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pombos saúde pública
2011-06-22 | Tatianaf

O número de reclamações feitas pela população sobre a presença massiva e indesejável de pombos dobrou nos últimos quatro anos no Rio de Janeiro. De acordo com dados do Centro de Controle de Zoonoses da capital fluminense, atualmente são registradas cerca de 80 a 100 ocorrências por mês. Em 2007, essa média era de 40 registros.

Paulo Roberto da Silva, responsável pela limpeza do terraço de um prédio no centro da cidade, convive com a situação diariamente e relata que o local é usado como moradia pelos pombos. “Tenho que limpar todos os dias e o cheiro é horrível. Às vezes têm muitas fezes e quando bate sol o cheiro fica insuportável. Tem até ninhos!”

Os ninhos e as fezes representam os maiores riscos nesse tipo de ambiente com grande aglomeração de pombos. O excremento pode concentrar o fungo transmissor da doença Cryptococus que compromete o pulmão e pode afetar o sistema nervoso central, causando alergias, micose e até meningite. Para ocorrer o contágio, basta apenas que a pessoa inale a poeira das fezes secas dos animais.

Fernando Ferreira, responsável pelo Controle de Zoonoses do município do Rio de Janeiro, alerta que “o mais grave é que ela [a doença] se manifesta como uma gripe comum. Se a pessoa não falar com o médico que tem contato com pombos, que limpa as fezes, o médico não tem como fazer o diagnóstico preciso. A doença é muito parecida com a gripe e o resfriado e, quando se chega ao diagnóstico correto, a pessoa já está em estágio muito avançado e precisa de um tratamento mais especializado”.

A pessoa contaminada pode apresentar febre, tosse, dor torácica, dor de cabeça, sonolência, rigidez da nuca, agitação e confusão mental. Os pombos também são responsáveis pela transmissão da toxoplasmose, histoplasmose, erisipela, salmonelose, candidíase e aspergilose. O contágio ocorre sempre pela inalação das fezes secas depositadas em caixas armazenadas, no chão, em beirais, em máquinas ou em qualquer outro local. Outra forma de contaminação é por meio dos piolhos dos pombos.

Em 2007, uma infestação de piolhos de pombos obrigou a direção da maternidade do Hospital Universitário Antônio Pedro, em Niterói, região metropolitana do Rio, a evacuar e fechar um andar inteiro do prédio. A infestação foi descoberta depois que o setor de enfermagem percebeu uma grande quantidade de piolhos da ave na janela.

Segundo o veterinário Fernando Ferreira, a interferência da população que insiste em alimentar as aves é o principal agravante. “Isso reduz muito a vida de uma ave que teria uma duração de 15 a 25 anos e com esse tipo de alimentação [imprópria] acaba vivendo 3 anos no máximo. Além disso, com a facilidade de alimento, ela esquece o hábito de vida livre”, explicou Ferreira ao lembrar que esse costume é o que atrai aglomerados de pombos para as cidades.

Em Londrina, no Paraná, a superpopulação da ave chegou ao limite. Em 2009, a prefeitura da cidade publicou um decreto proibindo os moradores de alimentar pombos. A situação de Londrina vem sendo tratada como de alto risco à saúde pública e levou, no ano passado, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) a autorizar o abate das aves, abrindo uma exceção à determinação da Lei 9.605 (de 12/02/98), que considera os pombos animais domésticos ou já domesticados, “levando qualquer ação de controle que provoque a morte, danos físicos, maus tratos e apreensão, passível de pena reclusiva inafiançável de até 5 anos”.

Para o supervisor veterinário da Sociedade União Internacional Protetora dos Animais (Suipa), Izanag Ferreira, o Rio de Janeiro está caminhando muito rapidamente para uma situação semelhante à de Londrina e que tudo depende de uma mudança de hábito das pessoas. O veterinário da Suipa lembra que a instituição defende a vida dessas aves e que existem meios de controle sem a necessidade de extermínio. “Se você não der comida e não der abrigo, ele [o pombo], por si só, diminui a reprodução. Eles [pombos] não vão morrer de fome porque não têm milho, mas vão migrar para outra região atrás de alimentos.”

(Por Carolina Gonçalves, Agência Brasil, EcoDebate, 22/06/2011)


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