Pequenas, idílicas e desprotegidas: Vanatu e Tonga, ilhas localizadas no Pacífico, são os dois países mais expostos ao risco de acidentes naturais trazido pelas mudanças do clima. O dado consta no novo Relatório de Risco Mundial, um índice criado pelo Instituto de Meio Ambiente e Segurança Humana da Universidade das Nações Unidas, apresentando em Bonn nesta semana.
O estudo analisou 173 países e considerou aspectos ambientais e humanos, como exposição a catástrofes naturais provocadas pelo clima e vulnerabilidade social.
O índice também avaliou fatores econômicos, assim como aspectos governamentais, todos considerados decisivos para evitar que um evento natural, como terremoto ou enchente, se transforme numa catástrofe. Segundo o ranking, as Filipinas são o terceiro país com risco mais elevado.
Na outra ponta da escala, a ilha de Malta e o Qatar aparecem como locais menos expostos ao perigo.
Numa escala de cinco níveis que vai de risco "muito elevado" (grau 5) a "muito baixo" (grau 1), a situação no Brasil é tida como de pouco perigo --grau 4. Já os demais países da América Latina foram classificados como nações que oferecem risco "muito elevado" ou "elevado".
ASPECTO HUMANO
O ranking do Relatório de Risco Mundial foi feito com base numa combinação de diferentes itens avaliados.
Primeiramente, considera-se o quão expostos estão os países a uma ameaça natural: terremotos, tornados, inundações, seca e elevação do nível do mar.
No quesito vulnerabilidade, entram aspectos como infraestrutura oferecida pelo país, situação das moradias, alimentação, parcela de pobreza da população e ganho salarial.
A estrutura governamental, assim como o serviço médico, a organização social e o sistema de alerta contra catástrofes são itens considerados como capacidade de responder a um evento natural.
Por último, a capacidade de adaptação leva em conta a dedicação à pesquisa, o nível de formação escolar dos países, proteção climática, estratégias e investimentos.
"Eventos naturais extremos não precisam se tornar, necessariamente, uma catástrofe. O risco não depende apenas da ameaça natural, mas os fatores sociais e econômicos são determinantes", comenta Peter Mucke, diretor da associação Entwickung Hilft (Desenvolvimento Ajuda), organização que trabalhou na pesquisa.
Dois acontecimentos recentes ilustram bem a avaliação feita no relatório. O Japão, por exemplo, é um país bastante exposto a riscos de acidentes naturais numa comparação global --até mais que o Haiti. Abalado por um dos terremotos mais violentos da história, o país registrou 28 mil mortos, enquanto que, na ilha caribenha, o número de vítimas chegou a 220 mil.
"Essa diferença na dimensão dos efeitos catastróficos de tais eventos naturais revelam os diferentes tipos de vulnerabilidade dos países, que é um importante item considerado no índice", diz o relatório. No ranking, o risco no Haiti é considerado "muito elevado" e no Japão "alto".
UM EXEMPLO LATINO
Posicionado como o 25º país mais expostos a riscos, o Chile sofreu com o abalo sísmico de fevereiro de 2010.
Apesar da magnitude de 8,8 graus na escala Richter, o terremoto matou de 562 cidadãos. Segundo o Relatório, nesse caso, a administração federal teve um papel importante na reação rápida ao evento natural devido à eficiência do setor público e à política anticorrupção do governo, considerada boa.
Os autores do estudo afirmam que, desde os anos de 1960, as instituições governamentais chilenas se preocupam em melhorar o setor da construção civil. "As estruturas dos prédios mais estáveis, pelo menos nas novas construções, devem ter sido um motivo importante para que o número de mortos fosse pequeno", conclui o texto.
As tecnologias inovadoras contra catástrofes e a aplicação regular de treinamentos também são pontos ressaltados.
(Folha.com, 20/06/2011)