Foram contratados quase 2.000 MW por menos de R$ 100 por MWh; preços surpreendem. Governo diz que os dois leilões desta semana revelam novo paradigma para as energias renováveis
O custo da energia eólica no Brasil, uma das principais fontes renováveis do mundo, já é menor do que o da energia elétrica obtida em termelétricas a gás natural. O governo classificou essa situação como o novo paradigma do setor elétrico brasileiro. Em alguns casos, a energia eólica também tem custo inferior ao das usinas movidas a biomassa de cana.
Esse foi o principal resultado dos dois leilões realizados pelo governo entre quarta e ontem, em São Paulo. A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) organizou leilões para garantir a oferta de energia às distribuidoras a partir de 2014.
Foram contratados 1.929 MW em nova capacidade, que terá de ser montada em três anos. Hoje, dos 110.000 MW de potência instalada no Brasil, 5.700 MW são provenientes de energia eólica.
Os preços dessa energia surpreenderam. Os valores por MWh (megawatt-hora) oscilaram entre R$ 99,54 e R$ 99,57 (a térmica a gás, em geral, está acima de R$ 120). Em leilões anteriores, o preço da eólica estava acima de R$ 130 o MWh. Há pouco mais de dois anos, o valor passava de R$ 200 por megawatt-hora.
Aerogeradores
A situação do setor começou a virar neste ano. Só com a contratação de ontem, o Brasil viabilizou a montagem de mil aerogeradores. Segundo Maurício Tolmasquim, presidente da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), existem quatro empresas produzindo aerogeradores no Brasil.
"Nós nos certificamos se essa demanda contratada nos dois leilões poderia ser atendida pela indústria local. E a resposta é que há capacidade para atender", diz. As quatro fábricas têm capacidade anual para montar 2.800 MW em aerogeradores, ou 1.400 unidades.
Além dessas fábricas, o governo informou que outras quatro empresas discutem com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) a instalação de unidades industriais. O consumidor será beneficiado com essa redução de preço, mas o efeito ainda será residual na conta de luz.
(Por Agnaldo Brito, Folha de S. Paulo, 19/08/2011)