Foram dez meses de trabalho incessante, com mais de duzentas mil pessoas envolvidas em educação ambiental e 64 toneladas de resíduos recolhidos nas margens de três rios: Tigre, Suzana e Dourado. Esses são alguns resultados do projeto Revitalização dos Rios de Erechim, apresentados nesta terça-feira, 21, em um fórum que reuniu representantes de instituições, entidades e voluntários que participaram da iniciativa inédita, como a ONG Eloverde, que coordenou a ação, Ministério Público e poderes Judiciário, Legislativo e Executivo Municipal.
Segundo os dados apresentados, a situação mais crítica foi a do rio Tigre, de onde é retirada a água que abastece a cidade. Lá foram recolhidas 60,55 toneladas de lixo. No Suzana foram duas toneladas e, no Dourado, 1,5 tonelada.
Conforme o promotor de Justiça com atuação na área ambiental na Comarca, a iniciativa fez o Município tornar-se referência para a região: “O projeto já faz diferença na nossa sociedade. Os resultados obtidos estão sendo reconhecidos e a ideia está se difundindo para todos os municípios da região”. Para Mauricio Sanchotene de Aguiar, é importante também viabilizar a permanência de ações de educação ambiental na comunidade.
A importância da difusão da iniciativa também foi destacada pela coordenadora do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente, Marta Leiria Leal Pacheco. “É um trabalho exemplar que pode ser multiplicado, beneficiando outras regiões do Estado”, disse. Segundo ela, a articulação de uma rede de parceiros para execução do trabalho é uma característica essencial. “A atuação conjunta demonstra que, como diz nossa Constituição, a defesa do meio ambiente depende não apenas do poder público, mas também da sociedade. O que vemos é a conscientização ambiental e a atuação coletiva em prol de um patrimônio que é de todos”, salientou Marta Pacheco.
Conforme a presidente da ONG Eloverde, Rosane Peluzzo, o projeto fará parte de um banco de iniciativas do Ministério do Meio Ambiente e o objetivo é estender ele a outros municípios. “Espero que a ideia venha a somar na melhoria da nossa sociedade. É uma grande realização e demonstração da capacidade de fazer acontecer, de realizar um sonho”, disse ela.
Também participaram do evento o prefeito de Erechim, Paulo Alfredo Pólio; o presidente da Câmara de Vereadores, Marcelo Demoliner; o secretário executivo do Conselho Federal Gestor de Direitos Difusos do Ministério da Justiça, Nelson Campos; entre outras autoridades.
O PROJETO REVITALIZAÇÃO DOS RIOS DE ERECHIM
Lançado no ano passado, o projeto foi desenvolvido em 19 etapas. As ações incluíram o diagnóstico da situação dos rios Tigre, Suzana e Dourado na abrangência do Município, educação ambiental com conscientização da comunidade e limpeza dos mananciais.
Com o apoio de voluntários e o trabalho de 30 pessoas que cumpriam pena de prestação de serviços à comunidade, foram recolhidas 64,05 toneladas de resíduos dos rios. O material encontrado foi de todos os tipos: móveis, eletrodomésticos, utensílios da casa, garrafas plásticas, brinquedos, roupas, bolsas, entre outros. "Era um cenário de desolação, tamanha era a quantidade de lixo acumulado. Em alguns casos, a vegetação às margens dos rios parecia varais, com muitas roupas jogadas no rio pela população que ficavam presas após as cheias", relata o engenheiro químico Heraldo Ribeiro, que coordenou o trabalho de coleta dos resíduos sólidos. Ele alerta que outro problema é a poluição por esgoto e substâncias como metais, oriundas, por exemplo, das lâmpadas quebradas jogadas nas águas. "São metais que não são retirados com o tratamento da água. E a população precisa se conscientizar disso", reforçou.
Conforme a presidente da Elovede, Rosane Peluzzo, uma das constatações do projeto, e que reforça a importância da iniciativa, é que a comunidade estava alheia à situação ambiental de Erechim.
Ao todo, 132 voluntários participaram dos trabalhos de informação, capacitarão e educação ambiente. Somente em oficinas, quatro mil pessoas passaram por um processo de conscientização. O foco, segundo os integrantes do projeto, era informar, comunicar e interagir com a sociedade civil, para sensibilizar as pessoas para a questão ambiental. As oficinas aconteceram em entidades, organizações e escolas. O processo de educação também se deu por meio de um trabalho corpo a corpo, feito com os moradores de Erechim em suas casas, especialmente nas imediações dos rios e em espaços de circulação pública.
A iniciativa começou a ser pensada ainda em 2009, por meio de um diálogo entre a ONG, o Ministério Público e o Fórum de Erechim. A meta era criar um trabalho de educação e reintegração de apenados que poderiam converter a pena em serviços comunitários e que também viabilizasse resultados positivos ao meio ambiente.
Elaborado o Projeto, teve início a busca por financiamento e apoio para a execução. A maior parte dos recursos veio do Fundo de Direitos Difusos do Ministério da Justiça. O ineditismo da proposta foi reconhecido também pelo Ministério do Meio Ambiente, que premiou o projeto com o reconhecimento “Práticas Inovadoras em Revitalização de Bacias Hidrográficas”.
Agora a proposta é aprofundar o trabalho, desenvolvendo novas ações para ampliar a limpeza das águas e conter os resíduos em pontos críticos identificados pelo projeto.
(Por Natália Pianegonda, MP-RS, 21/06/2011)