Os governos das grandes cidades têm em suas mãos a solução de graves desafios ambientais, porque nelas se concentra o maior consumo e descarte de bens e energia. Esta conclusão marcou a quarta cúpula de prefeitos pela mudança climática, organizada, na cidade de São Paulo entre 31 de maio e 3 deste mês, pelo Grupo de Grandes Cidades com Liderança climática (C40). O encontro terminou com a assinatura de um convênio entre os participantes para estabelecer um modelo comum de redução de emissões de gases-estufa e de um acordo com o Banco Mundial para intensificar o financiamento brando de projetos ambientais em áreas urbanas.
As cidades C40 são Adis Abeba, Atenas, Bangcoc, Pequim, Berlim, Bogotá, Buenos Aires, Caracas, Chicago, Daca, Cairo, Istambul, Filadélfia, Hanói, Houston, Hong Kong, Johannesburgo, Carachi, Lagos, Lima, Londres, Los Angeles, Madri, Melbourne, México, Moscou, Mumbai, Nova Délhi, Nova York, Paris, Rio de Janeiro, Roma, São Paulo, Seul, Xangai, Sydney, Tóquio, Toronto, Varsóvia e Jacarta. “Não podemos esperar. Devemos entregar medidas práticas para que as cidades sejam sustentáveis”, disse o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, que preside o C40.
A cada dois anos este grupo se reúne para apresentar e avaliar os resultados de suas ações. A primeira cúpula aconteceu em Londres, em 2005, seguida pelas de Nova York em 2007 e Seul em 2009. Bloomberg celebrou um acordo formal do C40, associado à Fundação Clinton, ao Banco Mundial e à aliança de Governos Locais pela Sustentabilidade (Iclei), “que soma mais de 1.200 administrações municipais”.
Esses atores assinaram um compromisso para elaborar um padrão único de medição de emissões de gases-estufa. “Os critérios comuns facilitam a avaliação de propostas e projetos para conceder financiamento”, explicou o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick. O Grupo Banco Mundial já destinou US$ 15 bilhões a cidades do C40. Outros US$ 5 bilhões foram entregues como empréstimos de longo prazo com taxa de juros de 1% ao ano para criar fundos dedicados a problemas climáticos que, junto a recursos de outras fontes, chegaria a US$ 50 bilhões, dos quais 30% destinados a iniciativas privadas.
As condições para ter acesso a estes fundos variam. A prioridade é o desenvolvimento de infraestrutura e o combate à pobreza. Para facilitar o conhecimento dos mecanismos foi criada uma plataforma que explica as opções existentes no site www.climatefinanceoptions.org. “Queremos facilitadores das mudanças para o caminho certo. Adotem medidas e uma métrica comum para consegui-las e assim poderemos apoiá-los”, disse Zoellick às delegações de 47 cidades presentes na capital paulista.
Embora este apoio “seja fundamental, é importante estudar formas para que as Prefeituras tenham acesso direto a essas linhas de crédito. Se dependermos dos governos federais, isto pode se complicar”, disse ao Terramérica o prefeito da Cidade de Buenos Aires, Mauricio Macri. “Há grandes oportunidades rentáveis em matéria de sustentabilidade. Por exemplo, na eliminação dos aterros sanitários”, disse o ex-presidente Bill Clinton (1993-2001) ao apresentar sua Iniciativa para a China. “Os resíduos orgânicos podem se decompor e gerar energia, como o metano, além da reciclagem de plásticos, madeira e vidro”, disse Clinton.
Os negócios ambientais nunca são vistos como minas de ouro, e por isto recebem pouca atenção dos investidores. No entanto, oferecem um retorno econômico seguro e os termos do compromisso com o Banco Mundial demonstram isso, ressaltou o ex-presidente. Entretanto, reduzir o que contamina e adaptar-se aos efeitos da mudança climática exige grandes investimentos, sobretudo se considerarmos a necessidade de novas tecnologias nas grandes construções.
As cidades também aplicaram medidas simples com bons resultados. Em Melbourne, na Austrália, por exemplo, a Prefeitura oferece transporte gratuito até as sete horas da manhã, para reduzir o uso de automóveis particulares e aproveitar a frota de veículos públicos que fica ociosa nessa faixa horária.
Outra iniciativa apresentada na cúpula é um programa para deixar o carro na garagem uma vez por semana, adotado em Seul, capital da Coreia do Sul. Quem participa coloca um adesivo no carro com o dia escolhido, e um sistema de sensores fiscaliza o cumprimento do compromisso. Em caso afirmativo, o motorista obtém desconto de 5% no imposto sobre veículos e de 8,7% no seguro, além de reduções no preço do combustível e de outros serviços automobilísticos. Se os radares registram o carro circulando por até três vezes nos dias proibidos, estes benefícios são cancelados.
As faixas de circulação exclusiva para ônibus e táxis, ciclovias, recuperação de riachos e rios, plantio de parques lineares entre edifícios e estradas, ampliação das áreas verdes para melhor absorção da chuva e redução do calor, e uso de combustíveis renováveis são técnicas que os anfitriões da cúpula destacaram. O plantio de árvores de acordo com a quantidade de habitantes da cidade é outra ação bastante difundida, que acontece em Adis Abeba. A capital da Etiópia está investindo em florestas urbanas, recuperação de florestas de galeria e renovação de moradias, concentrando-as em complexos de prédios pequenos que liberam espaço para parques e equipamentos urbanos.
Amsterdã conta com seu próprio fundo para projetos climáticos. “Conseguimos muitas coisas, mas quando observamos o conjunto vemos que há muito por fazer”, disse ao Terramérica o prefeito da capital holandesa, Lodewijk Asscher. As cúpulas C40 são espaços de muita troca de experiências, tanto de sucessos quanto de fracassos, e de discussão de metas comuns e individuais. Seul pretende recuperar dez mil prédios antes de 2030, Austin quer atingir a meta de lixo zero em 2040, Londres espera contar com cem mil veículos elétricos até 2020, e Tóquio adota normas de eficiência energética mais rígidas.
(Envolverde, 07/06/2011)