Hoje, por volta das 8 horas da manhã, os representantes do agronegócio se dirigiram ao hotel Macksoud Plaza, no centro de São Paulo, para participar do ‘XXI Fórum da Associação Brasileira de Agricultura (Abag)’. Na pauta de discussão, o projeto de mudança do Código Florestal aprovado na semana passada pela Câmara Federal.
Na chegada, foram recepcionados por ativistas do Greenpeace com uma faixa que rebatizou o evento como ‘Forum dos donos da motosserra’. A manifestação teve como “música de fundo” o ronco de uma motosserra . “A Abag nunca escondeu a saudade do tempo em que a agricultura podia se expandir simplesmente avançando sobre área de floresta”, diz Marcio Astrini, da campanha Amazônia do Greenpeace.
Daí a simpatia aberta da entidade pelo projeto de mudança no código, que pelos cálculos do professor Gerd Sparovek, da Escola Superior de Agricultura da USP (Esalq/ USP), colocam sob risco direto de derrubada 22 milhões de hectares de mata nativa, uma área do tamanho do Paraná. Os números estão em reportagem da edição de domingo, 29 de maio, de O Estado de S. Paulo.
Entre seus membros, a Abag tem empresas que apoiam essa visão de uma agricultura ultrapassada, argumentando que as mudanças no Código Florestal, que abrem a possibilidade para mais desmatamentos e anistia crimes ambientais do passado, são necessários para o desenvolvimento do país. Fazem coro com a fisiologia de políticos que dizem que, se os europeus desmataram tudo por lá, podemos fazer o mesmo aqui. Para eles, o correto é copiar o erro dos outros e jogar nosso patrimônio ambiental na lata do lixo.
A revista Época, há duas semanas, contou que os Estados Unidos cortaram 23% de suas florestas nativas desde que colonos ingleses começaram a plantar e criar gado em seu atual território, no século XVI. O último ano em que os americanos derrubaram uma árvore em nome do avanço da agricultura foi em 1935. De lá para cá, a área agricultável do país até caiu. “E nem por isso os americanos, como nós, deixaram de virar uma potência agrícola mundial”, diz Astrini.
Aqui, já deu-se cabo de quase 20% da floresta Amazônica – sem contar o que se foi da Mata Atlântica e do Cerrado. Mas existe um setor atrasado na Abag que parece não achar isso suficiente. Insiste que o volume da derrubada de florestas para abrigar pastos e plantações precisa ser ampliado, como propõe o projeto de reforma do Código Florestal, que ainda precisa passar pela aprovação do Senado. É uma pena que na entidade muitos de seus associados se comportem dessa maneira.
“Dentro do próprio setor há experiências de como a retirada da mancha do desmatamento da cadeia de um produto agrícola traz vantagens competitivas”, insiste Astrini. A moratória da soja na Amazônia negociada pelo Greenpeace em conjunto com diversas ONG´s e pactuada pelo governo e as grandes processadoras de soja que atuam no país é um exemplo disso. As empresas se comprometeram, em 2006, a não comprar soja plantada em desmatamentos feitos a partir daquele ano. O resultado foi bom para a floresta e para os negócios.
“A expansão da safra não ficou comprometida pelo acordo e atendeu a demanda de consumidores daqui e do resto do mundo por produtos comprometidos com a proteção das matas. O Brasil não perdeu nada com isso, como mostram dados da produção de soja no Pará compilados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab)”, diz Astrini. “Quem defende o texto do jeito que foi aprovado na Câmara dos Deputados, compactua com o desmatamento, não com a produção de alimentos.”
A safra de soja do estado para 2010/ 2011, deverá ficar em 232.249 toneladas, um ganho de quase 7% em relação à safra anterior. A área plantada com o grão, no entanto, não acompanhou o crescimento. Ficou nos mesmos 90 mil hectares que tinha em 2009/2010. Preservar as florestas brasileiras faz todo o sentido do ponto de vista econômico e social. Não foi por pressão ambientalista que o verde da Amazônia, da Mata Atlântica ou do Pantanal acabou estampado na bandeira nacional.
Nossas florestas são há cinco séculos a fonte da riqueza do nosso solo e da força dos nossos rios. Protegê-las, é proteger o futuro da nossa agricultura e o bem estar da população. Elas são a garantia que nossos filhos e seus descendentes também terão comida farta na mesa e o mesmo clima que, como disse Jorge Ben Jor, faz do Brasil um país bonito por natureza.
(Greenpeace Brasil, 30/05/2011)