Não foi apenas a loja de roupas de origem espanhola Zara, flagrada com trabalho escravo em sua cadeia produtiva no Brasil, que enfrentou danos a sua imagem ao longo da semana.
Nesta sexta-feira (19), foi a vez de lojas da marca de material esportivo Adidas em diversos países terem suas vitrines cobertas com grandes adesivos da campanha Detox [Descontamine], do Greenpeace. A ação pede que fornecedores de grandes grifes que produzem na China – além de Adidas, Nike, Puma e H&M, entre outras – parem de descartar resíduos químicos nos rios do país.
O problema foi identificado pelo Greenpeace através do estudo “Roupa Suja – Revelando as conexões das corporações com a poluição da água na China”, divulgado em 13 de julho. Através da análise de amostras de efluentes de indústrias têxteis, a ONG ambientalista identificou compostos como alquilfenóis e perfluorados.
“Os alquilfenóis e perfluorados causam séria preocupação porque são conhecidos disruptores hormonais, mesmo em níveis baixos. Muitas dessas substâncias são reguladas nos países ricos, na União Européia e por convenções internacionais”, diz o relatório, que aponta que 70% dos rios, lagos e aqüíferos chineses estão contaminados.
Na quarta-feira (17), pressionada pelo Greenpeace, a Nike anunciou que assumiria o compromisso de controlar a emissão de produtos químicos nocivos e eliminá-los totalmente de sua cadeia produtiva até 2020. Os ambientalistas agora esperam que a Adidas adote a mesma meta.
As duas corporações dominam o mercado mundial de artigos esportivos. Enquanto a Adidas adquiriu a norte-americana Reebok em 2005, a Nike comprou a britânica Umbro, em 2007.
Bolsa de valores
Se é certo que problemas de responsabilidade social prejudicam a imagem pública das empresas, há sinais de que eles começam a influenciar também a formação de preço das ações das companhias. Nesta sexta, enquanto a ação da Nike subiu 0,3% na Bolsa de Nova York, a da Adidas caiu 4,6%.
Na Bolsa de Madri, as ações da Inditex, dona da Zara, também recuaram 3,7% nesta sexta. A empresa enfrenta nesta semana uma série de acusações de uso de trabalho escravo em sua cadeia produtiva no Brasil.
O problema, divulgado nesta semana pela ONG Repórter Brasil, foi descoberto no final de junho por fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego, que liberaram 15 trabalhadores de um dos principais fornecedores da rede na cidade de São Paulo.
(Por Marcel Gomes, Carta Maior / IHU Online, 19/08/2011)