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vazamento de petróleo passivos do petróleo petróleo na áfrica
2011-08-20 | Mariano

A bruxa continua solta na indústria do petróleo. Se por um lado o preço do barril na casa dos 100 dólares, e em tendência de alta, alimenta a exploração sem limites, acidentes e passivos desvelam o crescente anacronismo da produção petrolífera. Isso que não estamos considerando as previsões catastróficas da mudança climática, e muito menos o nefasto legado plástico da petroquímica.

Desde o início do ano as gigantes do setor vêm acumulando publicamente derrotas ambientais, fazendo parecer que o mundo não tirou nenhuma lição do mega desastre da BP no Golfo do México em 2010. Um dos últimos vexames foi o da norte-americana ConocoPhillips. Uma série de vazamentos submarinos, em pelo menos duas de suas plataformas no golfo de Bohai na China, fez lembrar a catástrofe que ficou conhecida como o maior vazamento de petróleo de todos os tempos.

Mas se é impossível comparar as dimensões do acidente no Caribe com o do Mar Amarelo, o comportamento da Conoco no caso reforça o padrão negligente e intransparente que impera no setor em casos de "imprevistos". O primeiro vazamento começou no início de junho de 2011. A empresa americana e a estatal chinesa CNOOC, que dividem a gerência da operação, levaram mais de um mês para admitir publicamente o problema, que já tinha sido denunciado por um blog semanas antes.

Mesmo assim minimizaram as dimensões do vazamento. Esse seria "o primeiro do tipo em águas do país". No caso, se referiam à exploração em alto mar, intensificada pelo governo chinês desde 2006. Ignoram o óleoduto que explodiu em julho de 2010 na cidade portuária de Dalian, até então considerado o pior vazamento de petróleo do país, e que causou danos em 430 quilômetros quadrados.

Sobre o volume de óleo derramado, também sobram contradições. No primeiro comunicado da empresa em junho, falava-se em algumas centenas de barris. Volume que quintuplicou desde então, chegando a 2.100 barris. Mas ele pode ser até 50 vezes maior, como denunciou a Greenpeace na explosão em Dalian, já que o governo chinês trabalha para mascarar o estrago.

Vale lembrar que só no início de agosto, quando o vazamento em alto-mar já havia atingido 1,2 mil quilômetros quadrados, chegando às praias da Coréia do Sul, é que foi admitida oficialmente a dificuldade em controlar o problema. Na ocasião, mais uma vez o grande vilão foi a meteorologia. Mais especificamente a temporada de tufões e tempestades no Mar Amarelo, o que obrigou a paralisação dos trabalhos de limpeza.

Cara suja
E se na China a exploração de petróleo tem essa cara suja, em países menos proeminentes o estrago é muito maior. Ainda que geralmente esquecido ou ignorado.

Em fevereiro deste ano, a Chevron dos EUA foi condenada pela justiça equatoriana a pagar 9,5 bilhões de dólares para limpeza de 4,4 mil quilômetros quadrados e compensação de mais de 30 mil indígenas e camponeses afetados pelo acidente conhecido na Europa como a "Chernobyl da Amazônia". O desfecho foi inédito em uma briga de 18 anos. Período em que a companhia gastou dezenas de milhões de dólares com advogados para defendê-la na dúzia de tribunais em que ela é processada pelo caso.

Condenada no Equador, a empresa californiana não emitiu nenhum sinal de arrependimento, não pediu desculpas a ninguém, e muito menos pagou um centavo em compensações. Saiu do tribunal atirando contra o sistema jurídico equatoriano, acusando-o de "irrealista", "corrupto" e "ilegítimo". Já encaminhou sua apelação em tribunais dos EUA, e garante que vai levar o caso a instâncias internacionais em três continentes.

Como não possui mais ativos ali, é provável que a condenação sirva apenas como vitória moral para os demandantes. Afinal, será muito mais barato pagar advogados para manobrar juridicamente o caso, do que assumir o dano causado durante 30 anos de exploração predatória na remota Amazônia oriental do país.

Passivo africano
Semelhante ao caso da Chevron no Equador, ou até mesmo pior, é a situação da Shell na Nigéria. Em julho último, um relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) foi divulgado em primeira mão pelo The Guardian. Ele conclui que a multinacional anglo-holandesa contaminou sistematicamente 1.000 quilômetros quadrados da Ogoniland, pequena região do delta do rio Níger.

