Projetos de construções de barragens e hidrelétricas podem afetar 15 mil famílias no Paraná, um total de 41 unidades geradoras. Outras tantas milhares de pessoas já foram atingidas. Temos o exemplo de Claídes, agricultora. Seu relato emociona e ao mesmo tempo incomoda:
“Somos da geração que não tinha comprado terra, e tudo o que a gente investiu, árvore frutífera que plantou, estava lá. Ninguém queria sair de lá, nós morávamos na barranca do rio, sem agrotóxicos, recebemos indenização e fomos embora, sempre falamos para Eletrosul: o sentimento de saudade jamais vamos indenizar”, relata.
A voz de Claídes foi ouvida durante a Audiência Pública proposta pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), uma das atividades dentro da jornada de lutas do MST (02 a 05 de junho). Realizada no Plenarinho da Assembleia Legislativa do Paraná, as cadeiras estavam repletas de trabalhadores rurais atingidos. As obras nos rios Chopim, Tibagi, Ivaí e Piquiri levam os moradores de suas regiões ao centro do debate.
A audiência se dá no contexto de lançamento nacional da cartilha do MAB, “Violação dos Direitos Humanos na Construção de Barragens”, a partir de documento síntese elaborado pelo Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, que visitou, dentre 70 projetos de hidrelétricas em andamento no Brasil, sete usinas.
Uma das conclusões é de que, nesses locais, houve piora das condições de vida impostas à população local, durante e depois dos projetos, explica Robson Formica, da coordenação estadual do MAB. “Há um modelo e uma política de violações de direitos humanos no Brasil, caso das principais usinas com financiamento do PAC e BNDES”, critica.
Durante a audiência, as conclusões são de que os impactos se assemelham – ou precarizam ainda mais – em comparação às obras características do período militar. O atual modelo de produção de energia continua respondendo à inserção brasileira na divisão internacional do trabalho. “A Amazônia hoje serve para produzir minério”, critica Antonio Goulart, do Sindicato dos Engenheiros do Paraná (Senge), entidade participante da audiência ao lado do MDA, Incra, mandato do deputado estadual Tadeu Veneri, entre outros.
Exportador de energia
O estado do Paraná é um exportador de energia, responsável por 25 por cento da eletricidade do país. Mas é fato que apenas 20 por cento de toda produção da eletricidade em território paranaense é usada de acordo com a demanda da população.
O quadro é de acumulação e concentração energética. Do total do consumo de energia elétrica no Paraná em 2008, segundo dados do IPARDES, os setores eletrointensivos, setor industrial e grandes comércios representam apenas 2 por cento dos estabelecimentos, porém devoram 50 por cento da eletricidade.
“Dessa forma poderíamos fazer o seguinte cálculo: de uma usina que irá produzir 100MW de energia no Paraná, somente 20 por cento (ou 20MW) ficariam no Paraná – o restante da energia seria exportado. Se, da energia consumida no Paraná, 50 por cento é consumida por apenas 2 por cento dos estabelecimentos, significa que apenas 10 MW seriam consumidos pelo povo, ou estariam disponível ao povo do Paraná”, calcula Robson Formica.
Ainda de acordo com o coordenador do MAB, a diferença entre os consumidores livres e os consumidores residenciais (população) por unidade consumidora é de 60.618 vezes. “O que significa que uma grande industrial eletrointensiva no Paraná consome energia capaz de abastecer a população urbana da cidade de Guarapuava, de quase 200 mil habitantes”, explica.
Principais rios com quantidade de projetos e respectivos potenciais
Rio Quantidade de Projetos Potencial em MW
Tibagi 05 1.119,0 MW
Ivaí 08 886,0 MW
Piquiri 16 695,2 MW
Chopim 12 595,0 MW
Iguaçu 01 350,0 MW
(Brasil de Fato, 10/06/2011)