A energia nuclear perdeu adeptos com a crise que se arrasta há três meses na central de Fukushima, no Japão, devastada por um tsunami. Três em cada cinco cidadãos de 24 países não querem esta fonte de energia, revela uma sondagem do Ipsos.
Na lista das fontes de energia “preferidas” pelos inquiridos, o nuclear surge em último lugar (38 por cento de defensores), tendo à frente o carvão (48 por cento), gás natural (80 por cento), hidroeléctrica (91 por cento), eólica (93 por cento) e solar (97 por cento).
Os países onde o nuclear encontra mais opositores são a Itália, Turquia, México e Alemanha. Por seu lado, o apoio é mais elevado na Índia, Polónia e Estados Unidos.
A sondagem do Ipsos - realizada de 6 a 21 de Maio deste ano junto de 18.787 adultos de 24 países – mostra ainda que três quartos dos inquiridos acredita que o nuclear é uma energia limitada e que depressa se tornará obsoleta.
Dos 62 por cento de inquiridos contra o nuclear, um quarto (26 por cento) diz ter sido influenciado por Fukushima. Os países que mudaram de opinião por causa da crise no Japão são a Coreia do Sul (66 por cento), o próprio Japão e a China (ambos com 52 por cento) e a Índia (50 por cento).
“A energia nuclear é um tema controverso, mesmo nos tempos tranquilos. O desastre em Fukushima teve, claramente, um impacto negativo na forma como as pessoas olham para ela”, disse o director do Ipsos MORI Reputation Centre, Milorad Ajder, em comunicado.
Em média, 54 por cento concordam com a forma como o Governo japonês divulgou as informações sobre o acidente e os esforços de estabilização da central. No Japão, essa percentagem é menor, de 28 por cento. Mas é a Coreia do Sul quem menos concorda com a “honestidade” do Governo nipónico, registando 17 por cento. Nas semanas que se seguiram ao acidente, este país foi muito crítico à actuação das autoridades japonesas, queixando-se da pouca informação sobre as fugas de água radioactiva para o oceano.
O Brasil é o país que mais se opõe a novas centrais nucleares
Apenas três em cada dez inquiridos (31 por cento) apoiam a continuação da construção de novas centrais nucleares. O Brasil é o país que mais se opõe a novas centrais (89 por cento), seguido do México (87 por cento), Alemanha (85 por cento) e Itália (83 por cento).
Na Grã-Bretanha, essa percentagem é mais baixa, de 57 por cento. Ontem, o Governo britânico anunciou os planos para a próxima geração de centrais nucleares, confirmando uma lista de oito localizações para instalar centrais até 2025. “Cerca de um quarto da capacidade britânica de geração de energia terminará no final desta década. Precisamos de substituí-la com esta energia segura, de baixo carbono e que não é muito cara”, comentou o ministro da Energia Charles Hendry, citado pela BBC.
Segundo a sondagem, 51 por cento dos inquiridos na Grã-Bretanha opõe-se ao nuclear, com 20 por cento a admitir ter sido influenciada por Fukushima.
Em sentido inverso segue a Alemanha, que a 29 de Maio anunciou que a partir de 2022 não terá centrais nucleares a funcionar. A Alemanha tornou-se, assim, o país a decidir a mais drástica redução do seu programa atómico depois do desastre de Fukushima.
Outro momento que marcou o debate surgiu a 13 de Junho em Itália, através de um referendo, em que 95 por cento dos cidadãos aprovaram uma alteração legal que rejeita o uso da energia nuclear no país, pondo fim às ambições do Governo de Silvio Berlusconi de relançar o programa atómico em Itália.
A sondagem do Ipsos foi realizada na África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Bélgica, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Espanha, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Hungria, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Polónia, Rússia, Suécia e Turquia.
(Por Helena Geraldes, Ecosfera, 27/06/2011)