Em agosto, a refinaria de petróleo Riograndense (ex-Ipiranga) finaliza a ampliação da sua unidade de solventes especiais. As obras se iniciaram em setembro do ano passado, absorvendo cerca de R$ 7,5 milhões, e permitirão que o complexo produza pentano, isopentano e normal pentano, insumos que são empregados nos segmentos de embalagens industriais, construção civil, agricultura e utilitários domésticos.
O presidente do Sindicato dos Petroleiros de Rio Grande (Sindipetro), José Marcos Olioni, informa que a planta terá capacidade para produzir 30 mil litros por dia desses solventes. "Só essa atividade, irá saldar a folha de pagamento e ainda proporcionará um lucro de cerca de R$ 1 milhão por mês", projeta o dirigente. A medida ameniza o impacto causado pela defasagem dos preços do óleo diesel e da gasolina em relação ao do petróleo internacional.
A ex-diretora-superintendente da refinaria Ipiranga Elizabeth Tellechea era uma executiva que constantemente reclamava desse fato. Como a Petrobras, que detém praticamente toda a capacidade de refino de petróleo do Brasil, tem uma política de não repassar integralmente aos derivados o aumento do barril do petróleo no mercado internacional, a refinaria de Rio Grande não tinha como competir com os preços praticados pela estatal.
A companhia adota essa prática devido aos alinhamentos com a política macroeconômica do governo federal e também porque pode recuperar o impacto na área do refino com outras operações.
Olioni recorda que depois da venda do Grupo Ipiranga, em março de 2007, quando Petrobras, Braskem e Grupo Ultra dividiram o controle da refinaria da Metade Sul, foi feito um acordo com a estatal para amenizar esse cenário. Quando o valor internacional do petróleo está muito elevado (como é a situação atual), a refinaria Riograndense presta serviços para a Petrobras, que paga os custos operacionais, incluindo os trabalhadores. Ou seja, a estatal fornece o petróleo para o complexo gaúcho, que lhe devolve os derivados. Quando o preço do petróleo está competitivo, a Riograndense pode operar naturalmente, inclusive, se optar por isso, comprando petróleo de fornecedores internacionais.
De acordo com o presidente do Sindipetro, a combinação permite que a estrutura não interrompa suas atividades, algo verificado na primeira metade da década passada. "Mas, mesmo operando à plena carga, o resultado financeiro termina empatado e os trabalhadores acabam não tendo participação nos lucros", lamenta.
Uma iniciativa que pode melhorar a condição de operação da refinaria, indica Olioni, é a Petrobras assumir por completo o controle da empresa. O dirigente acredita que a Ultra e a Braskem repassariam suas participações, sem envolver grandes valores. Ele prevê que a Petrobras acabará assumindo o comando da refinaria. "Porém, o processo está muito lento", diz. O Sindipetro e a Federação Única dos Petroleiros (FUP) já entregaram à Petrobras um projeto para ampliar a capacidade de processamento da refinaria em mais 25 mil barris de petróleo por dia, o que implicaria investimento de aproximadamente R$ 800 milhões. Atualmente, a Riograndense pode processar até 17 mil barris diários (menos do que 1% da capacidade nacional) para fabricar, principalmente, gasolina, óleo diesel, bunker, asfalto, GLP e solventes.
Desde o começo do mês, a refinaria tem um novo diretor-superintendente: Hamilton Romanato Ribeiro. O executivo de carreira da Petrobras substituiu Margareth Feijó Brunnet, que assumiu a direção da petroquímica Innova no polo de Triunfo. Olioni adianta que a proposta de expansão será levada até Ribeiro para discuti-la. "O desenvolvimento do polo naval não pode fazer com que se esqueça da refinaria", defende o presidente do Sindipetro. Atualmente, a companhia emprega cerca de 300 pessoas diretamente e mais 300 indiretamente.
