Uma embarcação encalhou e ficou assim durante todo o dia em Barra do Riacho, após o fechamento das comportas da ex-Aracruz Celulose, para desviar água do rio Doce e abastecer as suas fábricas de celulose. O fato foi denunciado por Valdinei Tavares, morador da comunidade, que afirmou estar indignado com as condições em que a empresa deixa o rio e a praia.
“Há décadas a história se repete em Barra do Riacho. A comunidade, que tinha sua característica de vila de pescador, agora se vê de outra forma, uma comunidade cercada de indústrias, porto, futuro Estaleiro Jurong Aracruz”, desabafou Valdinei Tavares.
A informação, segundo ele, é que a cada vez que visita a praia se depara com uma situação de descaso e desrespeito com a comunidade.
Este ano, a empresa também dragou o rio Gimuna. Para isso, desmatou 50 metros de mata ciliar em poucos dias, conforme denúncia da Associação de Amigos da Barra do Riacho. A obra chegou a ser embargada, o que não impediu o desmatamento e a dragagem da região, devido à demora na fiscalização.
A intervenção, conforme denúncia do diretor ambiental da Associação dos Amigos da Barra do Riacho, Herval Nogueira, desrespeitou qualquer princípio ético, ambiental e social, para abastecer a empresa que já consome a mesma quantidade de água de uma cidade de 2,5 milhões de habitantes, e não paga nada por isso.
Para tanto, a empresa é conhecida por transpor bacias, inundar propriedades, inverter cursos de rios (como é o caso do Gimuna), produzindo consequentemente impacto às populações que antes viviam de forma autônoma como pequenos agricultores, lavradores, pescadores, artesãos e trabalhadores independentes.
Entretanto, para aumentar ainda mais a captação de água para suas fábricas, além do rio Gimuna a empresa está mantendo suas comportas fechadas, desviando o fluxo de água para suas fábricas e deixando o canal que leva ao mar (boca da barra) assoreado, prejudicando os pescadores.
“Eu, Valdinei Tavares, há muitos anos na comunidade, venho sempre me deparando com esta situação desagradável, penso em ir à praia, chego nela, tenho que disputar espaço com os urubus, olho ao lado a praia toda fragmentada por crateras deixadas por máquinas de dragagem pagas por empresas que querem ser as salvadoras da pátria dos nossos pescadores, empresas essas que na verdade são quem causam todos estes transtornos”.
A informação é que com o fechamento das comportas o boca da barra está se fechando devido ao baixo fluxo de água do rio Riacho, ficando sem força para enfrentar a maré.
Rio Gimuna
A ex-Aracruz Celulose (Fibria) foi condenada a realizar o Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/Rima) devido à dragagem no rio Gimuna. A decisão é do Juiz da 4ª Vara Federal Cívil do Espírito Santo, Francisco Moraes, e inclui a prefeitura no estudo que deverá avaliar os problemas gerados pela transposição do rio para abastecer a empresa de celulose, em Aracruz, após nove anos da obra.
Segundo a decisão, o EIA/Rima deve ser realizado no prazo de seis meses sob pena de multa cominatória diária e solidária de R$ 10 mil a R$ 100 milhões. O estudo deverá ser apresentado ao Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) e ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama).
O estudo deve ser entregue até janeiro de 2012. Até lá, os pescadores continuam prejudicados pela ação da empresa.
A dragagem no rio Gimuna, que servirá para atender aos interesses econômicos da empresa, é, segundo ambientalistas, conseqüência de intervenções passadas que deixaram um rastro de escassez na região. Ao mesmo tempo em que as obras assorearam os demais canais da região, prejudicando as comunidades, permitiu-se o consumo de uma grande quantidade de água pela empresa.
(Por Flavia Bernardes, Século Diário, 01/09/2011)