Modelos de produção de energia solar, a construção da usina de Belo Monte e a decisão da Alemanha de fechar suas centrais nucleares foram alguns temas da audiência pública “Energia: Para que e como?”, promovida pela Subcomissão Permanente de Acompanhamento da Rio+20. Os debatedores convidados, mediados pelo senador Cristovam Buarque (PDT-DF), concordaram que o modelo de produção de energia baseado em fontes fósseis (carvão e petróleo) precisa ser substituído por alternativas limpas, destacando a busca de formas eficientes de aproveitamento do sol e de novos paradigmas de produção e consumo de energia.
João de Deus Carvalho, consultor para projetos de energia solar, salientou o interesse crescente pela única matriz energética “100% limpa, 100% abundante e 100% renovável”, destacando os avanços na tecnologia do setor termossolar, o que permite a construção de usinas de custo mais baixo, e o projeto no norte da África que poderá abastecer 20% da demanda de eletricidade da União Européia. No entanto, Carvalho lamentou a falta de planos de energia solar no Brasil e mencionou o Nordeste como uma região favorável a projetos de grande escala.
- Em Belo Monte, serão investidos R$ 30 bilhões, gerando a potência de quatro gigawatts. Para essa mesma potência numa usina termossolar, seriam necessários apenas 20,1 bilhões de reais, sem nenhum dano ambiental ou uso de terras produtivas – argumentou, antes de considerar “utópica” a proposta de redução de demanda de energia.
Produção do desperdício
Neilton Fidelis da Silva, professor da Coppe/UFRJ, classificou a universalização da energia como desafio da cidadania e vetor de desenvolvimento. Defendendo maior produção de bens reutilizáveis, criticou o aumento desnecessário da demanda energética devido à “produção do desperdício”.
- As possibilidades de se ampliar a produção se distorcem quando você consolida uma prática de acento destrutivo e perdulário. As necessidades naturais, sob pressão da necessária ampliação da produção, são constantemente substituídas por necessidades historicamente criadas – alertou.
Neilton também denunciou a assimetria na produção de energia, apontando que 50% se destina a países desenvolvidos, e pediu forte intervenção na produção e no consumo energético.
Momento sombrio
Lembrando fatores como o Código Florestal e o anúncio da expansão do programa nuclear brasileiro, Pedro Henrique Torres, coordenador da Campanha de Clima do Greenpeace, lamentou o “momento sombrio” para o meio ambiente no Brasil e disse ser necessário discutir outro modelo de desenvolvimento aproveitando o potencial limpo do país.
Na avaliação de Torres, o exemplo da Alemanha mostra que “dá para jogar para escanteio” a energia nuclear, mas pediu que o país europeu tenha uma posição coerente e retire seu apoio ao projeto nuclear brasileiro. Pedro Henrique Torres entende que o Brasil não deve repetir o modelo dos países que investiram na dependência de combustíveis fósseis.
- Em dez anos vamos ter a triplicação da exploração do petróleo no Brasil, o que representa dobrar a emissão de gás carbônico no nosso país nos próximos dez anos só com a exploração do petróleo – calculou o ativista, dizendo que o plano pretende fazer do Brasil “uma nova Arábia Saudita”.
Carlos Rittl, Coordenador do Programa Mudanças Climáticas e Energia do WWF, se mostrou preocupado com o impacto da construção de grandes hidrelétricas, especialmente na Amazônia, e com o aumento da presença das termelétricas a carvão nos leilões de energia no Brasil. Sobre este aspecto, Rittl questiona por quanto tempo será mantido no país o padrão de matriz energética predominantemente limpa, e avalia o impacto do acidente de Fukushima, no Japão, na produção de energia nuclear.
- A regulamentação vai ser muito mais severa. As regras para produção de energia nuclear vão ser mais rigorosas e os aspectos de segurança vão implicar em aumento de custos.
(Por Agencia Senado, Correio do Brasil, 09/06/2011)