Depois do ataque, os indígenas teriam se escondidos na mata, a fim de se proteger. PF afirma não ter havido crime
Indígenas Guarani Kaiowá no Território Indígena Pueblito Kuê, no município de Iguatemi (MS), têm sofrido uma série de ataques nos últimos dias. Na noite de sábado (13), os indígenas, que ocupavam uma área entre as fazendas Maringá e Santa Rita, tiveram seu acampamento destruído. Segundo o líder indígena Solano Lopes, o local foi invadido por homens encapuzados e armados.
“Destruíram nosso acampamento, queimaram nossas coisas, tivemos que sair correndo de lá”, conta. Depois do ataque, os indígenas teriam se escondidos na mata, a fim de se proteger.
A destruição do acampamento, porém, não foi a única violência. Solano conta que dias depois, dentro da mata, os indígenas foram novamente atacados por funcionários da fazenda Santa Rita. Os poucos pertences que haviam restado foram destruídos, e até mesmo a comida foi levada.
“O que nós tínhamos levaram, as nossas mercadorias. Ficamos sem nada”, relata. Somente à noite, com cuidado para não serem vistos pelos pistoleiros, os indígenas puderam retornar para a aldeia.
A área foi ocupada no dia 9 de agosto e é reivindicada pelos indígenas como Tekoha (terra tradicional), uma parte do território denominado como Pyelito Kuê.
O local está incluído nas portarias da Funai publicadas em 2008, que formaram Grupos de Trabalho para estudos em 26 municípios da região sul do Mato Grosso do Sul, visando ao reconhecimento e demarcação de terras indígenas.
A Fazenda Santa Rita pertence ao prefeito de Iguatemi, José Roberto Felippe Arcoverde (PSDB).
Investigação
Na terça-feira (16), uma equipe da Polícia Federal esteve na área para realizar investigações. De acordo com informações da Polícia Federal, porém, as análises apontaram que não houve crime, pois os indígenas não foram encontrados na área.
Uma equipe da Fundação Nacional do Índio (Funai) também esteve no local, mas não pôde acompanhar as investigações por ordens dos agentes da Polícia Federal, como relata o assistente técnico da Funai Thiago Leandro Vieira Cavalcante. Nesse momento, segundo ele, havia ruralistas e funcionários das fazendas acompanhando a Polícia Federal.
"[Os agentes da PF] pediram para que nossos técnicos não participassem e aguardassem em um local bastante distante. Por isso não temos como informar o que aconteceu nessa diligência, não estávamos presentes", afirma.
A Funai ainda aguarda a notificação oficial sobre os resultados da ação da Polícia Federal. Independente dos resultados, a situação preocupa os técnicos e parece longe de ser resolvida. "Estamos recebendo informações e notícias de que os indígenas continuam sofrendo ameaças e intimidação", afirma Cavalcante.
Cavalcante explica ainda que a demarcação do território está atrasada devido a uma série de ações judiciais que impedem o trabalho da equipe técnica responsável. A expectativa, porém, é de que até novembro seja publicado, no Diário Oficial da União, o relatório de identificação e delimitação do território.
O caso também está sendo acompanhado pelo Ministério Público Federal (MPF). Na segunda-feira (15), o procurador da República em Dourados, Marco Antônio Delfino de Almeida, chegou a afirmar que a denúncia da destruição do acampamento estava sendo averiguada. “Se houve violência, será instaurado inquérito”, disse à imprensa local.
Histórico
Esta é a terceira vez que os índios ocupam terras na região. Em 2009, o grupo Guarani Kaiowá que ocupou a área Mbarakay foi espancado, ameaçado com armas de fogo, vendado e jogado à beira da estrada em uma desocupação extrajudicial, promovida por um grupo de pistoleiros a mando de fazendeiros da região. Mais de 50 pessoas, inclusive idosos, foram espancadas, e um adolescente desapareceu.
Antes, em julho de 2003, um grupo já havia tentado retornar, sendo expulso por pistoleiros da fazendas da região, que invadiram o acampamento dos indígenas, torturaram e fraturaram as pernas e os braços das mulheres, crianças e idosos.
Os Guarani Kaiowa são hoje cerca de 45 mil pessoas, ocupando apenas 42 mil hectares. A falta de terras tem ocasionado uma série de problemas sociais entre eles, ocasionando uma crise humanitária, com altos índices de mortalidade infantil, violência e suicídios entre jovens.
(Por Patrícia Benvenuti, Brasil de Fato, 17/08/2011)