Um sistema de reuso de água criado na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) possibilita economia de até 27%, redução da quantidade de esgoto produzido e cuidado com o meio ambiente. A instalação pede apenas dois reservatórios e uma bomba, e o custo varia a cada residência, mantendo-se em uma média de R$ 1.100 reais.
A experiência teve início na residência de um casal de professores da universidade, Nicolau Priante Filho e Josita Correto Priante. Eles perceberam que, quando lavavam roupas, faltava água. Decidiram, então, criar um sistema para reaproveitar a água da máquina de lavar e utilizá-la na descarga sanitária e no jardim, minimizando o problema.
A partir disso, um grupo de estudantes e professores da UFMT desenvolveu o projeto “Reuso da água de lavagem de roupas”, entre os anos de 2004 e 2006, implantando o sistema em sete residências, no Parque Cuiabá, local em que havia constante falta de água.
A iniciativa foi finalista do Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia Social, edição 2005, além de escolhida como tecnologia social de potencial de transformação e reaplicação durante o 2º Fórum Nacional da Rede de Tecnologias Sociais (RTS), realizado em Brasília, em 2009.
Dois anos depois, o engenheiro mestre em Hidráulica e Saneamento, Rafael de Paes, desenvolveu estudo acerca da quantidade e qualidade da água reutilizada e acompanhou o comportamento das sete famílias que instalaram o sistema. Elas economizaram entre 8 e 27% da água, variando de acordo com o consumo. Das sete casas, três continuaram fazendo o reuso.
De acordo com Rafael, o gasto com as descargas sanitárias é muito alto em uma residência, podendo chegar a 35% do consumo total – em uma família de seis pessoas, o gasto médio é de 50 litros por pessoa, diariamente. Por outro lado, cerca de 40% do consumo de uma casa é de água não-potável, ou seja, que poderia ser reutilizada.
Ele observou ainda que a família pode ter retorno financeiro – com a economia que o sistema gera –, entre quatro meses e cinco anos após a instalação, a depender do próprio consumo. No entanto, ressalta que a preocupação financeira não deve ser central na decisão de utilizar o sistema, mas sim a “redução do consumo visando promover a conservação dos recursos hídricos e o desenvolvimento sustentável”.
Agora, o sistema será implantado em 40 residências no entorno da Lagoa Encantada do bairro CPA III, com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e deverá começar a funcionar em dois anos. Para as famílias de outros bairros que tenham interesse no sistema, um grupo de voluntários realiza visitas e instrui sobre a instalação. Há ainda um projeto para criar uma empresa incubada de consultoria no assunto.
Como funciona
A água da máquina de lavar roupas é reutilizada excluindo-se a primeira água, que contém muita matéria orgânica. Um adaptador direciona a primeira água para o esgoto, enquanto as águas do enxague vão para um reservatório, que deve ser colocado próximo à máquina.
Uma bomba envia a água do reservatório para outro recipiente, localizado na parte superior da casa, ao lado da caixa de água potável. De lá, a água segue para a descarga, o jardim ou até para uma torneira na calçada.
Um adaptador é instalado entre a caixa de água potável e o reservatório de água reutilizável. Caso a família passe muitos dias sem lavar roupa, não ficará sem água para a descarga, pois o adaptador permite que a água potável passe para o reservatório de reuso. O contrário não acontece, ou seja, a água destinada ao reuso não se mistura com a água potável, impedindo contaminação.
(Adital, Correio do Brasil, 27/6/2011)