Controle da Petrobras é defendido pelo prefeito e empresários de Rio Grande
O presidente do Sindipetro, José Marcos Olioni, não está sozinho na sugestão de que a Petrobras assuma o comando da refinaria Riograndense. Entre os apoiadores dessa ideia estão o prefeito de Rio Grande, Fábio Branco (PMDB), e o presidente da Câmara de Comércio de Rio Grande, Paulo Somensi. Branco explica sua posição ressaltando que a estatal tem o refino como uma atividade natural, o que não se verifica com a Braskem e o Grupo Ultra. Ele acrescenta que o fato de o controle ser dividido dificulta a tomada de decisões como, por exemplo, de investimentos futuros. "A refinaria, sendo administrada pela Petrobras, só tem a ganhar", diz.
Somensi também acredita que a ação seria vantajosa para a região. Entre as razões está o tamanho da Petrobras e o fato de se tratar de uma estatal. Já o deputado estadual Raul Pont (PT), que defendeu a movimentação da Petrobras para adquirir o controle total da Refap e da petroquímica Innova, é mais comedido em relação ao empreendimento em Rio Grande. "Sou favorável que se mantenha funcionando."
O deputado revela que quando foi discutida a compra da participação da Repsol na Refap, por parte da Petrobras, o assunto da refinaria de Rio Grande foi mencionado. Contudo, o diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, comentou que o problema era a competitividade do complexo, que possui equipamentos antigos e necessitaria de um investimento muito grande. Outro empecilho é que a Refap, em Canoas, tem condições de atender a toda a demanda gaúcha de combustíveis.
"No caso da refinaria de Rio Grande, que estava destinada a ser fechada, conseguiu-se o compromisso de que os três sócios manteriam funcionando o complexo, em função dos empregos gerados", relata Pont. Ele detalha que foi feito um "acordo de cavalheiros" para não prejudicar a cidade. Pont cogita que a Riograndense possa passar por uma readequação e ampliar seus serviços fornecendo, por exemplo, matéria-prima para o polo petroquímico de Triunfo. No passado, a venda de nafta para o polo foi uma opção avaliada. Entretanto, Olioni informa que, no momento, é pouca a produção desse insumo.
Empresa reduz verba de patrocínios
Além da mudança de nome e societária, um ponto que chamou a atenção com a troca de controle da refinaria de Rio Grande foi a redução dos investimentos que a companhia realizava nas áreas culturais e sociais. O presidente do Sindipetro, José Marcos Olioni, destaca que a empresa não tem mais a participação nessas atividades. Olioni crê que a companhia, devido aos prejuízos passados, tentou estancar os gastos. O dirigente salienta que a empresa colocou à venda a colônia de férias dos funcionários, localizada na Praia do Cassino. O sindicato entrou com uma ação na Justiça contestando a iniciativa e a questão ainda está em análise.
O presidente da Câmara de Comércio do Rio Grande, Paulo Somensi, confirma que ficou mais escassa a participação da refinaria em patrocínios culturais e sociais. Ele lembra que quem viabilizou a reforma do prédio histórico da Câmara de Comércio, em conjunto com a Lei de Incentivo à Cultura, foi a refinaria Ipiranga. Apesar da redução dos repasses, o prefeito de Rio Grande, Fábio Branco, salienta que a refinaria continua sendo a maior fonte de recursos do município, contribuindo com cerca de 15% da arrecadação.
Não é somente nas áreas social e cultural que a refinaria de Rio Grande ficou mais "tímida" desde que deixou de ser Ipiranga. Margareth Feijó Brunnet exerceu a função de diretora-superintendente da Riograndense e, poucas vezes, concedeu depoimentos aos meios de comunicação. Já o atual diretor-superintendente, Hamilton Romanato Ribeiro, procurado pela reportagem, informou, através da assessoria de imprensa, que prefere ter mais tempo para se ambientar na companhia.
(Por Jefferson Klein, JC-RS, 13/06/2011)