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aracruz/vcp/fibria celulose e papel passivos da silvicultura
2011-06-08 | Tatianaf

Na tentativa de minimizar os impactos econômico, ambiental e social gerados pelos extensos plantios de eucalipto, a ex-Aracruz Celulose (Fibria) publicou, em A Tribuna desse domingo (5), em alusão ao Dia do Meio Ambiente, um caderno especial de doze páginas. Ao contrário do que se registra nos locais onde atua, a empresa vende uma ideia de que a monocultura é sustentável, faz uso consciente dos recursos naturais e tem compromisso com as comunidades do entorno de seus empreendimentos. Escondendo, assim, a intensa degradação ambiental que promove e os conflitos com índios, quilombolas e pequenos produtores rurais.

O farto material apresentado pela transnacional discorre sobre todos os pontos que colocam em xeque a imagem institucional da ex-Aracruz. E tenta justificar, também, a ampliação dos plantios de eucalipto. A previsão é de que a companhia contrate nos próximos anos até dez mil hectares de plantio de eucalipto com produtores rurais do Espírito Santo e sul da Bahia.

O que faz pelo programa Produtor Florestal, citado pela empresa no material publicitário, como “suporte a produtores rurais, pensando em proteger a natureza”. Mas esta nada mais é do que uma maneira encontrada pela ex-Aracruz de terceirizar sua produção de eucalipto, se eximindo de responsabilidades futuras. Atraídos pelas previsões de lucro informadas pela empresa, com o tempo os proprietários que aderiram ao programa ficam devendo à ex-Aracruz, já que o solo deixa de ser produtivo, à medida que as plantações de eucalipto contaminam a terra e os rios e acabam com a biodiversidade. Hoje, o programa abrange 86 mil hectares, em mais de 130 municípios do Espírito Santo, Minas Gerais, Bahia e Rio de Janeiro.

A propaganda da empresa também a coloca como responsável na utilização dos recursos hídricos, contrariando os números que apontam o consumo de água pelas fábricas da transnacional no Estado como três vezes maior do que a população da Grande Vitória, por dia. Da mesma maneira, o caderno especial omite o desvio do Rio Doce para o rio Riacho feito pela empresa para abastecer suas fábricas. Crime ambiental até hoje sem punição. A foz do Rio Doce, que já sofria por desmatamento e esgotamento sanitário e industrial sem tratamento, passou a ficar intermitente em épocas de seca, comprometendo todo o leito.

O desvio do Rio Doce agrava ainda os prejuízos aos pescadores afetados pelo porto controlado pela empresa, o Portocel, que também estampa o caderno especial. Desde a primeira ampliação do porto, o assoreamento do rio Riacho impede a passagem dos barcos, deixando os pescadores dias sem trabalhar. Além disso, as espécies de peixes estão desaparecendo. Problema perdura durante o ano todo, sem que a empresa se comprometa em oferecer projetos de inclusão social, como se gaba a em sua propaganda institucional.

Outro ponto abordado de maneira distorcida pela transnacional é a relação com as comunidades impactadas pelos plantios de eucalipto. O assunto é apontado como uma das prioridades da empresa para garantir a qualidade de vida dos moradores vizinhos às suas plantas. Informação que em nada condiz com o conflito que estabeleceu com índios e quilombolas durante quarenta anos de violações aos direitos humanos, de quem tomou terras ilegalmente, e ainda com pequenos produtores rurais. Essas comunidades vivem ilhadas pelos eucaliptos, sem alternativas de subsistência, sendo constantemente vítimas de violência praticada pela empresa, que muitas vezes culminam com prisões arbitrárias.

Mais uma vez, a transnacional cita o repasse de R$ 1,8 milhão às comunidades indígenas do Estado como uma iniciativa própria, sem dizer que foi obrigada a isso, como etapa do processo no qual foi obrigada a devolver 11.009 hectares de terras que explorou por anos, pertencentes aos Tupinikim e Guarani. Ao todo,  cerca de 40 mil hectares de terras indígenas foram ocupadas pela ex-Aracruz no Estado.

O repasse é parte da verba de R$ 3 milhões tida como indenização aos índios. Valor irrisório, se comparado ao lucro que a empresa teve durante os 40 anos de ocupação e exploração das terras indígenas, aproximadamente R$ 165 milhões. A ex-Aracruz Celulose também é responsável pela ocupação de 50 mil hectares de terras quilombolas no norte do Estado e de terras devolutas que deveriam ser destinadas à reforma agrária.

O caderno especial destaca ainda o que a empresa chama de investimentos de “R$ 15 milhões em proteção ambiental”, igualmente como iniciativa própria. O dinheiro nada mais é, porém, do que a definição das compensações ambientais da poluição que seus projetos geram. Cálculo este com base em no máximo 0,5% do valor total do empreendimento.

A ex-Aracruz mudou seu nome para Fibria há pouco mais de um ano, mas mantém a mesma relação conflituosa com as comunidades tradicionais do Espírito Santo.A empresa que ocupa 650 mil hectares de terras agricultáveis no País, sendo 290 mil hectares – 10 mil em áreas de pequenos proprietários de terra – no Espírito Santo, prevê a construção de uma quarta fábrica de celulose, em 2020.

(Por Manaira Medeiros, Século Diário, 07/06/2011)


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