Lutando pelo direito de se expressar, reivindicar, pensar e agir, os cerca de mil participantes da Marcha da Liberdade, realizada neste sábado (18), mostraram que a insatisfação dos capixabas vai além das recentes manifestações dos estudantes, nas últimas semanas. Em marcha, a população mostrou insatisfação também com os rumos da proteção ambiental no Espírito Santo.
De cima do carro de som, a atuação de empresas como a atual Fibria (ex-Aracruz Celulose) foi lembrada, assim como a conseqüência da ocupação de áreas ambientais e tradicionalmente indígenas e quilombolas pela empresa.
Também não ficou de fora a omissão do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) diante de impactos ambientais gerados por grandes empresas poluidoras; a desvalorização do seu corpo técnico pelo próprio órgão e a ocupação de áreas ambientais com eucaliptos, conforme retratado às margens do rio Jucu.
Na marcha, que ocorreu simultaneamente em diversos outros estados, os participantes se mostraram incomodados. Não puderam ser classificados como baderneiros, pois, munidos de cores, flores e muitas faixas de protesto, não deixaram de lado as principais pautas da manifestação, como a liberdade de expressão, diversidade sexual, democracia, igualdade e pela legalização da maconha, entre outros itens. Mas as reivindicações ligadas à administração estadual no Espírito Santo, inclusive em relação ao meio ambiente, surpreendeu pela adesão da população, que, de suas varandas, aplaudiam os discursos feitos pelas lideranças.
O que se viu é que os capixabas estão dispostos a mudar esta realidade e a não mais tolerar os desmandos ambientais em prol do ‘desenvolvimento’ no Espírito Santo.
Para eles, falta no Estado um governo que de fato represente e defenda o bem-estar da sua população ao invés do desenvolvimento de terceiros.
Foram cobrados, portanto, o fim do monopólio da monocultura do eucalipto nas terras do norte do Estado e o respeito às comunidades tradicionais indígenas e quilombolas que vivem ilhadas por esta cultura; a proteção das florestas e o fim da omissão dos órgãos ambientais diante da fiscalização do ar e da contaminação do solo. Eles reclamaram também da abertura do governo estadual e os incentivos dados para grandes empreendimentos poluidores. Foram duros também quanto à aprovação do novo Código Florestal Brasileiro na Câmara dos Deputados, em Brasília.
Para o País, ressaltaram eles, o novo Código Florestal dará início a uma nova era de degradação, desta vez sob o respaldo do próprio governo federal.
Já no Estado, a falta de informações sobre a postura de empresas atuantes no território capixaba foi lembrada e duramente criticada. Segundo os manifestantes, falta de diálogo entre governo e população.
Durante todo o percurso, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) à Praça dos Namorados, na Praia do Canto, em Vitória, os cerca de mil participantes da manifestação prometeram protestar contra a aprovação do Código Florestal e pelo fim da criminalização dos movimentos sociais que lutam pela preservação do meio ambiente no Espírito Santo.
A esperança é de se construir um Estado mais justo e que veja as
reivindicações como um ato democrático. A marcha foi apoiada por 41 entidades da sociedade civil organizada no Estado.
(Por Flavia Bernardes, Século Diário, 20/06/2011)