Elaborado ao longo de três anos de investigação, o estudo encontrou:
- grandes concentrações de poluentes tóxicos na terra e em aquíferos, mesmo nos locais onde os derrames ocorreram há mais de 40 anos;
- água que abastece comunidades inteiras com índices perigosos de benzeno e outros poluentes;
- contaminação do solo em até cinco metros de profundidade em muitas áreas avaliadas;
- maioria dos lugares, alegadamente limpos, continuam apresentando alta contaminação;
- evidência de processos paliativos de limpeza que só agravaram o problema da contaminação;
- concentração de hidrocarbonetos na água 1.000 vezes acima do limite estabelecido pelas autoridades nigerianas;
- fracasso da Shell em atender minimamente seus próprios padrões de segurança.

"Os nigerianos pagaram um preço alto pelo crescimento econômico trazido pela indústria do petróleo", declarou o diretor-executivo do PNUMA, Achim Steiner. O sumário do relatório vazado pelo jornal britânico estima que o custo de limpeza do estrago da Shell ultrapasse 1 bilhão de dólares, investidos ao longo de 30 anos, tempo necessário para a realização do trabalho.

E esse é apenas um dos muitos passivos da indústria petroleira na Nigéria. A Amigos da Terra estima que a limpeza e descontaminação de todo o Delta do Níger necessite de aproximadamente 100 bilhões de dólares.

Mas, mesmo com a pressão aumentando, nada parece indicar que a Shell venha a mudar suas práticas. A começar pela admissão do erro. Seus executivos continuam insistindo que a maior parte dos vazamentos foi e continua sendo causada por sabotagem. Também joga a culpa no corrupto governo nigeriano e garante que segue rigorosamente todos os padrões de qualidade estabelecidos.

Sobre o fato de a empresa ter sido expulsa da Ogoniland em 1993, como resultado de anos de luta da comunidade local, nenhuma palavra. Silêncio também sobre o notório envolvimento da gigante petroleira na repressão das comunidades locais por parte do governo militar da época. O caso veio a público em dezembro do ano passado através do Wikileaks. Mensagens vazadas da embaixada norte-americana confirmam que a empresa tinha pessoas infiltradas em todos os principais ministérios do governo nigeriano, estando diretamente envolvida na perseguição e assassinato de líderes comunitários contrários aos seus interesses.

Questão global
Nada disso é novo. A produção de petróleo tem e continuará tendo riscos, cada vez maiores, dada a expansão da atividade para outras fronteiras, muito além do domínio tecnológico. Ou seja, não se tratam de erros e irresponsabilidades. Acidentes acontecem frequentemente em plataformas, refinarias, dutos, tanques por todo o mundo. E isso não tem poupado nem o quintal das petroleiras.

Praticamente ao mesmo tempo em que o óleo começava a vazar na costa chinesa, um tanque de armazenamento explodia em uma refinaria da Chevron na costa Leste do País de Gales. Quatro pessoas morreram na hora.

"Em uma refinaria, você está em uma bomba-relógio e a qualquer momento alguma coisa pode sair errado. Acredito que um acidente com consequente perda de vidas é inevitável de tempos em tempos. Não é sempre erro humano, é simplesmente algo que pode acontecer", conta Tony Spicer, aposentado da Chevron, na reportagem do Guardian.

Mas se os moradores do País de Gales tiveram sorte, já que o vento terral soprou a fumaça tóxica da explosão da refinaria para o mar aberto, o mesmo não pode ser dito dos pescadores da costa oeste inglesa. Semana passada a Shel enfrentou críticas na própria Grã-Bretanha depois que veio a público um novo vazamento em uma de suas plataformas no Mar do Norte. A empresa admite o vazamento de 1.300 barris, embora não desminta a estimativa do triplo disso.

Interessante que a Shell apareceu em julho último no primeiro lugar do ranking de acidentes com petróleo e gás no Mar do Norte. Os dados, relativos a 2009 e 2010, são oriundos da base de dados do órgão britânico de saúde e segurança (HSE - http://www.hse.gov.uk/). Detalhe, a lista foi obtida por força da legislação de liberdade à informação pelo jornal the Guardian.

Ela mostra, entre outras coisas, que houveram mais de 100 acidentes em plataformas nos dois respectivos anos, média de um por semana. A grande maioria deles nunca chegou ao conhecimento do público. Mesmo assim, os representantes do setor no Reino Unido ainda se gabam de serem os mais seguros do mundo.

(Por Mariano Senna, Ambiente JÁ, 20/08/2011)


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