Não se espante com o título. A coisa é bem pior do que se imagina, pois selvagem é a forma como muitos perdem a vida no trânsito, resultado da falência de papéis importantes, como de uma fiscalização afirmativa e constante e da responsabilidade de motoristas e pedestres.
Não é possível que autoridades do tema e a comunidade porto-alegrense não consigam vencer a etapa do terrível diagnóstico de caos do trânsito e migrem para a melhoria e superação do sistema.
Uma façanha estamos conseguindo, mais carros na rua conduzidos por motoristas menos humanos e preparados. Mais sujeitos que, apesar do custo, do tempo e dos perigos da direção automotiva querem abandonar o transporte coletivo e protagonizar a agonia da mobilidade segurando um volante.
Os números mostram e evidenciam que o trânsito brasileiro mata tanto quanto a guerra em países bélicos. Os jovens brasileiros morrem violentamente nos finais de semana, em saídas de festas. E de quem é a culpa? De todos!
Para ser franco, a responsabilidade inicia em nossas casas, passa por empresas e paira no governo – em todas as esferas – que discursa e não age. Do crescimento de vendas de carros combinado com a falta de investimento em infra-estrutura; da dormência de projetos de transporte alternativos ao modelo rodoviário à falência dos padrões coletivos. Não esquecendo das leis brandas para os infratores.
Mas como sabemos que as pessoas vivem as cidades, temos que olhar para a nossa Porto Alegre e exigir que os fiscais saiam da moita e multem a olhos vistos, literalmente. A cidade precisa de fiscalização dura e presente. Multar a vista dos motoristas, pois quem regula o trânsito precisa estar orgulhoso de fazer cumprir as leis. Sem medo, sem receios, por que temor deve ter apenas quem é infrator, quem ceifa vidas.
Em recente Fórum na Capital sobre Mobilidade Urbana apontei que a EPTC não faz educação para o trânsito. Pois bem, se fiscaliza mal e educa pouco, o que está fazendo nossa EPTC? Teria perdido seu foco? Há um distanciamento do agente de trânsito com o motorista e o pedestre. Sim, menciono o pedestre também, por que nunca se deu uma multa para um transeunte, embora seja autorizado e determinado em nosso código de trânsito.
A solução combina muitas ações: educação e formação de novos condutores, publicidade ética, fiscalização efetiva e investimento em transporte coletivo, uso de bicicletas e alternativas ao carro. É hora de pressionar para melhorar o transporte público de passageiros, com horários adequados e com qualidade para o usuário. É hora também de exigir ciclovias, pois o Plano Cicloviário já foi alardeado, agora cabe ser feito.
Está na hora de mudanças, de trocar a inércia por atitudes, de ter mais ousadia, mais pegada de gestão. Se os turistas gaúchos amam os metrôs europeus, as ciclovias da Alemanha e a presença da fiscalização estadunidense, é preciso inspiração nestes modelos aqui. Avante, sinal verde para a vida e o bem-estar.
(Especial para o Ambiente JÁ, 27/06/2011)