As reportagens publicadas em torno do debate sobre mudanças no Código Florestal, somadas ao material que relata conflitos no campo e as ações dos movimentos de agricultores sem terra, estão produzindo desvios na questão central que coloca em confronto representantes do movimento ambientalista e boa parte do empresariado rural.
Pode-se afirmar que tais desvios são produzidos em parte pela ausência de uma visão de sustentabilidade sobre o projeto de desenvolvimento do país, que mantém o tema aprisionado em expressões e conceitos que já não fazem muito sentido.
Desde os primórdios da República, por exemplo, a expressão “reforma agrária” é colocada no centro da questão, como uma bandeira dos grupos políticos chamados de “esquerda”.
Qualidade de vida
Em variados estudos apresentados nos últimos anos em congressos e seminários sobre o desenvolvimento sustentável, esse conceito vem sendo substituído pela proposta de gestão territorial sistêmica, que não tem como pressuposto pétreo a propriedade da terra por quem a cultiva.
Nesse conceito, o uso da terra deve ser planejado em conjunto pelo poder público, a sociedade e a iniciativa privada, de acordo com as vocações regionais, as demandas específicas de negócio, o interesse geral do país definido em sua política econômica e a obrigatoriedade da exploração racional e sustentável do solo, da água e demais recursos naturais.
Do modo como a questão é apresentada pela imprensa, ficam os ruralistas em confronto com ambientalistas, correligionários à esquerda e à direita esgrimindo argumentos fragmentados e a sociedade, de modo geral, formulando conceitos incompletos e eventualmente equivocados sobre o tema.
Enquanto isso, brotam por aí experimentos de gestão sustentável onde se organizam arranjos produtivos amplamente satisfatórios, combinando agricultura e pecuária de subsistência com a atividade extrativista, permitindo a muitas comunidades melhorar sua qualidade de vida sem que isso signifique desmatamento.
Em alguns casos, tais arranjos se conectam a grandes empreendimentos do agronegócio.
Falsa impressão
Mas tais notícias só aparecem pontualmente na imprensa, naqueles cadernos especiais sobre boas práticas na chamada “economia verde”.
A questão ambiental deve ser vista sempre em conjunto com os planos de desenvolvimento, as estratégias de negócio, a garantia de qualidade de vida para todos e, evidentemente, o bom resultado econômico.
O pagamento pelos serviços da natureza é um negócio florescente em muitos lugares, inclusive no Brasil. Mas a imprensa faz parecer que se trata de universos paralelos e inconciliáveis.
(Por Luciano Martins Costa, Observatório da Imprensa, 10/06/2011)