Nem todas as novas tecnologias, por mais inovadoras que pareçam, resistem aos testes do tempo. O desastre nuclear no Japão, em março deste ano, forçou à reanálise da opção nuclear no mundo todo. Já os acidentes de Three Mile Island, nos EUA, em 1979 e de Tchernobil, na Ucrânia, em 1986 haviam praticamente paralisado a expansão nuclear após 1990.
As razões para tal são complexas, mas se devem principalmente ao fato de a energia nuclear ter se tornado muito cara comparada com outras opções e ao fato de que populações de vários países decidiram não correr os riscos de acidentes nucleares-causados não apenas por terremotos e tsunamis.
Acidentes nucleares, quando ocorrem, podem provocar um número pequeno de mortes, como diz a indústria nuclear, mas a radiação atinge grandes populações e provoca danos fatais. Esse é um risco diferente do que é assumido em uma mina de carvão. A população que vive nas imediações de reatores como Fukushima não é coberta por seguros. Está sujeita a ser vítima involuntária de danos que podem causar sofrimento e morte por anos após o acidente.
Por essa razões, os custos e riscos da energia nuclear estão sendo reavaliados. A Alemanha, onde 22% da eletricidade se origina da energia nuclear, já decidiu desativar seus 17 reatores até 2022. Suíça e Bélgica tomaram a mesma decisão. O Japão já eliminou seus planos de expansão. Nos EUA, o início da construção de dois reatores foi cancelado. Isso significa maior esforço para gerar eletricidade com fontes renováveis ou utilizá-la de maneira mais eficiente, o que não só é possível como é economicamente atraente.
A decisão da Alemanha – mais radical do que o esperado – terá consequências importantes no resto do mundo, principalmente nos países em desenvolvimento. O governo brasileiro anunciou que reavaliará a segurança dos reatores no País e dos planos de expansão. Esperamos que o faça logo e siga o que o bom senso indica.
Não há razão nenhuma para que um País como o nosso, com amplos recursos hidrelétricos e biomassa, se coloque na contramão do que ocorre no mundo e invista recursos desproporcionais numa opção tecnológica que talvez não sobreviva.
*José Goldemberg é professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP.
(Folha de S.Paulo, EcoDebate, 01/06/2011)