O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) divulgou recentemente o Special Report on Renewable Energy Sources and Climate Change Mitigation (SRREN), onde mostra que, com cerca de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, as fontes renováveis de energia podem suprir cerca de 80% do consumo mundial nas próximas décadas. Esta é a única forma de superar a economia da energia fóssil (de alto carbono) e fazer a transição para a economia de baixo carbono, capaz de manter a concentração de gases do efeito estufa na atmosfera abaixo das 450 partes por milhão (ppm).
A produção de energias renováveis, em geral, é mais cara do que a produzida pelos combustíveis fósseis. Mas isto acontece devido à não contabilidade do custo da poluição dos gazes liberados pela combustão. Devido à maior concentração de CO2 na atmosfera, a humanidade está arcando com as consequências do aquecimento global e do aumento da acidez dos rios, lagos e oceanos. As metodologias de cálculo do Produto Interno Bruto não levam em conta este passivo.
Se o custo da poluição fosse considerado, as tecnologias de energia renováveis passariam a apresentar vantagens econômicas. Com o apoio governamental elas poderiam apresentar custos competitivos em pouco tempo, na medida em que fosse havendo ganhos de escala e difusão de novos métodos de produção. O relatório do IPCC aponta seis tecnologias renováveis que podem sufrir a demanda energética do mundo: bioenergia, solar, eólica, ondas, geotermal e hídrica.
O Brasil possui vantagens comparativas para a produção em ampla escala de energias renováveis nestas seis áreas. O país já é um dos maiores produtores mundiais de energia hidrelétrica e de biomassa. Mas também pode se tornar um dos maiores produtores nas outras áreas, pois o amplo território e a ampla costa brasileira possui enormes disponibilidades de sol, ventos e ondas.
Se o potencial de energia renovável for aproveitado, o Brasil pode se tornar a “Arábia Saudita” da energia renovável no século XXI. Isto é, pode ser um grande produtor e fornecedor de energia limpa e inesgotável. A região Nordeste, por exemplo, tem pouca disponibilidade de água, mas tem incomensuráveis “reservas” de sol, vento e ondas. Se esta riqueza for aproveitada a região Nordeste do Brasil pode se tornar uma região produtora e exportadora de energia, o que viabilizaria uma grande mudança na sua estrutura produtiva, na capacidade de geração de emprego e na qualidade de vida de sua população.
Produzir energia renovável, barata e limpa é o passaporte para a construção de uma economia verde e com inclusão social. O Brasil possui os recursos naturais para fazer a transição da economia de alto carbono para a economia de baixo carbono. Mas para aproveitar estas vantagens naturais é preciso haver grandes investimentos em ciência e tecnologia e apoio às industrias que vão produzir os equipamentos e gerar os empregos verdes necessários para esta grande transformação.
Áreas que apresentam enormes avanços nos últimos anos são as de energia solar e eólica. Infelizmente o Brasil está muito atrasado nos investimentos em tecnologias nestas áreas. A China já é a lider mundial e pretende ser a grande exportadora mundial de equipamentos na área de energia solar e eólica. Os chineses pretendem ser os líderes desta nova revolução industrial e energética mundial. Por um lado, é bom que um grande país assuma este papel. Mas se o Brasil quiser ser um grande produtor de energias renováveis vai precisar acompanhar esta corrida tecnológica que será um dos aspectos fundamentais para se garantir o bem-estar da população e a sustentabilidade ambiental no século XXI.
Referência: Special Report on Renewable Energy Sources and Climate Change Mitigation (SRREN)
(Por José Eustáquio Diniz Alves, EcoDebate, 09/06/2011)
José Eustáquio Diniz Alves, articulista do EcoDebate é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; expressa seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves{at}yahoo.com.br