Na última segunda-feira (13), a Defensoria Pública da Argentina solicitou ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Pesca do país que ‘proíba imediatamente’ o uso do agrotóxico endosulfan nas produções agrícolas argentinas. Isso porque o inseticida mais usado do país é considerado como ‘altamente tóxico’ pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O uso deste produto já é proibido em 74 países.
Segundo a Resolução 101/11 da Defensoria Pública, o Ministério da Saúde do país afirma que o endosulfan possui propriedades carcinogênicas para os seres humanos, causa alterações neurológicas, irritação nos olhos e nas vias respiratórias, problemas no sistema reprodutivo masculino, danos nos rins e no fígado, entre outros efeitos.
Na ocasião da 5ª Reunião da Conferência das Partes (COP5), realizada no último mês de abril, o Convênio de Estocolmo determinou que o endosulfan seja incluído na lista de "contaminantes orgânicos persistentes” e solicitou sua retirada do mercado até abril de 2012, pelos "graves efeitos” que causa nas pessoas.
Apesar da proibição e de muitas denúncias sobre seus efeitos negativos, empresários, produtores e agricultores argentinos insistem em usar o produto, alegando que ele é ‘menos nocivo’.
Dados da Câmara Sanitária Agropecuária e Fertilizante (Casafe) indicam um crescimento no uso desta substância. Em 2003, o país registrou a comercialização de 3,4 milhões de litros do endosulfan. Em 2006, este número aumentou para 4,2 milhões e em 2010, foram 5,5 milhões de litros utilizados na produção agrícola. O praguicida é usado para combater insetos por contato na produção de algodão, milho, soja, girassol, hortaliças e outros.
A Casafe, que reúne empresas do setor de pesticidas, se pronunciou afirmando que respeitará a resolução do Convênio de Estocolmo, mas rechaçou o pedido da Defensoria em proibir o uso do inseticida imediatamente. Empresas como Dupont, Nidera, Brometan, Chemotecnica, Chemplant, Nufarm, Ciagro e Magan, produzem ou comercializam esta substância.
Para o pesquisador e coordenador da Rede de Ação em Praguicidas da América Latina (Rapal), Javier Souza Casadinho, este crescimento no uso da substância se deve ao modelo agrícola vigente. Ele alertou que o uso de agrotóxicos também é frequente na horticultura e no monocultivo da soja. Para combater este modelo, a Rapal defende a prática saudável da agroecologia.
Protestos e mobilizações
Depois de ter coletado mais de 9 mil assinaturas de pessoas favoráveis à petição pela Mudança de Metodologia da classificação dos agroquímicos, e diante do silêncio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Pesca, o engenheiro Claudio Lowy decidiu, ontem (14), iniciar uma greve de fome.
Integrante da Rede Nacional de Ação Ecologista da Argentina (Renace), o engenheiro ambientalista pede que o Ministério considere o "conjunto de todos os danos [dos agroquímicos] para a saúde que por sua toxicidade podem gerar estes produtos, e não apenas a toxicidade letal aguda”. Há mais de seis meses que o engenheiro solicita essa mudança no Ministério.
A Renace ressalta que o objetivo da ação é chamar atenção para o fato de milhares de pessoas serem afetadas pelas pulverizações e para a falta de interesse do Ministério em proteger a saúde e a vida da população dos danos causados pelos pesticidas, aplicados muitas vezes em áreas muito próximas às zonas urbanas.
Na localidade de Santa Fé, onde as pulverizações acontecem perto das casas e das escolas rurais, afetando a saúde, principalmente, de crianças, a Renace e o Centro de Proteção da Natureza (Cepronat) realizam campanha "Parem de nos Pulverizar”.
A Renace pede o apoio de toda a população e orienta que os interessados em ajudar a pressionar o governo para restringir o uso de agrotóxicos na Argentina podem enviar mensagens para o Ministério de Agricultura, Pecuária e Pesca, no e-mail prensa1@minagri.gob.ar ou telefonar para o Departamento de Información al Ciudadano – (54-11) 4349-2182
Com informações da imprensa local e Renace.
(Por Tatiana Félix, Adital, 16/06/2011)