É preciso investir de forma permanente em novas tecnologias para melhorar a qualidade da água consumida em Porto Alegre que, de maneira geral, é boa. Essa foi a ideia central apresentada ontem pela manhã na Comissão de Saúde e Meio Ambiente (Cosmam), da Câmara Municipal, por especialistas da Universidade e de órgãos municipais e estaduais.
O público reduzido presente à reunião proposta pelo vereador Thiago Duarte (PDT), contrastou com a importante contribuição do professor Antônio Benetti, do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da UFRGS, que falou sobre os perigos dos poluentes e os principais desafios para manter uma boa qualidade da água.
Segundo ele, o controle da transmissão de doenças por microrganismos patogênicos continua sendo o objetivo principal do tratamento da água. “Deve-se ter atenção especial com as cianobactérias, um conjunto de microrganismos que produzem toxinas e causam gosto e odor e são difíceis de controlar”, ensina Benetti. Ele adverte que, por ser um manancial desprotegido, o Guaíba enfrentará por um bom tempo esse que é um dos principais problemas do lago que abastece a capital.
Benetti lembrou dos episódios ocorridos em 2005 e 2006, que deixaram a água com a cor verde. “São organismos que provocam fotossíntese, mesmo não sendo algas nem plânctons, por exemplo.” De acordo com o professor, alguns desses compostos, alteram a atividade endócrina em peixes e suas funções sexuais. “São chamados perturbadores endócrinos como surfactantes. São analgésicos e hormônios sexuais, que acabam chegando aos mananciais”, exemplificou.
Outro contaminante altamente cancerígeno é o arsênico, segundo o especialista do IPH da UFRGS. Está presente nos poços artesianos e em resíduos de fertilizantes e na decomposição dos excrementos de animais criados em confinamento, como porcos, bovinos, ovinos e eqüinos. Esses materiais mais cedo ou mais tarde atingem mananciais e bacias hidrográficas. Ainda não foi detectado no Rio Grande do Sul.
O professor Benetti ainda criticou o alto consumo de água engarrafada no Brasil, que ocupa hoje a quarta posição entre os maiores consumidores. De 1997 a 2009, o país passou de 3,9 bilhões para 16,1 bilhões de litros consumidos, representando um crescimento de 310%. “É preciso mostrar que um terço da garrafinha de água é petróleo, a energia que se utilizou para produzi-la. O custo energético para se produzir um litro de água engarrafada é mil vezes maior que o custo empregado no tratamento da água da torneira”, explica.
Tecnologias avançadas
A diretora substituta da Divisão de Tratamento do DMAE, Sissi Maria Cabral, detalhou o trabalho desenvolvido pelo órgão municipal com a água proveniente do lago Guaíba. Munida de fotos em que mostram instalações e equipamentos antes e depois dos investimentos feitos, Sissi ressaltou que um dos motivos para a melhora da água em Porto Alegre foi a substituição de equipamentos e produtos químicos antigos por sistemas de última geração, permitindo eliminar e tratar preventivamente as infestações por mexilhão dourado nas tubulações, que estavam entupidas pela presença do parasita.
Também participaram da reunião o vice-prersidente do Comitê da Bacia do Gravataí, Maurício Colombo, que falou sobre planos e diagnósticos para o Gravataí, que é um dos 25 comitês da Bacia Hidrográfica do Guaíba, o vereador Carlos Todeschini, ex-diretor geral do DMAE, e representantes da Secretaria Estadual da Saúde, dos órgãos da Vigilância Sanitária do município e do estado, SMAM, SMIC e SMOV.
(Jornal JÁ, 01/06/2011)