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basf substâncias químicas tóxicas indústria química
2011-08-22 | Rodrigo

Depois de cinco anos de negociações, o presidente da operação sul-americana afirma que o consumo nacional conseguirá absorver a produção das quatro fábricas do polo de ácido acrílico

Depois de cinco anos de discussões, a multinacional alemã Basf anunciou nesta sexta-feira, 19, a decisão de construir um polo de produção de ácido acrílico de escala global no Brasil. O investimento será de pelo menos 500 milhões em quatro unidades produtivas - três em Camaçari (BA) e uma em Guaratinguetá, em São Paulo. As obras começam em setembro e a previsão é que as unidades comecem a operar no segundo semestre de 2014.

Segundo o presidente da Basf na América do Sul, Alfred Hackenberger, a espera para bater o martelo em relação ao projeto está relacionada à maturação do mercado brasileiro. Só agora, diz ele, o consumo interno do País justifica a construção das unidades de grande escala. Trata-se do sexto complexo produtivo do gênero no mundo - já existem outros na Alemanha, Estados Unidos, Bélgica, China e Malásia.

Os 500 milhões vão representar o maior investimento da multinacional no Brasil, onde está presente há cem anos. O vaivém de negociações com a matriz desde 2006 se justifica pela necessidade de viabilizar o investimento sem poder contar uma renda relevante de exportações. Por causa dos custos mais altos, explica Hackenberger, todos os investimentos em território nacional precisam se justificar apenas pela demanda interna. "Por isso, os projetos levam tempo para serem aprovados."

É uma realidade bem diferente da encontrada em outro grande País em desenvolvimento - a China. O executivo conta que, no gigante asiático, a aprovação dos projetos é mais rápida. "Lá, a conta é feita de outra forma: a metade da produção é consumida internamente, enquanto a outra metade é exportada", diz Hackenberger, que foi vice-presidente do setor de química fina na região Ásia-Pacífico antes de assumir a operação sul-americana, há um ano e meio. "No Brasil, as exportações ficam em 20%."

Produção x consumo
As quatro novas fábricas - que, além de ácido acrílico, vão produzir acrilato de butila, polímeros superabsorventes (SAP) e acrilato de 2-etil-hexila - deverão substituir US$ 200 milhões em importações na Basf. A maior parte da matéria-prima para o polo da gigante alemã será fornecida pela petroquímica Braskem. De acordo com o executivo, a expectativa do conglomerado é aumentar o consumo desses produtos com o desenvolvimento de produtos com a indústria local.

Por trás dos nomes complicados dos produtos da Basf estão aplicações bastante claras: o acrilato de 2-etil-hexila, por exemplo, é insumo para a indústria de adesivos e tintas, enquanto os polímeros SAP são usados na fabricação de fraldas e absorventes. Os investimentos da Basf estão, portanto, intimamente ligados à explosão do consumo de novos produtos pela classe C.

Segundo a consultoria internacional Euromonitor, o consumo de fraldas descartáveis no País somou R$ 3,9 bilhões no ano passado, alta de 16% sobre 2009. Já o mercado de absorventes cresceu 17% na mesma comparação, somando R$ 2 bilhões em 2010. "São produtos que trabalham muito com a inovação. Veja o caso das fraldas: a ideia de desenvolver um polímero mais absorvente deixa o produto mais leve", ressalta o executivo.

Para desenvolver produtos com clientes em suas três áreas de atuação no País - defensivos agrícolas, tintas e produtos químicos -, a Basf tem uma equipe de 400 pesquisadores, número que tende a aumentar com o novo polo produtivo.

"A equipe de pesquisa e desenvolvimento é equivalente a 10% da força de trabalho, o que está em linha com o mínimo para a Basf no restante do mundo", afirma Hackenberger. O orçamento anual de P&D no Brasil é de R$ 110 milhões; no mundo, chega a 1,4 bilhão.

Uma das consequências do novo investimento deverá ser o aumento da fatia dos produtos químicos no faturamento da Basf no País - o que deixará a divisão da receita mais em linha com a média mundial. Hoje, 45% do faturamento nacional vem dos produtos químicos para indústrias.

A área de defensivos agrícolas soma 30%, enquanto o segmento de tintas - que inclui a marca Suvinil, comprada pela multinacional há mais de 40 anos - é responsável pelos 25% restantes. O faturamento da Basf na América do Sul somou 3,8 bilhões no ano passado, um crescimento de 31% em relação a 2009.

O investimento em defensivos agrícolas, diz o executivo, é consequência não apenas da liderança nacional no agronegócio, mas também da vocação local para o desenvolvimento de tecnologias de produção. "Fizemos a primeira soja transgênica local com a Embrapa", exemplifica. Já a Suvinil é exceção dentro dos negócios mundiais da Basf: é uma das poucas experiências do grupo em marcas de varejo.

(Por Fernando Scheller, O Estado de S. Paulo, 19/08/2011)


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