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angra 3 energia nuclear no brasil acordo nuclear brasil-alemanha
2011-08-16 | Rodrigo

Guardados há mais de duas décadas em depósitos da Eletronuclear em Itaguaí e Angra dos Reis, no estado do Rio, os equipamentos comprados pelo governo brasileiro nos anos 80 para a Usina Nuclear Angra 3 devem ser desencaixotados no início do ano que vem.

O edital bilionário para a contratação do consórcio que fará a montagem dos equipamentos eletromecânicos foi lançado na semana passada. Serão gastos R$ 1,93 bilhão e a expectativa é que, com o avanço das obras civis no canteiro de Itaorna, onde já operam as usinas Angra 1 e Angra 2, a montagem dos equipamento da terceira usina nuclear brasileira comece em maio de 2012. Angra 3 deve entrar em operação comercial em dezembro de 2015, ao custo total de R$ 10 bilhões.

Apesar de estocados há tanto tempo, a estatal garante que os equipamentos estão em boas condições de uso e não se defasaram tecnologicamente. São tubulações, bandejas de cabos, sistemas de cabeamento, estruturas metálicas, vasos, tanques, válvulas, entre outros, que custaram ao país US$ 750 milhões (cerca de R$ 1,2 bilhão).

Isso representa praticamente a metade do valor que a Eletronuclear terá que desembolsar para adquirir os equipamentos eletroeletrônicos que, ao longo desse período, evoluiram tecnologicamente, como sistemas informatizados de instrumentação e controle da usina e painéis elétricos. Em abril do ano passado, a contratação dos suprimentos importados foi orçada em R$ 2,2 bilhões. 

Os equipamentos eletromecânicos foram adquiridos no âmbito do Acordo Nuclear Brasil-Alemanha, firmado em 1975, que previa a construção de duas usinas gêmeas, cada uma capaz de gerar cerca de 1,3 mil megawatts: Angra 2 e Angra 3. Mas só a unidade 2 foi concluída.

A Usina Nuclear Angra 3 começou a ser erguida em 1984, mas a obra foi interrompida dois anos depois, não só por falta de recursos. Havia, na época, muitas dúvidas quanto à conveniência do uso de energia nuclear e aos riscos de acidentes e impactos ambientais. Em 2007, o governo federal decidiu retomar a construção da usina, pressionado pelo crescente consumo de energia do país e porque boa parte dos equipamentos já estava paga.

Ao longo dessas duas décadas, a manutenção da obra paralisada, incluindo estocagem e preservação dos equipamentos, seguros, inspeções periódicas e manutenção do canteiro de Itaorna custou ao país mais de R$ 600 milhões, ou US$ 20 milhões (R$ 32 milhões) por ano.

Montagem custará R$ 1,93 bilhão
A montagem dos equipamentos eletromecânicos da Usina Nuclear Angra 3 vai custar R$ 1,93 bilhão, R$ 490 milhões a mais do que o estimado pela Eletronuclear em abril do ano passado. O aviso do edital da licitação bilionária para a contratação do consórcio encarregado da montagem foi publicado na sexta-feira passada (12).

De acordo com o superintendente de Gerenciamento de Empreendimentos da Eletronuclear, Luiz Manuel Messias, a revisão do orçamento foi necessária por causa, principalmente, da adição de bens e serviços que não estavam previstos na montagem de Angra 2  - que serviu de base para o orçamento de Angra 3 – e pelo aumento do custo da mão de obra. “Fizemos uma atualização muito cuidadosa dos valores dessa montagem”, assegurou Messias.

Diferentemente do que ocorreu com Angra 2, a Eletronuclear decidiu incluir na licitação da montagem de Angra 3 serviços de ar-condicionado e ventilação, pintura e isolamento térmico. “Como são serviços que se integram à montagem eletromecânica, é melhor pagar um pouco mais para ter apenas um interlocutor, que gerencia todo o processo”, explicou o superintendente.

O consórcio (com até quatro empresas) que vencer a licitação também terá que se responsabilizar pelos testes de funcionamento da usina nuclear (comissionamento) e pela aquisição de suprimentos adicionais, como perfis metálicos, cabos, válvulas, lâmpadas, equipamentos de telefonia, sistemas de aterramento, entre outros. Esses custos também foram incluídos na licitação.

Quanto à mão de obra, a estatal reviu, para cima, o valor médio da hora trabalhada porque a demanda por profissionais qualificados cresceu muito nos últimos anos, impulsionada pelos grandes investimentos em infraestrutura no país. A Eletronuclear está disputando operários e  montadores com outras empresas estatais, como a Petrobras, cujos investimentos no estado do Rio não param de crescer por causa da exploração de petróleo no pré-sal.

“A pressão da Petrobras é significativa, a empresa é uma grande contratante de montagem eletromecânica e isso pressiona os preços da mão de obra, que é mais qualificada e mais valorizada”, disse Messias. No pico da montagem, entre 7 mil e 9 mil pessoas estarão trabalhando no canteiro de Itaorna que, atualmente, conta com 3 mil operários envolvidos na construção do edifício que abrigará o reator nuclear.

Apesar da política da estatal de aproveitar ao máximo os trabalhadores que moram nas cidades próximas, a mão de obra local não é suficiente para atender à demanda. A Eletronuclear esperava contratar até 90% dos operários e técnicos na própria região de Angra dos Reis (que compreende os municípios do litoral sul do estado do Rio e do Vale do Paraíba).

Mas a Petrobras e estaleiros que trabalham para a estatal de energia já absorvem boa parte dessa mão de obra qualificada. “Até para as obras civis estamos encontrando dificuldades para contratar”, reclamou o executivo. Com isso, a mão de obra contratada no local vai representar pouco mais de 80% do efetivo total.

Pelo edital publicado na semana passada, os consórcios interessados na montagem dos equipamentos de Angra 3 vão passar por um processo de pré-qualificação que deve durar quatro meses. Serão avaliadas a situação  jurídica, a regularidade fiscal, a capacidade econômica e financeira e a qualificação técnica.  Só depois serão apresentadas as propostas de preço.

A Eletronuclear estima que os operários da empresa selecionada já estejam no canteiro de obras a partir de maio do ano que vem. A montagem dos equipamentos deve levar 30 meses e a previsão é que a usina nuclear comece a gerar energia em operação comercial em dezembro de 2015.

(Por Vinicius Doria e Sabrina Craide, com edição de Graça Adjuto, Agência Brasil, 16/08/2011)


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