nos preparativos, como ocorreu com o Irene. Mas também já aconteceu de eles subestimarem um furacão, como o Charley, em 2004.
Muita coisa depende dessas previsões, e por isso há três anos a divisão de Marks iniciou um programa, com duração de uma década, para melhorar a precisão dos prognósticos. Aviões P-3 equipados com radares Doppler reúnem dados para mapear a estrutura de uma tempestade em três dimensões - mas esses voos são apenas a parte mais visível da iniciativa.
Parte do trabalho envolve a construção e aperfeiçoamento dos modelos numéricos que simulam as tempestades, e a montagem do poder computacional necessário para executá-los. Marks reuniu um verdadeiro universo paralelo das previsões, usando um complexo computador no Colorado que executa modelos experimentais durante horas, com base nos dados aéreos e em outras fontes.
A pesquisa já conseguiu realizar algumas previsões sobre intensidade que, embora sem a precisão desejada, estiveram mais de acordo com a realidade. No caso do Irene, alguns modelos de fato mostraram que sua intensidade estava diminuindo. Mas outros não mostraram, e o centro preferiu ser conservador.
"Os meteorologistas não podem ir ao sabor do vento", disse Marks. "Eles querem manter uma mensagem consistente e direta. E preferem pecar pelo conservadorismo."
O radar Doppler aeroembarcado não é a única maneira de coletar dados. Os aviões da NOAA também lançam sensores, que transmitem por rádio medições de temperatura, pressão, umidade e velocidade do vento, e outros que fazem a leitura das correntes e da temperatura da água. A NOAA tem experimentado ainda equipar aviões teleguiados com sensores semelhantes, despachando-os para dentro das tempestades.
Mas as medições de radar são provavelmente as mais úteis, porque elas podem varrer a tempestade de alto a baixo. As dropsondas fornecem informações só de pontos específicos no trajeto da sua queda. O radar aeroembarcado revela a estrutura tridimensional de uma tempestade.
Marks disse que não consegue prever quando os prognósticos experimentais vão conquistar a confiança dos especialistas do Centro Nacional de Furacões. "Mas nossa orientação vai ficar melhor a cada ano." "Não podemos nos livrar dos furacões; o melhor a fazer é poder alertar melhor", afirmou.
(Por Henry Fountain, The New York Times / Folha de S. Paulo, 12/09/2011)