Tomando como base as taxas de extinções conhecidas na última centena de anos e o número de espécies ameaçadas atualmente, eles chegaram a conclusões alarmantes, indicando que alcançaríamos a sexta grande extinção entre trezentos e onze mil anos.
Sabemos que a interferência humana levou à extinção milhares de espécies na última centena de anos. A escala da redução de populações de espécies é generalizada e muito grande, chegando a atingir cerca de vinte milhões de animais selvagens mortos por ano, apenas em regiões como a África Central. Ao que tudo indica, as principais causas de risco são a perda ou a fragmentação dos habitats, sendo que a caça também é um grande contribuidor, uma vez que a abundância das populações é em torno de trinta vezes menor nessas áreas do que em áreas de preservação. Esse panorama leva à pergunta “a interferência humana atual culminará no sexto evento de extinção em massa?” discutida no artigo intitulado “A sexta extinção em massa já começou?” na revista Nature (471, 51-57).
Tendo em mente o caráter gradual desses eventos, os pesquisadores analisaram o tempo necessário para alcançarmos a destruição de 75% da diversidade biológica existente no planeta, tomando como base as taxas de extinções conhecidas na última centena de anos e o número de espécies ameaçadas atualmente. As conclusões alarmantes indicam que alcançaríamos a sexta grande extinção entre trezentos e onze mil anos.
Embora longa em uma escala antropocêntrica, essa escala temporal é extremamente curta comparada com a escala de extinções dos outros eventos catastróficos, estimadas em centenas de milhares de anos ou mais. “Isto enfatiza que as taxas de extinções atuais são maiores que aquelas que causaram as grandes cinco extinções”, comentam os autores. De fato, as taxas de extinções atuais são comparáveis ou maiores que aquelas observadas nos outros cinco eventos catastróficos.
Apenas cinco eventos de “extinção em massa” - definido como situações nas quais 75 % das espécies foram extintas - foram identificados na história do planeta. Entretanto, “de quatro bilhões de espécies que estima-se que a Terra tenha apresentado nos últimos 3,5 bilhões de anos, 99% não existem mais. Isso mostra que as extinções são muito comuns, mas este fenômeno é compensado pela especiação (processo evolutivo pelo qual as espécies se formam)”, ressaltam os cientistas no artigo.
O evento mais conhecido de extinção é o ocorrido no período Cretáceo (há 65 milhões de anos), que levou ao extermínio dos dinossauros. Esse evento foi causado, provavelmente, pela colisão de um grande meteoro com nosso planeta, culminando na redução da diversidade biológica e em um evento de extinção.
Apesar do caráter pontual deste exemplo específico, os autores do trabalho apontam que em todos os eventos de extinção em massa a sinergia de diversos fatores induz a uma redução dramática do número de espécies ao longo de milhões de anos. Entre eles, são citados a dinâmica climática incomuns, mudanças da composição atmosférica e pressões ecológicas que afetam negativamente linhagens.
No trabalho, os autores afirmam que há diversas dificuldades intrínsecas a essas comparações. Por exemplo, a falta de informação paleontológica de extinção em diferentes biomas, as diferenças de classificação/identificação de espécies por fósseis e o desconhecimento do número de espécies existentes. Mesmo assim, as estimativas mais otimistas (maiores taxas de extinção no passado e menores no presente) mostram que o cenário é preocupante. Desta forma, pesquisa em alguns pontos é fundamental para aprimorar nosso entendimento destes eventos: 1) qual a chance de espécies ameaçadas se extinguirem?, 2) as taxas atuais crescerão ou diminuirão? e 3) qual é a confiabilidade das estimativas realizadas com base em dados paleontológicos.
A elaboração desse estudo chama a atenção pela análise rigorosa de dados disponíveis que aponta uma caminhada acelerada em direção à redução drástica da biodiversidade do planeta e, neste sentido aponta a importância do desenvolvimento de métodos e técnicas para a reversão desse quadro e, de forma que estes mecanismos possam adquirir o status de políticas públicas de desenvolvimento e preservação.
(Por Andreia Hisi, Com Ciência, EcoAgência, 27/06/2011)