Mais de 90% das florestas tropicais, cruciais para o futuro do clima e da biodiversidade, "são mal administradas ou, nem mesmo, são" geridas, considerou a Organização Internacional de Florestas Tropicais, em um relatório publicado nesta terça-feira.
Embora tenham sido registrados avanços, especialmente no Brasil, que abriga 5,3 milhões de quilômetros quadrados de florestas, as perspectivas continuam sombrias, segundo o relatório "Situação da gestão dos bosques tropicais 2011", que inclui 33 países.
A cada ano, "milhões de hectares são usados para a agricultura, pastos e outras atividades não florestais, ou são degradados por causa da exploração florestal operada em um ritmo insustentável ou de caráter ilícito", informou a OIBT.
"As forças que vão no sentido da destruição (dos bosques), como a tendência de elevação dos preços dos alimentos e combustíveis (que tornam mais rentável derrubar florestas do que conservá-las, ndr) podem facilmente vencer o jogo ante os que são favoráveis à conservação", acrescentou o texto.
O futuro destes bosques é decisivo para o clima, pois de 10% a 20% dos gases causadores de efeito estufa, que originam o aquecimento global, são emitidos pelo desmatamento.
Além disso, estes pulmões verdes abrigam 50% das espécies vegetais e animais do planeta.
O estudo revela, no entanto, que as práticas de "gestão durável" progrediram, com 50% mais de superfície que cinco anos atrás (de 36 milhões de hectares a 53 milhões de hectares, ou seja, uma área mais ou menos equivalente à da Tailândia).
Os países que registraram "os avanços mais claros" na direção da gestão sustentável dos bosques nos últimos cinco anos são Brasil, Gabão, Guiana, Malásia e Peru.
O Brasil conseguiu reduzir o ritmo do desmatamento da Amazônia, que havia chegado a 27.000 km2 em 2004. Em 2010, caiu para 6.500 km2.
Mas o grande problema, segundo a OIBT, é que eliminar a floresta a pleno vapor continua sendo a atividade mais rentável.
"A certificação (marca de excelência ecológica e social em troca de boas práticas para preservar a mata, ndr) é um ato voluntário, que custa caro", explicou à AFP Jürgen Blaser, diretor adjunto da Fundação Suíça para o Desenvolvimento e Cooperação Internacional e um dos autores do relatório.
No "mercado da floresta, muitos países, entre os grandes consumidores como China ou Índia, não pedem bosque certificado. É o grande limite deste dispositivo", destacou.
Fica o mecanismo REDD+ (Redução das Emissões causadas pelo Desmatamento e a Degradação das Florestas), adotado formalmente na conferência da ONU sobre o clima em Cancún (México), no fim de 2010.
A ideia é fazer com que países que têm florestas tropicais que evitem cortá-las ou que as administrem de forma sustentável, dando-lhes compensações financeiras.
"O REDD traz promessas consideráveis", disse Duncan Poore, ex-diretor da UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza)" e um dos autores do informe.
Mas a implantação do processo, que está longe de ser finalizado e deixa em aberto muitas interrogações como o da governança, "toma muito tempo", disse Blaser. A "velocidade me preocupa um pouco", confessou.
Outra grande dificuldade: a quem pertence a floresta?
A problemática dos direitos de propriedade, especialmente na África, "afeta os esforços realizados para melhorar a questão dos bosques", destacou o informe, que pede para aplicar um "regime posse fixado de forma transparente, com base nas negociações entre os demandantes".
(Por Claire Snegaroff, AFP, 07/06/2011)