A Polícia Federal em Naviraí (388 km de Campo Grande) investiga o ataque a um grupo de índios guarani-caiuá, ocorrido no dia 23 de agosto, em um acampamento localizado a 25 quilômetros da Iguatemi, na região sul de Mato Grosso do Sul.
Segundo a Funai (Fundação Nacional do Índio) de Ponta Porã, pelo menos três indígenas tiveram ferimentos provocados por balas de borrachas usadas por homens que invadiram a área e ainda queimaram barracos e estoque de comida. O Ministério Público Federal classificou a ação como tentativa de genocídio.
Duas semanas antes do ataque, cerca de 50 índios guarani-caiuá entraram numa fazenda da região que faz parte de estudo antropológico da Funai, reivindicada como área indígena.
O grupo teria sido ameaçado e montou acampamento em estrada vicinal, perto da propriedade rural. Na noite de 23 de agosto, segundo relato dos índios feito ao Ministério Público, dois caminhões pararam no local e vários homens armados desceram da carroceria.
Os homens atiraram balas de borracha e queimaram os seis barracos recentemente montados pelos acampados. Alguns índios ficaram feridos na fuga pelo mato. Pelo menos três ficaram com hematomas provocados pelos tiros. No local, foram encontrados dezenas de cartuchos de munição calibre 12.
Em nota, o Ministério Público de Dourados, que atua na região, pede apuração do caso e diz que há indícios de formação de milícia armada. A Procuradoria trata o caso como tentativa de genocídio, já que foi cometida violência motivada por questões étnicas contra uma coletividade indígena.
O procurador Marco Antônio Delfino de Almeida recorreu à Lei do Genocídio (2889/56) em que configura crime o fato de causar lesão grave à integridade física ou mental de membros de um grupo. "Eles foram atacados porque são índios. Houve uma tortura psicológica no ataque, feito à noite, para assustar, causar medo."
Segundo a Funai, depois do ataque, os índios voltaram para o acampamento, denominado Puelito Kue, e montaram outros barracos. A área reivindicada faz parte de estudo iniciado em 2008 pela Funai, que finaliza o relatório para publicação em "Diário Oficial" da União. A assessoria da PF em Naviraí disse que não poderia passar informações sobre inquérito em andamento.
(Folha Online, 08/09/2011)