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desastre de fukushima acidente nuclear política nuclear
2011-07-01 | Mariano

Há quase quatro meses o acidente nuclear na usina de Fukushima Daichi vem servindo como o maior exemplo da fragilidade humana nos tempos atuais. E sob vários aspectos.

A começar pelo científico, pois apesar de todas as piruetas técnicas, incluindo caminhões com jatos de água, helicópteros, compostos químicos anti-radiação, gráficos e tabelas com planos mirabolantes para acabar com o vazamento, ele segue, e é muito pior do que o admitido. “Temos combustível altamente radioativo equivalente a 20 reatores exposto à atmosfera”, estima Arnold Gundersen, engenheiro nuclear com 39 anos de experiência no desenvolvimento, instalação e  gerenciamento de reatores nucleares. A maior parte desse material estava nas piscinas de combustível usado, localizadas dentro dos prédios dos reatores, e agora admitidamente em fusão total.

Significa que as pastilhas de Urânio e Plutônio usadas para abastecer os reatores derreteram. Antes, essas pastilhas eram manipuladas por robô, num circuito fechado que mantinha a temperatura estável e impedia o vazamento da radiação que emitem constantemente. Derretidas, elas formam uma massa incandescente e disforme, que acaba rompendo a cápsula que compõe o coração do reator. Pode ser que escorra para a base dos edifícios e ultrapasse até as fundações, vindo a contaminar irremediavelmente o lençol freático na região, coisa que as autoridades encarregadas negam. Independente disso, o combustível exposto torna radioativos todo ar e água com o qual interage.

Mas esse não é o problema maior agora. A água depositada no que resta da estrutura dos reatores continua fervendo, liberando vapores radioativos, e é possível que siga assim por um ano. Fora o fato de a Tokyo Electric Power Company (TEPCO) ainda não saber o que fazer com a água radioativa que resulta dessa operação, já que jogá-la no mar, como já fez, seria uma provocação maior a países vizinhos que também dependem da pesca na região. “De alguma forma, eles terão que coletar esse combustível derretido, e colocá-lo em containers selados, que serão armazenados para sempre em algum depósito seguro”, ensina Gundersen, lembrando em seguida que todo conhecimento científico atual não deu conta de inventar tal solução. Nem o robô para pegar a massa incandescente a mais de 2.000 Célsius, nem os containers para o seu selamento, assim como o trem para transportá-los e muito menos o depósito final desses rejeitos. Nada disso existe ainda.

Impotência oficial
Por outro lado, se a ciência ainda é impotente frente a um episódio como esse, governos e empresas não se saem melhor. Pelo contrário. A reconstrução cronológica do terremoto, seguido pelo tsunami e do desastre nuclear demonstra tal inoperância dos encarregados oficiais, que chega a denotar má-fé. Talvez por conveniência política, o governo japonês demorou três semanas para admitir um “possível processo de fusão” em apenas um dos reatores.

Na iniciativa privada esse desempenho é muito mais decepcionante. A TEPCO precisou de 10 semanas para admitir que a fusão do combustível em três reatores começou logo em seguida do terremoto em 11 de Março. E isso já foi suficiente para fazer de Fukushima o pior acidente industrial da história. “É provável que nas primeiras semanas já tenha sido liberada mais radiação na atmosfera do que no desastre de Chernobyl”, anunciou a empresa.

Em comparação com o acidente na Ucrânia, que completou 25 anos em Abril, Fukushima também acabou por implodir alguns tabus e mitos. Junto com o mito do “uso seguro” da energia nuclear, caiu por terra o tabu da incompetência comunista frente à eficiência e a responsabilidade de uma potência desenvolvida, democrática e capitalista.

Quando Chernobyl explodiu em 1986, os soviéticos botaram o abacaxi imediatamente na mão do exército. Em 10 dias, mais de 6.000 soldados e bombeiros voluntários apagaram o incêndio, e soterraram os escombros do reator sob um sarcófago. Cada um deles recebeu de Mikhail Gorbachev uma medalha de honra pela bravura durante a luta contra o fogo atômico.

No Japão high-tech do século XXI, uma empresa com longa lista de mentiras e irresponsabilidades continua há 120 dias encarregada de resolver o maior acidente nuclear que o mundo já viu. Seus heróis são na maior parte desconhecidos voluntários. Muitos aposentados acima dos 60 anos, dispostos a dar a vida para salvar o país, mas sem nenhuma garantia de que venham a ser reconhecidos pela empresa que opera a usina em pane.

Meio engano
Como pano de fundo dessa tragédia está o terceiro aspecto. Este postado na estrutura da sociedade, sua base cultural. Trata-se da mídia. Especialmente o chamado mainstream, formado pelos grandes grupos tradicionais. Desde o início da crise, os grandes veículos, sempre ávidos a lucrar com tragédias, deram um destaque mínimo para o acidente nuclear. Jornais como a Folha chegaram a preparar páginas especiais na Internet para “esclarecer” que as explosões ocorridas em Fukushima não eram atômicas. Da mesma forma, repetiam com subserviência canina as informações oficiais. Reforçando as informações divulgadas pela Tepco de que a situação estava sob controle, preferiam chamar a atenção para futilidades e quimeras anunciadas pelo governo.

Quase nenhum veículo no mundo inteiro enviou reporteres para a região atingida, ao contrário do que ocorreu no Haiti em 2010. Após as primeiras semanas, o sensacionalismo arrefeceu, e as poucas informações e análises disponíveis desapareceram também. Até mesmo o todo poderoso The New York Times, que chegou a lançar uma página para acompanhar dia-a-dia a evolução da usina japonesa, parou de atualizar os dados no final de Abril. Talvez a única exceção seja a Al Jazeera que, com muito menos recursos, mantém uma cobertura coerente do evento desde o seu início.

Chutômetro

No vácuo de informações abre-se espaço para o besteirol das “autoridades”. Um dos últimos exemplos foi dado na segunda-feira (27/06) pelo presidente da Conferência Interministerial sobre Segurança Nuclear e embaixador do Brasil, Antonio Guerreiro. Em entrevista à Rádio da ONU ele garantiu: “não há condições de fazer uma avaliação clara do que realmente aconteceu”. Só não explicou qual o impedimento para isso. Imprevidência técnica, ou conveniência política?

Em seguida, como se já tivesse esquecido o que havia dito, disparou: “Não morreu ninguém em decorrência do que aconteceu em Fukushima. As mortes não foram decorrentes do acidente nuclear mas do tsunami que aconteceu. A energia nuclear está aí e, dizer que não é segura é uma falácia. Há riscos como em qualquer empreendimento humano. A nossa função é tentar minorar esses riscos e evitar, na medida do possível, que eles aconteçam”. Parece que o repórter nem conseguiu reagir frente a segurança do embaixador. Podia pelo menos perguntar o que fazer com os 900 quilômetros quadrados em volta da usina que já foram oficialmente declarados área inabitável.

Lobistas de todo o mundo já adotam uma lógica similar para prever o futuro da energia nuclear. Em um seminário bancado pela Westinghouse na segunda metade de junho, esses “experts” previram um impacto mínimo do acidente de Fukushima nos investimentos do setor. "Países como China e Índia não têm como dar espaço para decisões de cunho moral, e rejeitar novas usinas, como ocorre em economias desenvolvidas na Europa", disse Martin Daniel, um dos especialistas convidados a falar durante o evento. Só não deu para entender como eles chegaram a tais conclusões se o problema ao qual se referem não chegou ao fim, e nem tem uma previsão confiável para isso, assim como seus impactos.

Por Mariano Senna, Ambiente JÁ, 01/07/2011

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