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2011-09-05 | Rodrigo

Desde o austero período depois da 2º Guerra Mundial que a Alemanha não tinha blecautes significativos, mas agora está se preparando para esta possibilidade depois de desativar metade de seus reatores nucleares praticamente da noite para o dia.

As usinas nucleares há tempos geram quase um quarto da eletricidade da Alemanha. Mas depois do tsunami e do terremoto que provocaram o vazamento de radioatividade em Fukushima, a meio mundo de distância no Japão, o governo desconectou o oitavo reator mais antigo dos 17 da Alemanha – incluindo dois nessa opaca cidade industrial – em poucos dias.

Três meses depois, com um novo plano para fornecer eletricidade para o país sem energia nuclear e uma confiança crescente na energia renovável, o Parlamento votou o fechamento delas permanentemente.

Há planos para aposentar os nove reatores remanescentes até 2022. Como resultado, os produtores de eletricidade estão se esforçando para garantir um fornecimento adequado. Os clientes e companhias estão nervosos e temem que suas luzes e linhas de produção não fiquem acesas e funcionem neste inverno. Os economistas e políticos argumentam sobre o quanto os preços irão amentar.

“É fácil falar: 'vamos optar pela energia renovável', e tenho certeza de que poderemos um dia viver sem a energia nuclear, mas isso é muito abrupto”, disse Joachim Knebel, cientista chefe do prestigioso Instituto de Tecnologia Karlsruhe.

Ele caracterizou a decisão do governo como “emotiva” e apontou que na maior parte dos dias, a Alemanha só sobreviveu a este experimento importando eletricidade das vizinhas França e República Tcheca, que geram a maior parte de sua energia com reatores nucleares.

Também há preocupações reais de que o plano irá descartar os esforços para restringir o aquecimento global causado pelo homem, uma vez que apesar das limitações da energia nuclear, ela não produz muitas emissões. Se a Alemanha, quarta maior economia do mundo, voltar para as sujas usinas de queima de carvão ou suprimentos incertos de gás natural da Rússia, não estará trocando o risco potencial por um risco real?

A Agência Internacional de Energia, que costuma ser fã da política energética de tendências ambientalistas da Alemanha, criticou a iniciativa. Laszlo Varro, chefe da divisão de mercados de gás, carvão e energia da agência, chamou o plano de “muito, muito ambicioso, embora não impossível, uma vez que a Alemanha é rica e tecnicamente sofisticada”.

Mesmo se a Alemanha for bem sucedida em produzir a eletricidade que precisa, “a moratória verbal é uma notícia muito ruim em termos de política climática”, disse Varro. “Não estamos distantes de perder essa batalha, e perder a energia nuclear torna isso desnecessariamente difícil.”

O governo contra-argumenta que está preparado para fazer grandes investimentos na melhoria da eficiência energética nos lares e fábricas bem como em novas fontes de energia limpa e linhas de transmissão. Até agora, não houve nenhum blecaute.

Juergen Grossmann, diretor executivo da gigante energética alemã RWE, que é dona de dois reatores que foram fechados aqui em Biblis, a cerca de 64 quilômetros ao sul de Frankfurt, expressou ceticismo. “A Alemanha, numa decisão muito bruta, resolveu experimentar conosco”, disse ele. “Os políticos estão rejeitando os argumentos técnicos.”

Os planejadores da Alemanha acreditavam que poderiam omitir em grande parte a energia nuclear por causa do notável progresso do país na energia renovável, que agora responde por 17% de sua produção de eletricidade, um número que o governo estima que dobrará em dez anos. Nos dias em que as turbinas eólicas oceânicas giram a todo vapor, a Alemanha produz mais eletricidade de fontes renováveis do que utiliza, de acordo com monitores europeus de energia.

A Alemanha “excedeu as expectativas de todos em relação à energia renovável”, disse Varro, mostrando que ela poderia ser confiável e economicamente viável.

Até fechar os reatores, a Alemanha era a maior exportadora de energia da Europa. Com um total de 133 gigawatts de capacidade de geração instalados no início deste ano, “havia de fato um espaço imenso para desativar as usinas nucleares”, disse Harry Lehmann, diretor geral da Agência Ambiental Federal Alemã e um dos principais estrategistas de energia e ambiente, sobre a iniciativa que ele ajudou a desenvolver.

O país precisa de cerca de 90,5 gigawatts de capacidade de geração em mãos para preencher uma demanda normal de cerca de 80 gigawatts por dia. Então os 25 gigawatts que vinham das usinas nucleares não farão falta – pelo menos dentro das fronteiras do país.

Para ser prudente, o plano pede a criação de 23 gigawatts de usinas de gás e carvão até 2020. Por quê? Porque as usinas renováveis não produzem nem perto da capacidade se o ar estiver calmo ou o céu estiver nublado, e atualmente a capacidade de armazenar e transportar a energia é limitada, dizem os especialistas.

Novas usinas de carvão e gás usarão a tecnologia mais limpa disponível e não deverão agravar a mudança climática, disseram funcionários do governo, porque funcionarão dentro do sistema de créditos de carbono europeu no qual as usinas que excedem a quantidade permitida de emissões terão que comprar créditos de carbono de companhias cujas atividades sejam benéficas para o meio ambiente, equilibrando assim o saldo ambiental.

