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desastre de fukushima contaminação radioativa acidente nuclear
2011-08-16

Nível que atingiu a Califórnia é baixo e não ameaça a população. Registro serviu para calcular volume do vazamento ocorrido em março

Dados coletados na costa oeste dos Estados Unidos podem ajudar a entender melhor o que aconteceu na usina nuclear de Fukushima, no Japão, no último mês de março. Após o terremoto e o tsunami que atingiram o país, reatores foram danificados, e assim ocorreu o pior acidente nuclear desde a explosão na usina soviética de Chernobyl, na atual Ucrânia, em 1986.

Uma equipe de pesquisadores da Universidade da Califórnia, em San Diego (UCSD), fazia medições constantes do ar para um estudo do clima da região. Em 28 de março, os aparelhos dos cientistas norte-americanos passaram a detectar a presença de enxofre radioativo no ar, na forma de gás e de partículas.

Exatos 15 dias antes, os japoneses passavam por um momento delicado na tentativa de controlar o aquecimento dos reatores. Sem as bombas principais, eles tiveram de recorrer à água do mar para resfriar os tanques.

O contato dessa água com o reator deu origem a moléculas que continham enxofre radioativo. Por conta disso, o período em que a água do mar foi usada correspondeu aos índices mais altos. Nas correntes de ar, elas atravessaram os cerca de 8.800 km sobre o Oceano Pacífico que separam o Japão e a Califórnia e chegaram à cidade de La Jolla, perto de San Diego.

Segundo Mark Thiemens, pesquisador da UCSD que conversou com o G1, o movimento do vento pode ser considerado normal, mas nada garantia que seria possível fazer a medição na América do Norte. “Se tivesse chovido por quatro dias, ou se o vento fosse em outra direção, não teríamos nada para medir, então tivemos sorte”, reconheceu.

Sem risco
O químico explicou ainda que o nível de radiação que chegou aos EUA foi muito baixo e não oferecia nenhum risco à população. Mesmo tendo em vista locais mais próximos ao Japão, como o Havaí, ele descarta tal ameaça.

De toda forma, as medições feitas na Califórnia são de grande valia para as autoridades japonesas, pois permitem saber melhor o que aconteceu na usina. “Não dá para entrar no reator, nem para mandar um robô para dentro dele para saber como está”, disse Thiemens.
Japão vive crise nuclear desde março, quando usina nuclear de Fukushima foi danificada pelo terremoto e tsunami.

O cientista foi o autor da pesquisa publicada nesta segunda-feira (15) pela revista Proceedings of the National Academy of Sciences, que calculou quanta radioatividade escapou da usina: 400 bilhões de nêutrons por metro quadrado entre 13 e 20 de março. Isso é 365 vezes a quantidade natural.

Thiemens disse ainda que esta foi uma boa oportunidade para rastrear o enxofre. Normalmente, é possível medir os níveis das substâncias no ar, mas não dá para saber de onde ele vem. Nesse caso, a radioatividade funciona como um marcador: como tinha acontecido um vazamento no Japão, o país seria a única origem de uma grande quantidade de enxofre radioativo.

“Ninguém vai provocar um vazamento radioativo de propósito, por isso essa é uma oportunidade única para estudar o ciclo do enxofre”, apontou o químico. Segundo ele, é importante estudar esse ciclo, que influencia a natureza em vários aspectos – como o clima, por exemplo.

(Por Tadeu Meniconi, G1, 15/08/2011)


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