O empresário e senador Blairo Maggi, um dos maiores produtores de soja do mundo, resolveu expandir seus negócios para a Argentina. No ano passado, seu grupo, o André Maggi (AMaggi), abriu um escritório no país, e em abril deste ano começou a operar como exportadora do grão. Agora, avança mais um passo: vai começar a plantar soja em solo argentino.
O grupo deve começar o cultivo em uma área arrendada de 5 mil hectares. Mas, segundo informações que circulam no mercado argentino, o objetivo seria chegar aos 30 mil hectares nos próximos anos. No Brasil, o grupo tem uma produção média anual de 400 mil toneladas de soja, 300 mil toneladas de milho e 20 mil toneladas de algodão.
Para Blairo Maggi, o negócio se justifica porque a Argentina é o terceiro maior país produtor de soja do planeta - atrás dos Estados Unidos e do Brasil - e um dos principais players no mercado mundial do agronegócio. Mas ele negou que o grupo tenha sido atraído pelos gastos menores. Segundo o empresário, "há uma grande diferença no custo operacional, que é menor em solo argentino". Mas, quando se leva em conta outros custos, como o de arrendamento da terra, os gastos praticamente se equivalem.
Para analistas argentinos, a expansão de "el rey de la soja" para a Argentina é um sinal do processo de internacionalização de seu grupo empresarial. Javier Bujan, presidente da Câmara Arbitral da Bolsa de Cereais da Argentina, disse não se surpreender com a chegada de Maggi ao país. "Minha pergunta seria: o que os produtores argentinos vão fazer no Brasil?", disse, com ironia, em referência à ida de diversos empresários do setor, entre eles Gustavo Grobocopatel, do grupo Los Grobo, que investe no Brasil há quase meia década.
"Acho mais lógica a vinda de Maggi, pois os custos de produção são mais sensíveis do que no Brasil. E, além disso, a vantagem fundamental de produzir soja na Argentina é o custo do frete, que é muito mais baixo", afirmou. Segundo Bujan, no Brasil, os centro de produção de soja estão em média a pelo menos 800 quilômetros de distância dos portos, enquanto que na Argentina não passam de 400 quilômetros.
"É preciso levar em conta que os fretes possuem uma grande incidência na composição dos preços da soja. O lado forte da produção argentina está em um raio de no máximo 500 quilômetros ao redor de Rosário (o maior porto fluvial da Argentina e o principal ponto para escoar a produção agrícola do país)."
Maggi confirma que as distâncias menores são um atrativo do país vizinho. Enquanto no Brasil a soja plantada por ele tem de viajar cerca de 2 mil quilômetros para chegar aos portos, na Argentina essa distância é de cerca de 350 quilômetros.
Essa lógica, porém, nem sempre esteve presente no discurso do empresário. Em 2004, quando ocupava o cargo de governador de Mato Grosso, Blairo Maggi esteve em Buenos Aires, acompanhado por uma grande comitiva. Na ocasião, em vez de pensar em investir na Argentina, fez o contrário: convidou os produtores de soja argentinos a produzirem em seu Estado, oferecendo vantagens fiscais.
(Por Ariel Palacios e José Maria Tomazela, O Estado de S. Paulo, 12/08/2011)