Quando se trata da mitigação das mudanças climáticas, muito se fala sobre o dióxido de carbono, e a preocupação com os outros gases do aquecimento global acaba sendo ofuscada. Mas um novo estudo suíço, que revelou que as emissões do gás HFC-23 são maiores do que o relatado, pode ajudar a mudar essa situação.
O hidrofluorcarboneto 23 (HFC-23), também conhecido como fluorofórmio, é um gás muito utilizado na refrigeração e é frequentemente empregado na indústria química. O HFC-23 é um GEE muito potente, e seu potencial de aquecimento global – medida de como um GEE contribui para o aquecimento global – é 14,8 mil vezes mais forte do que o do dióxido de carbono.
A pesquisa suíça, desenvolvida pelo Laboratório Federal Suíço de Ciência dos Materiais e Tecnologia (EMPA), e publicada no jornal Geophysical Research Letters, analisou as emissões atuais do HFC-23 na União Europeia e descobriu que a liberação deste gás poderia ser entre 60% e 140% maior do que o relatado em documentos de empresas de produtos químicos da UE.
“Se os fabricantes da UE estão subnotificando as emissões (de HFC-23), então se deve supor que isso é um problema sistêmico e que toda a base dos esforços de mitigação é fatalmente falha. As compensações de HFC-23 não têm espaço nos mercados internacionais de carbono e precisam ser banidas, assim como governos precisam ordenar a destruição do HFC-23 pelos fabricantes”, enfatizou Samuel LaBudde, ativista da Agência de Investigação Ambiental (EIA).
Apesar do processo de destruição do HFC-23 ser barato e fácil, não há uma regulamentação que obrigue os fabricantes do gás a eliminá-lo. A Regulação F-Gás, criada na Europa em 2006, apenas incentiva a contenção do HFC-23.
“A UE encarregou os fabricantes europeus de diminuírem voluntariamente e relatarem fielmente suas emissões, mas esse estudo mostra que ela foi enganada. [...] A Europa precisa tomar medidas mais drásticas para acabar com esse tipo de abuso no bloco”, protestou Natasha Hurley, representante da EIA.
Em 2010, as emissões de HFC-23 também foram alvo de um escândalo internacional no mercado de carbono, o que levou a UE a eliminar o uso de créditos criados para a destruição do HFC-23 em projetos do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Do bloco europeu, 16 estados-membros assinaram um acordo declarando que não usariam os créditos de HFC para atingir suas metas de redução de emissões.
A Comissão Europeia deve decidir ainda este ano se vai atualizar a Regulação F-Gás, e a EIA e outras ONGs querem que a partir do estudo do EMPA a União Europeia ordene uma eliminação gradativa de todos os HFCs, substituindo-os por gases que sejam mais favoráveis ao clima, em vez de depender de esforços voluntários.
“Dados os grandes lucros obtidos pela indústria fluoroquímica europeia, é absolutamente vergonhoso que eles não estejam destruindo todo o HFC-23 produzido por suas fábricas. A UE deveria ordenar a destruição de 100% do HFC-23 e há uma oportunidade de fazer isso agora com a revisão da Regulação F-Gás”, argumentou Clare Perry, militante da EIA.
Natasha afirmou ainda que a contenção do HFC-23 beneficiaria muito o combate às mudanças climáticas. “Eliminar os HFCs completamente é provavelmente a mitigação climática mais eficiente, e se a Europa se ativer ao seu papel de liderança, ela deverá eliminar todos os HFCs através de uma revisão da UE na Regulação F-Gás”.
Erik De Leye, porta-voz da Solvay, uma das companhias acusadas de subnotificar as emissões de HFC-23, alegou apenas que a empresa foi avisada “ontem do estudo no qual a Suíça declara que há uma diferença entre as quantidades medidas por eles e as quantidades relatadas pelas autoridades italianas”.
“Estamos investigando, isso é tudo que podemos dizer por enquanto”, acrescentou De Leye.
(Por Jéssica Lipinski, Instituto CarbonoBrasil, com informações de agências internacionais, 25/08/2011)