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proteção da vida marinha aquecimento dos oceanos poluição marítima
2011-06-03 | Tatianaf

Lançado no final de 2010, o documentário Oceanos  pode ser considerado um mergulho emocionante nas águas dos oceanos do planeta, explorando a vida e os mistérios marinhos. Neste sábado, 4-06-2011, o filme será exibido no Instituto Humanitas Unisinos – IHU, na última sessão do evento Ciclo de Filmes e Debates: Sociedade Sustentável no Cinema. O debatedor é o professor Paulo Brack. Em entrevista à IHU On-Line, concedida por e-mail, Brack  falou a respeito da relação dos oceanos com os ecossistemas  da Terra e das ameaças que a vida marinha vive hoje. “Creio que o filme retrata a grande contradição entre beleza, exuberância de vida e a destruição real dos processos ecológicos, tanto nos oceanos como em âmbito planetário”, afirmou.

Paulo Brack é biólogo e mestre em Botânica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Obteve o título de doutor em Ecologia e Recursos Naturais pela Universidade Federal de São Carlos, em São Paulo. É professor na Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Qual é a relação dos oceanos com os outros ecossistemas da Terra?

Paulo Brack – Considero que para alguém como eu, que trabalha com a temática ecológica, em especial a biodiversidade, este assunto é por demais importante. O que sabemos é que as enormes massas de água, representadas pelos oceanos, regulam em grande parte o clima do Planeta, bem como o balanço de trocas entre os ambientes dos continentes e os corpos d’água.
 
A temperatura do globo está intimamente ligada a isso. Uma questão a se destacar se refere aos fenômenos como El Niño e La Niña, que estão relacionados ao aquecimento ou não das águas do oceano Pacífico. Quando ocorre um aquecimento fora do normal, como está acontecendo com certa frequência, temos fenômenos associados a chuvas mais torrenciais no sul do Brasil e, inclusive, extensão de épocas mais secas no norte, atingindo a Amazônia, por exemplo.

Também é importante destacar que, segundo os especialistas na matéria, o desencadeamento do ciclo de chuvas na Amazônia oriental tem relação com a formação de nuvens do oceano Atlântico. Depois, em efeito dominó, com ciclos secundários de chuvas e evapotranspiração, parte de nuvens formadas na Amazônia descem até o sul do Brasil. Se a temperatura dos oceanos continuar aumentando, mesmo que ainda a níveis baixos, várias alterações climáticas e ambientais incidirão sobre os continentes.

IHU On-Line – Como os fatores ecológicos se relacionam com a flora e a fauna marítimas?

Paulo Brack – Nos oceanos existe uma enorme estabilidade de fatores, se comparados com ambientes terrícolas. O que pode variar, em grande parte, é a luminosidade, a temperatura das camadas oceânicas ou das latitudes, a salinidade e as correntes marítimas. A luminosidade é o principal fator.

As correntes marinhas afetam também distribuição de muitos organismos. Podemos dizer que as algas marinhas têm papel decisivo na produção de oxigênio (O2) não só do meio aquático como daquele que está sustentando a vida dos ambientes terrícolas.

IHU On-Line – Como a vida nos oceanos é ameaçada e afetada pela degradação ambiental promovida pelos seres humanos?

Paulo Brack – O ser humano, como qualquer outro ser vivo, não é degradador por natureza. O que acontece é que as sociedades humanas hegemônicas, por meio de um processo econômico de acumulação doentia e pelo reflexo de um desvio de comportamento social pandêmico, de origens desconhecidas, acabaram rompendo os ciclos fechados da natureza.

O que se produz na agricultura, por exemplo, tem como base os insumos provindos do petróleo. E este petróleo, da forma e escala que é explorado e utilizado, tem causado enormes problemas desde os vazamentos, como aquele que ocorreu no Golfo do México, no ano passado, com a liberação de mais de 780 milhões de litros de petróleo.

Os contaminantes químicos e orgânicos persistentes, provindos das atividades insustentáveis nos continentes – como aquelas ligadas aos insumos agrícolas (agrotóxicos, nutrientes minerais, etc.) ou pelo consumo orgástico de plásticos pela sociedade de consumo –, estão tornado os oceanos uma verdadeira lixeira. A questão da perda ou “branqueamento” de pelo menos 30% dos recifes de corais está associada ao aumento do CO2 e ao aquecimento global, provocado pelas atividades humanas das sociedades hegemônicas atuais e recentes.

IHU On-Line – Por que o oceano continua inspirando e intrigando tanto as pessoas?

Paulo Brack – A natureza, em todas as suas manifestações, nos inspira sentimentos de ligação com ela. Mas isso acontece com aquelas pessoas que tiveram a oportunidade de ser educadas para tal sentimento.  O que acontece, muitas vezes, é que a sociedade moderna, presidiária dos “shopping centers” e da competitividade de um mundo artificializado ao extremo, está perdendo este vínculo.

Temos que retomar a ligação com os ecossistemas naturais e a paisagem natural como um todo. Retornar à simplicidade. Filmes como o “Oceanos” levantam uma grande sensibilidade por meio de imagens sensacionais que contribuem para isso, inclusive denunciando a situação de descaso para com a natureza. Cabe refletirmos e também rever nossas atitudes que podem contribuir para sua proteção.

IHU On-Line – Fala-se na existência de uma ilha de plástico no Pacífico.  Até que ponto essa informação é verídica? Se o for, o que ela significa para a vida nos oceanos e para a biodiversidade em geral?

Paulo Brack – Esta ilha de plástico não é fato isolado. As nossas zonas costeiras estão ficando abarrotadas dos mais variados resíduos da sociedade de consumo do descartável. O litoral gaúcho é uma imagem disso. Muitos golfinhos, peixes, tartarugas e outros animais acabam morrendo da ingestão acidental deste plástico.

O problema ecológico sistêmico está aí para não ser mais escondido daqueles (o poder do sistema atual de produção e consumo ilimitado) que querem que não apareça. As ilhas de plástico, a subida dos oceanos já constatada (entre 10 a 20 cm), o aumento do CO2 e da temperatura do planeta, além dos eventos climáticos extremos, são elementos do conjunto de sinais que já estamos batendo no teto da capacidade de suporte desta civilização que está em esgotamento crescente.

IHU On-Line – Quais são os aspectos mais interessantes apresentado pelo filme Oceanos? Gostaria de acrescentar algum aspecto não questionado?

Paulo Brack – Creio que o filme retrata a grande contradição entre beleza, exuberância de vida e a destruição real dos processos ecológicos, tanto nos oceanos como em âmbito planetário. São filmes que deveriam instigar a necessidade de uma verdadeira mudança de paradigma, onde a vida diversa em todos os cantos da Terra deveria ser respeitada e protegida. Isto tudo a partir da nossa rejeição ao modelo de esgotamento atual. Ainda temos tempo de estancar, rever e reverter um pouco este processo.

(IHU-Unisinos, 03/06/2011)


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