Os preços da eletricidade devem aumentar de 35 a 40 euros por casa a cada ano, ou menos de 5%, estima o governo. Embora a energia nuclear normalmente custe menos do que as novas opções, a lei alemã há muito estipula que a energia renovável deve ser comprada primeiro, mesmo que seja mais cara.

Mas os céticos consideram as certezas do governo otimistas demais. Stefan Martus, prefeito de Philippsburg, diz que acredita que os custos da energia poderão aumentar de forma mais dramática do que o governo estima; o preço das permissões para contrabalancear usinas sujas é muito imprevisível e variável, como o valor das ações. E a Agência Internacional de Energia não pensa que a Alemanha – ou qualquer outro país – será capaz de reduzir suas emissões a um custo razoável sem a energia nuclear.

Funcionários da agência de energia também questionam as previsões de que o uso da energia cairá mais 10% durante a próxima década, levando em conta as projeções da expansão do crescimento elétrico da economia alemã. A família média alemã já usa cerca de metade da eletricidade da família norte-americana.

“Sim, há uma angústia da Alemanha em relação à energia nuclear”, disse Hildegard Cornelius-Gaus, prefeito de Biblis. “Mas se a pergunta fosse: 'você gostaria de reduzir a energia nuclear se tiver que pagar bem mais e correr o risco de blecautes?' a resposta seria bem diferente.”

Mesmo antes de Fukushima, os dias da energia nuclear na Alemanha já estavam contados. Biblis foi palco de gigantes manifestações antinucleares nacionais, e a Alemanha já estava colocando em prática um plano para reduzir lentamente a energia nuclear até 2023.

O país se tornou o líder mundial em energia eólica e é mestre em conseguir mais eficiência energética nos aparelhos e nas casas, tendo construído dezenas de milhares de “casas passivas” que se autoaquecem.

Ainda assim, a chanceler Angela Merkel, que também é física, decidiu no último outono estender as licenças operacionais das usinas nucleares da Alemanha por temer que só a inovação não saciaria o apetite de energia do país.

Fukushima mudou tudo.

O fato de o Japão ser um país tecnologicamente avançado tornou o acidente nuclear mais alarmante para o povo alemão do que o desastre de Chernobyl, num velho reator soviético. Apesar disso, especialistas do setor e moradores das cidades com reatores como Biblis e Philippsburg ficaram chocados com o caráter repentino da mudança de posição.

Ambas as cidades perderão centenas de empregos e milhões em arrecadação de impostos. As companhias de energia alemãs, entretanto, dizem que receberam um modelo nacional de energia que parece bom no papel, mas é tecnicamente desafiador. Embora a produção de energia do país seja generosa, eles elas dizem que a eletricidade nem sempre está disponível onde e quando é necessária.

O norte da Alemanha tem depósitos de carvão e energia eólica, mas o sul do país – um epicentro industrial que abriga a Mercedes, BMW e Audi – não tem nenhuma fonte abundante de energia além da nuclear. A atual rede alemã é altamente descentralizada, faltam linhas de transmissão de alta voltagem ao longo de grandes distâncias.

“Agora, com a desativação nuclear, temos uma tarefa bem difícil”, disse Joachim Vanzetta, chefe das operações de sistema de transmissão em Amprion, a maior das quatro operadoras de redes do país.

A Amprion já começou a trabalhar na direção de um futuro renovável sem energia nuclear, planejando 800 quilômetros de novas linhas de transmissão para levar eletricidade do norte para o sul, a um custo de US$ 4,3 bilhões, e que seriam construídas num prazo de 10 a 15 anos. No máximo, 64 quilômetros de linhas foram concluídos até agora.

O país também estava derramando dinheiro nas usinas de biomassa e instalações de energia solar – milhões de painéis foram instalados em telhados e campos da Alemanha. Apesar das recentes melhorias tecnológicas, a energia solar ainda é bem mais cara para ser gerada do que a eólica, a gás ou nuclear. E a produção pode ser muito sazonal.

A expectativa da Alemanha de que as usinas de gás e carvão substituam temporariamente parte da energia nuclear perdida pode ser difícil de ser realizada – as companhias de energia continuam sem entusiasmo para construí-las especialmente levando em conta a política da Alemanha de comprar energia “limpa” antes.

“Alguns operadores continuarão dispostos a construir uma usina de energia de uma forma que possa funcionar apenas algumas centenas de horas por ano”, disse Grossman da RWE.

Este inverno, a Amprion prevê que sua grade terá 84 mil megawatts de eletricidade a seu dispor, para fornecer 81 mil megawatts necessários para o consumo – uma margem desconfortavelmente pequena de segurança, disse Vanzetta. Nos anos recente, a eletricidade esteve prontamente disponível para compra pela rede europeia se o preço estivesse certo. Mas a energia alemã exportada foi o que ajudou a França a passar o inverno.

“No momento, temos um sistema estressado, mas está sob controle”, disse Vanzetta. “Se tivermos dias sem vento e sem energia solar e não pudermos comprar energia do exterior, então há o risco de blecautes.”

(Por Elisabeth Rosenthal, com tradução de Eloise De Vylder, The New York Times / UOL, 05/09/2011)


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