Um projeto de complexo turístico de proporções gigantescas ameaça a reserva natural do lago Qarun, no oásis de Al Fayoum, ao sul do Cairo, onde vivem milhares de aves e se encontram fósseis e jazidas arqueológicas ainda não estudados.
Os ambientalistas, que defendem o turismo sustentável na região, veem com suspeita este projeto depois que o governo do ex-presidente Hosni Mubarak cedeu, em dezembro do ano passado, 2,8 quilômetros quadrados de terreno junto ao lago à construtora Amre Group por US$ 0,01 por metro quadrado.
A chegada da revolução, a renúncia de Mubarak ao poder no último dia 11 de fevereiro e o encarceramento por enriquecimento ilícito e desvio de fundos de dois dos ministros que assinaram o acordo --o de Turismo, Zoheir Grana, e o da Habitação, Ahmed el Magrebi-- lançaram uma nova sombra de dúvida sobre o futuro do lago Qarun.
"Pode acontecer qualquer coisa, há muita incerteza agora no Egito", afirmou à Agência Efe a ativista da organização Conservação da Natureza do Egito (CNE) Rebecca Porteous, reconhecendo que a revolução "é uma janela aberta de possibilidades".
Ainda assim, Porteous lamentou a construção de uma estrada que ligará o Cairo ao lago Qarun e que, no futuro, permitirá o acesso ao gigantesco complexo turístico no qual está prevista a construção de hotéis com um total de 12 mil quartos e outros tantos chalés.
Os arredores do lago Qarun foram pouco explorados e escondem uma jazida com fósseis de até 40 milhões de anos de antiguidade, onde foram descobertos os restos do macaco registrado como o mais antigo do mundo, assim como o de elefantes, pássaros e inclusive tubarões, golfinhos e cavalos-marinhos.
Além disso, várias espécies de pássaros vivem nos pantanais do lago, onde não é raro ver flamingos, águias, falcões, cisnes e patos, além de aves migratórias.
FRAGILIDADE
Porteous se mostrou preocupada com a fragilidade do equilíbrio ambiental da região. "A área da qual estamos falando é tão delicada que se um carro passar pelos pantanais, os destroçará", garantiu.
Os ecologistas alertam para o estado de deterioração do lago, onde desembocam águas e esgoto das cidades vizinhas, e denunciam a falta de fundos do Ministério do Meio Ambiente para a proteção de áreas como a floresta petrificada.
"O ministério destinou apenas 600 euros durante três anos para uma área de 100 quilômetros quadrados", denunciou Porteous.
A ativista explicou que os guardas-florestais da região tiveram que arrecadar fundos para comprar estacas de madeira e cordas que permitiram isolar a floresta petrificada. Para evitar a destruição do espaço, os ativistas da CNE e guardas florestais propõem destinar a zona ao turismo ecológico.
No entanto, o arquiteto Mohammed Abdel Khatib lamentou que "as autoridades tenham na cabeça [a cidade turística de] Sharm el- Sheikh ou a costa mediterrânea, e tentem copiar o mesmo estilo" mesmo que ele não se ajuste a este caso.
"Al Fayoum não é um lugar para o turismo de massas", disse à Efe Abdel Khatib, que trabalhou durante duas décadas com a administração egípcia para elaborar um projeto de turismo sustentável na área.
Neste sentido, Porteous destacou que "a força de Al Fayoum reside em um tipo de turismo para visitantes que apreciem a natureza e as antiguidades, não apenas as pirâmides e os cruzeiros".
(Efe, Folha.com, 13/06/2011)