'Primarização' da pauta exportadora brasileira avança no semestre, empurrada pela alta de mais de 90% nas vendas de minério de ferro e pelo dólar barato, que atrapalhou embarques de produtos industriais. Volume de exportações supera nível pré-crise de 2008 e bate recorde: US$ 118 bilhões. Resultado também foi favorecido pelas compras chinesas, que sobem 47% e são o dobro das aquisições de outros parceiros importantes, como EUA e Argentina.
BRASÍLIA – Com as exportações de produtos básicos, especialmente minério de ferro, e para a China crescendo em ritmo explosivo, as vendas brasileiras ao exterior, no primeiro semestre, superaram o patamar anterior à crise financeira mundial de 2008 e atingiram o nível histórico de 118 bilhões de dólares. No primeiro semestre de 2010, as vendas foram de 89 bilhões de dólares. No ano anterior, de 90 bilhões.
O preço barato da moeda norte-americana continua estimulando as importações, que também bateram recorde em seis meses, totalizando 105 bilhões de dólares. Mas prejudicaram as vendas industriais que, embora crescentes, perderam espaço na pauta exportadora.
Saldo final: em 2011, o país acumula 13 bilhões de dólares de lucro no comércio internacional. Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (01/07) pelo ministério do Desenvolvimento. O minério de ferro foi, de longe, o produto mais exportado pelo Brasil. De janeiro a junho, foram 18 bilhões de dólares, crescimento superior a 90% em relação ao mesmo período do ano passado. Sua participação na pauta exportadora deu um salto de 50%, passando de 10% para 15%.
A segunda mercadoria mais vendida, o petróleo do tipo “bruto”, sem nenhum refinamento ou industrialização, rendeu ao país 10 bilhões de dólares, 25% a mais do que em 2010.
Pauta de 'baixa qualidade'
Os chamados produtos básicos (alimentos, petróleo, minério), no geral, avançaram na pauta exportadora. Representavam 43% no fim de junho do ano passado, e agora chegaram a 47%, num total de 56 bilhões de dólares, alta de 44%.
As exportações de artigos manufaturados, de maior valor agregado, subiram menos da metade (19%) e alcançaram 43 bilhões de dólares, o que fez sua fatia na pauta encolher de 40% para 36%. As exportações totais de 118 bilhões de dólares foram complementadas por mercadoria “semi-manufaturadas”, como celulose e açúcar.
Na última terça-feira (28/06), durante audiência pública no Senado, o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, classificou a atual pauta exportadora brasileira como sendo "de baixa qualidade", devido ao peso das chamadas commodities. São elas, no entanto, que têm ajudado o país a reduzir o prejuízo com o exterior, diante da enorme remessa de lucros por multinacionais e especuladores e dos gastos dos brasileiros com viagens e compras internacionais.
De janeiro a maio, por exemplo, de acordo com dados divulgados pelo Banco Central na última segunda-feira (27/06), o país acumulou prejuízo de 22 bilhões de dólares nas transações com o exterior, quando operações financeiras entram na conta.
Destino das exportações
O destino mais procurado pelos produtos brasileiros continua sendo a China, país que mais cresce no mundo. As exportações para lá subiram 47% no primeiro semestre e atingiram 20 bilhões de dólares, o dobro das vendas para Argentina e Estados Unidos, outros dois parceiros individuais importantes do país.
O comércio com a China garantiu mais de 5 bilhões de lucro ao Brasil, que importou de lá 14,7 bilhões. Esse ganho é quase o dobro do verificado em 2010. O mesmo aconteceu no comércio com a Argentina, cuja renatbilidade para o Brasil também duplicou (para 2,4 bilhões). Já com os Estados Unidos, o prejuízo cresceu de 3 bilhões para 4 bilhões.
No caso das importações, a balança comercial não experimentou grandes variações. As compras de máquinas e equipamentos, que ajudam a modernizar a economia, e de matérias-primas, tudo facilitado pelo dólar barato, subiram e seguem respondendo por dois terços da pauta. Mas a importação de bens de consumo, especialmente carros, e de combustíveis cresceu um pouco mais e ampliou de leve o espaço na pauta.
No relatório trimestral de inflação divulgado na última quarta-feira (29/06), o Banco Central disse claramente que conta com as importações para controlar a inflação.
(Carta Maior, 03/07/2011)