Tanto quanto uma questão ambiental, o uso dos chamados “táxis verdes”, que têm combustíveis menos poluentes, se tornou uma questão social em Lima. Na capital do Peru, de acordo com Tania Zamora, assessora da Prefeitura para assuntos das Mudanças Climáticas, a conversão da gasolina para o gás fez com que a qualidade de vida dos taxistas melhorasse porque, entre outros aspectos, eles têm pago menos para abastecer.
O assunto foi debatido na tarde desta quinta-feira (2) em um painel da C40 São Paulo Summit, encontro que reúne representantes de cidades do mundo para debater meio ambiente.
Segundo Tania, o taxista peruano paga em torno de U$ 2.500 para converter seu carro para gás natural (GNV), que emite 30% a menos de gás carbônico. Como muitos não têm dinheiro, bancos ajudam nesse financiamento e a dívida vai sendo abatida quando ele abastece o carro. O que permite o controle do pagamento e da quantidade de combustível usada é um chip instalado no veículo.
“Cada vez que o taxista vai a uma estação de gás natural para colocar combustível, ele consegue abater a dívida contraída no momento em que fez a conversão. Isso porque a gasolina é mais cara; então sobram créditos”, diz Tania. Se o preço da gasolina, por exemplo, é de R$ 4 o litro e o do gás chega à metade, o motorista do táxi tem R$ 2 de crédito por litro para ir abatendo.
De acordo com Tania, a cidade de Lima, com cerca de 10 milhões de habitantes, tem 200 mil táxis rodando e metade disso usa o gás natural. Se comparado com a capital paulista, onde vivem 11 milhões de pessoas, a frota de táxi é bem menor: 32.800, segundo o Sindicato dos Taxistas Autônomos de São Paulo.
“Tivemos uma melhora na qualidade de vida dos taxistas, que chegavam a trabalhar, 12h e até 16h por dia. Agora, eles trabalham menos e economizam mais. Alguns nem tinham onde dormir e passavam a noite no carro”, diz Tania.
Para ela, em um primeiro momento, os taxistas aderiram ao gás natural por causa do dinheiro. Agora, “têm consciência de que é melhor para o meio ambiente. (A conversão) É uma questão social”, afirma a representante da Prefeitura de Lima na conferência.
Incentivos
Na Cidade do México, o incentivo é para os carros elétricos, um projeto ainda recente. Segundo Fernando Menendez, especialista em meio ambiente, os veículos movidos à energia elétrica chegam a custar 20% menos. Em um slide na conferência, ele mostrou que os taxistas na cidade mexicana rodam aproximadamente 200 km por dia, consumindo gasolina. “E a maioria anda vazia porque fica procurando passageiro.”
Menendez conta que o maior problema enfrentado pela Prefeitura é convencer o motorista a substituir seu carro por outros menos poluente. “Com sete ou dez anos ele deveria ser substituído. Uma forma para tirá-los de circulação é manipular o preço do combustível”, afirma.
Em San Francisco (EUA), o projeto é parecido. Carros elétricos têm isenção em alguns impostos. Dos 1.500 táxis na praça, 78% são flex ou usam o gás natural. De acordo com Johanna Partin, diretora do departamento que cuida de iniciativas de proteção do clima da Prefeitura, os táxis “limpos” recebem um adesivo e têm algumas vantagens, como passar na frente da fila para pegar passageiros em aeroportos.
(Por Carolina Iskandarian, G1 SP, 03/06/2011)